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Análise: CrossCode (Switch) imerge o jogador em uma aventura muito bem executada

O RPG de ação indie brilha ao capturar a essência de um MMO dentro de um jogo single-player

Dentro da grande leva de jogos indies que foram portados para o Nintendo Switch, CrossCode se destaca como um dos títulos mais elogiados pela mídia. O RPG de ação desenvolvido pela Radical Fish Games e lançado originalmente em 2015 para PCs não é muito conhecido em comparação com outros indies de sucesso do mesmo ano.

Com a chegada do título ao console híbrido da Nintendo, CrossCode ganha uma nova chance de conquistar atenção das massas ao apresentar uma versão com muito mais conteúdo do que em seu lançamento original. Dito isto, resta saber se o título tem a qualidade que é necessária para bater de frente com os principais indies disponíveis no Switch.

Dentro de um jogo

Já imaginou como seria entrar dentro de um MMORPG na vida real? Dezenas de histórias já abordaram essa temática ao longo dos últimos anos, porém a trama de CrossCode segue sendo uma das histórias melhor executadas dentro do tema. Na premissa, Lea é uma jovem garota que acorda sem memórias dentro de Crossworlds, um MMO futurístico que transporta os seus jogadores para um mundo de realidade virtual que beira ao real.

Além de não lembrar mais nada sobre seu passado e a sua vida pessoal, a protagonista se encontra incapaz de se comunicar por voz graças a um bug do jogo. Ao longo do jogo, Lea é auxiliada pela voz de um simpático homem conhecido como Sergey Asimov, que está se comunicando com ela através de um computador na vida real. De acordo com ele, fazer progresso na campanha do jogo seria a maneira mais fácil de recuperar as memórias da garota.
Apesar da história focar na campanha do MMO na maior parte do tempo, os primeiros minutos do jogo já fazem questão de deixar claro que existe um mistério muito maior acontecendo dentro daquele jogo aparentemente inofensivo. Dessa forma, a história é dividida em duas partes: a lore do MMO e o mistério por trás do passado da Lea.

Embora seja intencionalmente simples e clichê, a história do segmento MMO apresenta uma construção de mundo bem trabalhada com conceitos e uma lore que definitivamente não precisava ser tão interessante, considerando algo que não é o principal foco da jornada. No entanto, assim como em um “MMO de verdade”, a melhor parte do mundo de CrossCode está nos amigos e as experiências que você pode passar junto com eles durante o jogo.

A relação de amizade entre Lea e os jogadores que ela conhece durante a jornada são elementos essenciais para o ótimo desenvolvimento da protagonista e o mistério que seu passado esconde. Cada amigo que entra na sua party conta com uma personalidade carismática, além de oferecer uma companhia agradável que contrasta muito bem com o silêncio da protagonista. A imersão é tanta que eles realmente parecem amigos que você poderia fazer enquanto joga um MMO de verdade.

Apesar de ser explicitamente baseado na experiência de jogar um MMO com amigos, CrossCode ainda continua sendo um RPG de ação com campanha exclusivamente single-player. Dito isto, todos as mecânicas aqui presentes fazem um trabalho excepcional de adaptar o feeling de um MMO dentro de um jogo para apenas um jogador. A imersão proporcionada é tão impressionante que você só lembrará que os amigos de Lea dentro do jogo são “pessoas reais” naquele universo quando eles precisarem se desconectar para resolver assuntos em suas vidas pessoais.


O músculo e o cérebro

Frenético, dinâmico e viciante: o combate de CrossCode é tão divertido que eu me encontrei diversas vezes ficando acima do level recomendado de tanto gostar de lutar com cada inimigo que via pela frente. A gama de golpes disponíveis no início é bem simples, mas ao mesmo tempo também permite embates dinâmicos que dificilmente enjoam depois de horas de jogo.

No nível mais básico, é possível dar uma sequência de espadadas a curta distância, um disparo de esferas a longa distância, um escudo e dois dashs seguidos. Conforme o jogador progride na jornada, novas habilidades e mecânicas são introduzidas para trazer mais complexidade e dinamismo nas lutas. Some isto ao fato de existirem diversos tipos de inimigos e chefes com mecânicas criativas e com padrões de ataque extremamente divertidos de se enfrentar.

Além dos equipamentos e das armas, também existe um Sphere Grid que libera habilidades passivas, boosts no status e golpes especiais em troca de pontos que você adquire ao subir de nível. Dependendo da sua build, é possível customizar o seu personagem de acordo com a sua preferência ao combate: corpo-a-corpo ou a longa distância.

Outro aspecto que traz dinamismo ao combate são os quatro elementos da natureza que podem ser acoplados na sua arma e alternados em tempo real durante a batalha. Cada um desses elementos traz um Sphere Grid próprio com uma gama de habilidades exclusivas e particularidades únicas no seu ataque básico. Além do combate, os ataques elementais são utilizados com maestria nos puzzles e na exploração do jogo.



Por falar em Puzzles, é preciso ressaltar também que eles compõem uma parte integral de Crosscode, especialmente dentro das famigeradas dungeons. No geral, os quebras-cabeças encontrados nestas masmorras são extremamente bem pensados, intuitivos e trabalhados de acordo com as possibilidades oferecidas pelos disparos elementais. Dito isto, o level design das dungeons é excelente a ponto de ser justo compará-los com os templos mais icônicos dos jogos 2D da série Zelda.

Apesar disso, uma certa masmorra na metade da aventura se alonga demais e pode acabar enjoando o jogador com a introdução de uma extensa sequência de puzzles complexos sem pausa para descansar. Felizmente, o caso é uma exceção, pois na maior parte do tempo o jogo sabe equilibrar os seus momentos de ação frenética com os puzzles de maneira bem eficaz.

É importante mencionar que a dificuldade geral do jogo é um pouco acima da média. Existem certos confrontos e puzzles complexos ao ponto de exigir uma capacidade de raciocínio e execução com potencial para deixar alguns jogadores casuais encalhados na aventura. Felizmente a Radical Fish Games compensou isso de forma maestral ao implementar três opções de acessibilidade que podem ser habilitadas a qualquer momento nas opções do jogo.

Duas dessas opções são dedicadas a diminuir a escala de dano e a frequência de ataque dos inimigos, enquanto a terceira diminui a velocidade que as coisas acontecem durante os puzzles. Esta última, em especial, é extremamente útil para não se irritar com a restrição limitada de tempo exigida por alguns puzzles avançados. Neste caso, a existência desse tipo de auxílio permite que cada tipo de jogador possa regular o desafio no quesito onde ele mais encontrar dificuldade, a fim de tornar a experiência mais agradável para todos os gostos.


Dificuldades na performance

Dotado de sprites no estilo 16-Bits e uma perspectiva de câmera isométrica, a apresentação visual de CrossCode é um prato cheio para os jogadores mais nostálgicos. As animações dos personagens e os efeitos gráficos presentes nos cenários e batalhas são expressivos, dinâmicos e bastante agradáveis pela sua simplicidade. A qualidade das músicas no geral é boa e elas cumprem muito bem o seu papel, mas não há uma peça individual que realmente se destaque ou que seja muito marcante.

A câmera isométrica é decente, mas apresenta alguns problemas de profundidade bem recorrentes que certamente vão te fazer errar muitos pulos durante as sessões de exploração. Parando para dar uma olhada com calma, ainda é possível distinguir um pouco melhor a perspectiva das coisas em relação ao protagonista, mas obrigar o jogador a fazer isso toda vez que quer realizar um pulo definitivamente não é algo bom.

A performance de CrossCode do Switch é funcional, mas deixa algumas coisas a desejar. Começando pela queda aleatória de framerate em alguns momentos durante a aventura. Este problema é facilmente perceptível aos olhos de qualquer um, se mostrando muito irritante quando acontece em circunstâncias onde só aparece o seu personagem na tela ou em lutas com muitos personagens, efeitos e golpes aparecendo ao mesmo tempo.

O jogo também apresenta outras problemas menores em relação a performance, como por exemplo quando você muda do modo portátil para o Dock: o enquadramento da tela do jogo não acompanha o aumento na tela de visão que é necessário para se adequar a tela da sua TV.

Um jogo que merece a sua atenção

CrossCode é uma mistura bem executada de uma história interessante, um mundo carismático, personagens cativantes, um sistema de combate viciante e puzzles criativos em um jogo que visivelmente foi feito com o coração. Portanto, se você se interessou, saiba que vale muito a pena tentar pegar a edição física especial que já está disponível para pré-venda no site oficial do título

Com ainda mais atualizações previstas para expandir o seu conteúdo no futuro, o RPG de ação da Radical Fish Games se prova como uma grande pérola feita com dedicação que merece todo o tipo de reconhecimento possível.

Prós:

  • Combate viciante;
  • Puzzles desafiadores;
  • Captura a vibe de um MMO com perfeição;
  • História bem desenvolvida;
  • Personagens cativantes.

Contras:

  • Queda de framerate;
  • Perspectiva de câmera problemática;
  • Uma certa dungeon se alonga demais;
  • Problemas de performance.

Crosscode — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Icaro Sousa
A edição física de CrossCode já está disponível para pré-compra
Análise produzida com cópia digital cedida pela Deck13

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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