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Análise: The Almost Gone (Switch) aborda temas interessantes, embora peque na história

O título indie aposta em temas pouco explorados e bons puzzles, no entanto, a história deixa a desejar.



Quando li a sinopse de The Almost Gone, jogo desenvolvido pela Happy Volcano e publicado pela PlayDigious, fiquei fascinada pelos temas abordados. É difícil, hoje em dia, encontrar jogos que tratem sobre morte, abuso e transtornos mentais, então, neste aspecto, o título em questão é um achado raro.


Outro ponto positivo de The Almost Gone é ser um puzzle no estilo point-and-click que coloca em ação a capacidade lógica do jogador, principalmente por cada cenário ser um pequeno diorama e necessitar de uma exploração minuciosa. No entanto, o jogo apresenta dois grandes problemas: afasta pessoas que não estão acostumadas ou não demonstram tanto interesse pelo gênero, e os temas abordados, embora completos em cada ato, não se concluem satisfatoriamente, deixando um grande rombo na história como um todo.

Imersivo e sensível

Quando a tela de aviso é mostrada, já fica claro que The Almost Gone pode ser desconfortável para alguns jogadores. Sem entrar em muitos detalhes para evitar potenciais spoilers, o primeiro ato do jogo aborda divórcio, algo que presenciei em minha vida. Partindo desse exemplo, não nego que me senti bastante mexida e tocada, mas isso não me impediu de continuar o jogo. Friso, no entanto, que experiências são únicas e individuais, logo variam de pessoa para pessoa.

Contudo, a sensação descrita acima não foi intrusiva. A narrativa introduz os temas de maneira natural e sem pressão alguma: eles não são simplesmente arremessados ao jogador como uma bomba prestes a explodir, mas sim trabalhados de maneira gradual. Ou seja, existe toda uma preparação de terreno para que tais abordagens façam parte da história.

Sob a ótica da personagem principal, são tecidos comentários, alguns até um tanto quanto sarcásticos, a respeito das situações em que ela se encontra. É também por meio dessa protagonista sem rosto que o jogador tenta desvendar os mistérios por trás de cada ato, resolvendo quebra-cabeças inteligentes e bem elaborados.
Se assaltantes invadem um local, é meio contraditório não haver roubo.


Outro ponto positivo de The Almost Gone são os efeitos sonoros. Testei jogar tanto sem e com fones de ouvido, sendo a segunda opção a recomendada pela desenvolvedora, e preciso admitir que a imersão é totalmente diferente quando você se isola do mundo externo e pode ter a atenção totalmente voltada ao universo criado pela Happy Volcano.

Um jogo com demografia específica

Conforme mencionado anteriormente, The Almost Gone é bastante específico. Por mais que seja um puzzle no estilo point-and-click, o simples fato de os cenários serem pequenos dioramas faz com que a exploração seja constante, rotacionando-os e clicando em tudo o que for permitido, a fim de encontrar pistas para solucionar os enigmas. E deixo aqui um aviso: pessoas claustrofóbicas podem se sentir desconfortáveis em certos atos, já que o espaço visual é bastante limitado e isométrico.

Os quebra-cabeças também são outro fator não necessariamente limitante, mas talvez discrepante. Alguns possuem respostas óbvias, enquanto outros demandam maior atenção aos detalhes; devido a isso, The Almost Gone pode chegar a ser irritante para alguns. Não consigo considerar os enigmas extremamente difíceis, mas, com o perdão do trocadilho, muitos são de rachar a cuca. Porém, como já foi apontado antes, é algo que varia de jogador para jogador e, obviamente, quem já estiver acostumado com o gênero não terá muitos problemas durante a jogatina.
Uma das dicas para resolver um puzzle no primeiro ato.

Muitos temas, nenhuma conclusão

Talvez este seja o maior problema de The Almost Gone: muitos temas são abordados, mas não se conectam tão bem entre si. Existe, sim, um elo entre eles, mas a impressão que tive ao longo da história é de estar lendo um livro cujos capítulos são concluídos individualmente.

Infelizmente, o roteiro, no geral, é desenvolvido de maneira muito simplória. A abordagem dos assuntos é excelente, porém caímos no veredito de que muito nem sempre é sinônimo de qualidade. Talvez focar em um ou dois temas tivesse resultado em uma história mais concisa.
Mesmo pequenos comentários são capazes de indicar a temática do jogo.

The Almost Gone, no entanto, se arrisca em uma área pouco explorada até mesmo por outras produtoras indie, permitindo ao jogador experimentar sensações únicas. É, sintetizando, uma rica viagem pelo subconsciente humano.

Prós

  • Narrativa imersiva;
  • Temas pouco explorados em outros jogos;
  • Puzzles bem elaborados.

Contras

  • História sem conclusão;
  • Demografia específica;
  • Assuntos abordados delicados, desconfortáveis para pessoas mais sensíveis.
The Almost Gone ー PC/Switch/Android/iOS ー Nota 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayDigious

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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