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Análise: Samurai Jack: Battle Through Time (Switch) é uma viagem ao passado

O lendário espadachim retorna aos videogames em sua melhor forma e, apesar do level design datado, é uma carta de amor aos fãs da série animada.

Adaptações da cultura pop para os videogames geralmente deixam a desejar. Muitos devem se lembrar dos casos mais conhecidos da história, que ficaram famosos pela sua mediocridade: E.T. (Atari 2600) e Superman 64 (N64). Samurai Jack: Battle Through Time (Switch) consegue ser uma exceção à regra, mas por muito pouco. Desenvolvido pela Soleil e publicado pela Adult Swim, o título foi supervisionado pelos artistas do desenho para garantir que a qualidade do game ficasse à altura da animação.


O jogo ficou bem fiel ao universo de Samurai Jack e as cutscenes em 2D são um show de qualidade. Como um fã de longa data da série, posso dizer que fiquei satisfeito com o resultado final, mas com algumas ressalvas em relação à jogabilidade e algumas decisões de level design que tornam o gameplay um pouco maçante. No geral, é a experiência que qualquer fã do personagem sempre sonhou em viver em um videogame.

A odisseia de um samurai

Construído como uma expansão da série animada, o enredo de Battle Through Time cria uma nova história sem alterar o curso dos acontecimentos originais. Durante uma batalha mortal contra o Aku, Jack e Ashi fogem por um portal mágico. Nessa viagem, os dois são perseguidos e atacados pelo vilão, que atinge Jack e faz o herói se perder no espaço-tempo. O samurai acaba caindo em uma dimensão alternativa, onde os amigos do protagonista estão enfeitiçados por amuletos mágicos de Aku.

Para voltar ao mundo real e finalmente derrotar o demônio, Jack terá que destruir todos os amuletos. Durante o gameplay, a narrativa é mais confusa do que precisava ser, principalmente por não apresentar muitos detalhes sobre o que está acontecendo. De qualquer forma, a história é bem dispensável, já que ela não compromete o desfecho do desenho original e também não possui tanta profundidade para envolver o jogador.


A ausência de lógica nos acontecimentos da trama fazem com que cada fase se pareça um sonho maluco e desconexo, que muda de direção a todo momento. Talvez essa falta de sentido seja proposital, já que Genndy Tartakovsky, criador da série animada, disse em entrevista que a elaboração de um game sobre o universo do samurai não poderia interferir nos eventos finais da quinta temporada do programa.

Todavia, o enredo deficiente não tira o brilho da aventura, porque a sua principal proposta não é ser uma experiência narrativa e sim um smash button com muito dinamismo. Além disso, a trilha sonora compensa essa falha e pode até ser comparada a um tempero exótico que salva aquela receita esquisita. Todas as músicas conseguem transmitir com sucesso o feeling do Japão feudal e tornam os momentos de ação mais tensos, causando uma grande imersão na hora das batalhas.

O capricho em desenvolver cada estágio de forma singular é um ponto alto de Samurai Jack: Battle Through Time. Todos os episódios são excepcionais e bem produzidos, além de conterem detalhes que incentivam a exploração sem forçar a barra, como passagens secretas e coletáveis escondidos. As áreas são ricas em detalhes e a maior parte desses cenários são destrutíveis, tornando a exploração mais imersiva e aumentando o valor da experiência como um todo.

Não há nenhum mapa ou indicador de objetivo, no entanto adicionaram o recurso de “foco” (pressionando o botão menos), que mostra qual a direção deve ser seguida para concluir o capítulo. Essa funcionalidade foi perfeitamente adequada para ajudar o jogador a não ficar perdido e ainda economiza espaço na tela, valorizando ainda mais a beleza e os detalhes do cenário.

O desenvolvimento de um guerreiro

Ao assumir o controle de Jack, o jogador evolui junto com o personagem e se torna um verdadeiro guerreiro espadachim durante a aventura. Clássico do gênero hack and slash, um sistema de evolução de personagem está presente em Battle Through Time. Para melhorar as habilidades do samurai é preciso obter pontos de melhoria, que se chamam Habilidades de Fogo e Bushido. Esses itens podem ser obtidos após derrotar inimigos, em baús secretos ou destruindo partes do cenário, como caixas e vasos.

Há três segmentos disponíveis para melhorar: habilidades de combate, que aumenta a quantidade de combos disponíveis; físicas, que permite aprender pulos maiores, aumento de vitalidade e resistência; e espirituais, que aumenta a probabilidade de ganhar mais pontos de melhoria após derrotar inimigos.

Há uma boa quantidade de combos disponíveis para aprender, eu diria que até mais do que o necessário. Mas isso de forma alguma chega a ser um ponto negativo, afinal é melhor sobrar do que faltar. Em um jogo de ação e aventura, ter diversas formas de destroçar os seus inimigos é mais do que perfeito, mas lamentavelmente é muito difícil desbloquear novas habilidades devido ao enorme custo de pontos que elas demandam. Até o treinamento do Da Samurai, que aumenta o nível da espada, custa muitas moedas.

Além da espada mágica, Jack pode equipar outros tipos de armas, como foices, lanças e até mesmo os punhos. Ainda é possível usar armas de longo alcance, como facas, shurikens, arco e flechas (que podem ser normais ou explosivas). Cada arma de combate corporal possui combos desbloqueáveis, por isso é importante coletar o máximo de Habilidades de Fogo e Bushido para desbloquear a maior quantidade de golpes possível.


Combater, bater e bater

É possível perceber, logo nos primeiros minutos de jogatina, que o combate de Samurai Jack: Battle Through Time é bem estruturado. Ao contrário do que aparenta, as lutas não são tão simplistas quanto o visual do game. Alguns dos elementos mais importantes nos jogos de ação estão presentes no título: ataque rápido, ataque forte, defesa, esquiva, rebater, combos no chão e combos aéreos. Esses elementos tornam a jogabilidade um pouco parecida com os Devil May Cry clássicos.

Os diferentes tipos de inimigos são derrotados com mais facilidade por certos tipos de armas, por exemplo, os monstros de pedra tomam dano extra ao serem atingidos com uma maça. É importante prestar atenção aos padrões dos adversários, porque com exceção de um ou outro NPC, o jogo não ensina para o jogador as fraquezas e vantagens dos oponentes.

Infelizmente não existem muitos tipos de inimigos, o que pode tornar os combates um pouco repetitivos. Ainda mais porque não são raras as vezes que você terá que enfrentar hordas dos mesmos tipos de monstros. Nas primeiras horas de gameplay, isso não será um problema, mas nos últimos estágios você provavelmente estará implorando para que aquele trigésimo besouro metálico seja o último monstro.

O problema não é ter que derrotar grandes quantidades de inimigos, mas sim a repetição dos mesmos. A inteligência artificial deles pode tornar tudo mais maçante ainda, porque quando os ataques não são muito previsíveis, todos os monstros decidem te bater ao mesmo tempo — e isso não é a definição de desafio. Parece que a Soleil não teve muito tempo para programar os padrões de ataque das criaturas e teve que adotar esse caminho para dar dificuldade ao título.


Em suma, os combates são muito bonitos de ver, mas após algum tempo tornam-se enfadonhos de participar. Obrigar o jogador a enfrentar hordas dos mesmos inimigos para poder prosseguir pode tornar a jogatina frustrante e os adversários não sofrerem nenhum impacto ao tomar um golpe torna o combate corpo a corpo quase inviável em vários momentos. O que é uma pena, porque acaba sufocando o complexo sistema de evolução de personagem e a quantidade de golpes que existe no jogo.

Além da aventura

Após concluir o último capítulo, o modo Missões é liberado e são oferecidos inúmeros desafios. As opções de armas são limitadas e itens de cura não são permitidos durante as batalhas. Em muitas missões será permitido o uso de apenas um tipo de arma até o final. O sucesso destas condições resulta em recompensas adicionais e novas tarefas.

Existem três tipos de missões, com diferentes objetivos: livre, para derrotar hordas de inimigos; chefes, para enfrentar quatro inimigos poderosos dentro do limite de tempo; e missão sem fim, que como o nome sugere, são infinitas hordas de inimigos para aniquilar. Este último só pode ser desbloqueado após concluir todas as fases na dificuldade mais alta.

Em meio a erros e acertos, Samurai Jack: Battle Through Time é uma aventura sólida, que consegue traduzir a essência da série animada de forma nunca antes vista nos videogames. O level design datado não ofusca o ótimo trabalho feito pela Soleil junto com o Adult Swim. O sistema de combate diversificado e os elementos de arte tornam o título mais do que recomendado para os fãs do desenho e para quem curte jogos de ação.

Prós

  • Estilo de arte sensacional;
  • Trilha sonora ótima;
  • Fiel ao desenho animado;
  • Bons momentos de ação.

Contras

  • História possui pouco apelo;
  • Dificuldade arcaica para evoluir o personagem;
  • Inteligência artificial dos inimigos é demasiadamente agressiva.
Samurai Jack: Battle Through Time — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Icaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Adult Swim Games

Em constante mudança, escrevo sobre o que gosto e às vezes sobre o que não gosto também.
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