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Análise: Captain Tsubasa: Rise of New Champions (Switch) é um presente para os fãs do anime, mas não para os de futebol

Com uma estética lindíssima e diversos fanservices, o título é ideal para os fãs do consagrado anime, mas pode frustrar os que buscam uma experiência de futebol mais tradicional.


Talvez as gerações mais novas não conheçam a história de Tsubasa Ozora, mas quem viveu os tempos da TV Manchete e o Toonami, do Cartoon Network, deve se lembrar com carinho dos Super Campeões. Tenho certeza que muitos, como eu, se emocionaram quando Captain Tsubasa: Rise of New Champions foi anunciado pela primeira vez. Afinal, o título prometia colocar a experiência do anime nas mãos dos jogadores. 


Já adianto que o jogo consegue transmitir, com sucesso, quase tudo o que a animação japonesa possui: chutes absurdos, superpulos e jogadas surreais — e tudo isso tingido com um deslumbrante visual, fiel ao anime. Entretanto, também adianto que apesar de tudo isso, o título é totalmente diferente de qualquer outro de futebol, o que pode frustrar os que esperam uma experiência mais realista ou próxima disso.

Pelo menos há uma boa quantidade de fanservice presente, trazendo mais detalhes sobre os personagens e diversos vídeos contando um pouco mais sobre o universo do anime, tornando-se um verdadeiro presente para os fãs. Falando em conteúdo extra, o game conta com dezenas de opções para customizar personagens, inclusive criação de times totalmente originais. Ainda é possível jogar online com essas equipes customizadas.

O multiplayer, com certeza, é a melhor utilidade de Captain Tsubasa: Rise of New Champions. Tanto o local, quanto o online, propiciam diversão de verdade, especialmente se for jogado contra amigos. Para os mais competitivos, existe um sistema de ranqueamento, que limita a criação de times muito poderosos, no caso de utilizar equipes customizadas. Por possuir essa qualidade de balanceamento competitivo, o título tem potencial de uma vida longa nas mãos da comunidade. 



Bola na rede

Esqueça tudo o que você sabe sobre o esporte mais amado do mundo, pois muitas regras não existem em Captain Tsubasa: Rise of New Champions. A marcação acirrada é liberada, ou seja, não existe falta ou penalidade por arrebentar os jogadores adversários. A princípio, isso pode parecer confortável para quem não tem paciência em seguir estratégias de contornar o outro time, mas logo se mostra uma dor de cabeça quando você perder a bola na cara do gol depois de tanto esforço para chegar lá.

As partidas funcionam como um campo de guerra e não digo no sentido figurado: para marcar um gol é necessário acabar com a barra de energia do goleiro, que na prática funciona como um HP. Chutes normais não são o suficiente, somente superchutes são eficazes contra os adversários e a distância também influencia no dano causado, ou seja, para marcar um ponto você terá que ficar de frente com o goleiro e carregar um superchute. Mas não acredite que um é o bastante: é necessário repetir o feito pelo menos umas cinco vezes para conseguir marcar um gol de placa.

Além disso, enquanto a barra de potência se enche, é muito fácil perder a bola. Basta um toque do jogador adversário que seu personagem será arremessado para longe. E o mais frustrante: não existe penalidade para isso. Essa lógica de gameplay poderá dividir muitos, pois de certa forma arruína a meritocracia e a competitividade. O ritmo das partidas é todo fundamentado em tomar a bola, confundir o time adversário e achar uma brecha para usar o tiro especial em direção ao gol.

Esse ritmo pode ser cansativo, mas consegue envolver o jogador e pode se tornar divertido, se você aceitar que as regras do jogo são essas. Aliás, as únicas regras tradicionais presentes no game são: o impedimento, que é quando um jogador do seu time está mais perto da linha de fundo em relação ao último adversário; e, óbvio, colocar a bola na rede do time contrário. Na prática, o gameplay de Captain Tsubasa: Rise of New Champions é como um futebol de rua, uma pelada, mas com um tempero de anime.



Vestindo a camisa

Captain Tsubasa: Rise of New Champions possui uma campanha single player, mas diferente do modo carreira do FIFA, você não pode controlar o destino do seu personagem. Há duas histórias disponíveis.

Tsubasa: a jornada do protagonista, que começa jogando bola no time da escola e perseguirá o seu sonho de representar o Japão nos gramados. A história é bem completa, com momentos emocionantes e reviravoltas. É indicado começar esse episódio primeiro, por possuir uma dificuldade balanceada e o desafio ser mais acessível.

Novo herói: você se torna um jogador em uma história original e terá que trabalhar junto com o seu time para se tornar o melhor do mundo. O seu personagem é criado do zero e pode ser customizado de acordo com sua vontade. Ele começará com o nível de habilidades bem abaixo do esperado e, ao longo da história, irá se tornando mais forte, como uma evolução nos jogos de RPG.

Tanto no capítulo Tsubasa quanto no Novo Herói, acontecem diversas cutscenes antes, durante e depois das partidas. A maioria são diálogos opcionais, que podem ser pulados, mas as cenas em anime no meio das partidas não. O que pode ser um pouco intrusivo, por ter que parar a partida para assistir uma animação, mas também aumentam o drama por criar um enredo mais elaborado para a trama.

A maior vantagem de concluir o capítulo Novo Herói é que o seu personagem ficará disponível para ser escalado em qualquer time, incluindo as equipes customizadas que você pode criar. Ou seja, será possível enfrentar outros jogadores do mundo todo, por meio do modo online, com o seu avatar em uma equipe totalmente original



Bola na trave

Captain Tsubasa: Rise of New Champions não acerta todos os lances e diversas vezes chuta a bola na trave. O maior inconveniente do título é a taxa de quadros por segundo que cai bastante, até mais do que deveria para um título de ação. Por incrível que pareça, o desempenho é pior ainda no modo TV. Talvez o aumento na resolução tenha sacrificado a fluidez do jogo, coisa que não acontece quando jogado em modo portátil. Embora a resolução seja um pouco mais borrada fora da Dock, a fluidez é bem melhor.

O jogo só possui dublagem japonesa, o que considero um incômodo. Eu entendo que a Bandai deva ter considerado que, por se tratar de uma adaptação de um anime, muita gente do ocidente não teria interesse pelo título. No entanto, é um inconveniente ter que ler as letrinhas minúsculas durante as partidas, já que até mesmo o narrador fala em japonês. Pelo menos as legendas estão totalmente traduzidas para o português brasileiro.

Em alguns momentos o controle falha, causando um atraso no comando. Aconteceu mais de uma vez, e em média isso me atrapalhou pelo menos umas três vezes por partida, principalmente quando é necessário driblar ou soltar o botão de chute após o especial estar carregado. Além disso, a câmera possui um bug que eventualmente trava no jogador, por cerca de um segundo, após ele realizar um passe. Esse problema é frequente e quebra o ritmo das partidas.

As telas de menu são mal otimizadas e fica nítido que a fluidez de quadros cai bastante quando são acessadas. Junto com isso, os carregamentos são mais demorados do que o esperado. 



Placar final

Para os amantes da animação original, Captain Tsubasa: Rise of New Champions é a realização de um sonho, mesmo com os problemas técnicos que ele possui. Entretanto, pode causar frustração em quem estiver buscando uma experiência de futebol mais tradicional. Se você encarar as mecânicas presentes neste título como uma escolha de level design, certamente é um jogo que valerá a pena.

Prós

  • Estética linda e fiel ao anime;
  • Bastante conteúdo para fãs;
  • Jogabilidade acessível;
  • Proporciona momentos de ação intensos.

Contras

  • Queda de quadros por segundo;
  • Input lag.
Captain Tsubasa: Rise of New Champions — Switch/PS4//PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vladimir Machado
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Captain Tsubasa: Rise of New Champions está disponível na Loja Nintendo

Em constante mudança, escrevo sobre o que gosto e às vezes sobre o que não gosto também.
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