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Análise: Mad Rat Dead (Switch) é uma combinação charmosa de plataforma e ritmo

Jogo da Nippon Ichi Software mostra a carismática jornada de um ratinho morto.

A Nippon Ichi Software é mais conhecida pelos seus RPGs estratégicos como Disgaea, mas esteve sempre desenvolvendo outros tipos de jogos. Especialmente nos últimos anos, graças a competições internas, a empresa tem lançado mais jogos menores de estilo variado, assim como Liar Princess and the Blind Prince (Switch/PS4) e void tRrLM(); //Void Terrarium (Switch/PS4).

Dentro dessas propostas, chegou a vez de Mad Rat Dead no Switch e no PS4. A proposta do jogo é combinar movimentação de plataforma com o gameplay baseado em timing tradicional de jogos de ritmo. Com uma direção de arte vibrante e colorida, o título oferece uma fantástica experiência para fãs dos dois gêneros.

Guiando um rato muito louco

Mad Rat Dead coloca o jogador na pele de um rato de laboratório. Após anos de experimentos, ele acaba morrendo e fica ressentido com o cientista humano que o mantinha preso. Com a ajuda de uma Deusa dos Ratos, ele recebe a chance de refazer o seu último dia de vida e decide se vingar do humano.

Nessa jornada para dar um pouco de sentido à sua vida que se aproxima do fim, Mad Rat irá encontrar outros personagens e encarar uma variedade de situações inesperadas. A aventura pode parecer simples a princípio, mas utiliza muito bem do tradicional humor da empresa que faz piada com situações tragicômicas exageradas, como, no caso, o ressentimento do ratinho morto e a sua aparente loucura.

Além disso, o protagonista age de forma peculiar e vai construindo uma relação de afeto com os outros personagens. As coisas que estão acontecendo não são exatamente o que parecem, e a própria jornada do protagonista passa a também ter outro sentido conforme a história avança.

Uma das primeiras coisas que salta aos olhos no jogo é o seu carisma. O título tem um visual cartunesco vibrante e colorido, que é especialmente notável no design de personagens. Em particular, o protagonista, seu coração, a Deusa dos Ratos e algumas criaturas que são encontradas pelas fases.

Os cenários também chamam a atenção com seus vários detalhes e boa utilização de cores. Mesmo detalhados, eles são claramente equilibrados e feitos de forma a não obstruir a visibilidade do jogador em relação às plataformas e aos movimentos do rato. Há uma boa variedade de áreas ao longo do jogo, incluindo, por exemplo, o laboratório, um esgoto, uma floresta e uma caverna coberta de queijo.

As batidas do coração

No entanto, o principal elemento que dá vida ao jogo é, com certeza, a trilha sonora. Apesar de óbvio devido à natureza do jogo, é muito importante destacar como as músicas são o verdadeiro carro-chefe das fases, coordenando toda a dinâmica do seu funcionamento. As composições são todas sintetizadas, mas o ritmo pode ser bastante diferente, com batidas cuja frequência pode ser lenta, rápida ou alternar entre velocidades causando trechos de slow motion nas fases.

A ideia é que o jogador aperte os botões de ação no ritmo das batidas da música. No canto inferior da tela há uma indicação visual das notas para que se observe o timing correto. Por conta de seu posicionamento centralizado, é fácil observar tanto o ritmo quanto a execução de ações ao mesmo tempo.

A movimentação do personagem depende do uso dos direcionais (analógico ou D-Pad) e dos botões de ação (A, B, X e Y). Por padrão, o B serve para pular, A para usar dash (arrancada), X para carregar e tornar a próxima arrancada mais longa e Y para cair mais rápido. Os botões podem ser alterados nas configurações, mas apenas entre eles, ou seja, não é possível usar L/R/ZL/ZR.

Cada fase exige que o jogador utilize essas ações para poder atravessar as plataformas e chegar a um objetivo dentro de um limite de tempo medido em função do número de notas que passaram pela tela. Ao apertar o botão, o movimento pode ser classificado em Great, Early, Late ou Miss. O primeiro significa que ele acertou o timing e realizou o movimento adequadamente, adicionando um hit ao seu combo de notas certas. Já Early e Late são respectivamente “cedo demais” e “tarde demais”, ou seja, eles realizam a ação, mas quebram o combo. O último significa que o jogador apenas errou completamente o timing, perdeu a nota e não irá executar sua ação.

Vale destacar que toda fase começa com um trecho anterior à contagem, o que permite a observação e se adaptação ao novo ritmo. Outra questão que reduz um pouco a dificuldade e torna o jogo menos restritivo é o fato de que é possível ignorar notas sem tomar penalidade. Dessa forma, o jogador pode não apertar nenhum botão para preservar seu combo, mas isso não é ideal, já que há um limite de tempo.

Além disso, as situações enfrentadas podem ser um forte complicador para utilizar isso de forma vantajosa. Ao longo das fases, o personagem precisará não apenas atravessar plataformas, como também evitar ou atingir criaturas com combinações de pulos, fugir de inimigos que o perseguem  e, é claro, não cair nos abismos entre plataformas. Essas situações exigem reflexo rápido para reagir com os botões adequados. Como a movimentação de tudo na fase também é baseada no ritmo da música, o melhor a fazer é não entrar em pânico e curtir o ritmo, fazendo com que os seus movimentos sejam sincronizados com as batidas.

O ritmo da vida

Porém, é natural a falha em alguns momentos. Pensando nisso, o jogo oferece uma mecânica fundamental de rewind. Ou seja, quando Mad Rat morre, é possível voltar no tempo e refazer seus últimos movimentos. A restrição para isso é novamente a questão do tempo, sendo necessário perder o número de batidas que o jogador optar por voltar. Além disso, o mecanismo só consegue restaurar os últimos momentos de vida. Caso o tempo se esgote antes de chegar na linha final da fase, há uma tela de game over e é necessário refazer a área desde o início, agora já conhecendo melhor o ritmo e os obstáculos.

Ao final das fases, a performance é classificada em letras como C, B, A e S+. Mesmo morrendo, não é difícil obter boas notas, caso o jogador consiga acertar várias notas e manter longos combos. Também vale destacar que, além das fases de plataforma normal, o jogo conta com batalhas de boss. Os padrões dos inimigos são fáceis de aprender, mas oferecem uma boa variação do funcionamento usual das fases, sendo necessário se adaptar e planejar bem as ações a ser executadas, já que o objetivo é derrotar o inimigo em vez de alcançar a linha de chegada.

Ao todo, o jogo conta com 36 músicas e 2 dificuldades (normal e difícil). Na versão difícil, as músicas ganham uma mecânica extra de notas vermelhas. Durante a música haverá trechos compostos por notas vermelhas seguidas umas das outras, e o jogador só poderá realizar um movimento caso acerte todas elas. Infelizmente, essa forma de desafio também quebra a associação entre batida e movimento, que é um dos aspectos mais especiais do jogo — sendo mais uma frustração desnecessária do que algo que melhore a experiência ao oferecer maior dificuldade.

Após terminar uma fase, ela é adicionada à lista do Stage Select. Além de poder jogar quando quiser, esse modo oferece uma curiosa opção de combinar qualquer fase com qualquer música do jogo, modificando completamente o seu ritmo. É uma opção inusitada e interessante que permite testar experiências bem diferentes do modo história. Pessoalmente, considero mais interessante seguir exatamente o que foi construído originalmente, pois sinto que as combinações algumas vezes não se encaixam muito bem. Ainda assim, a possibilidade é bem-vinda.

Também vale destacar os troféus do jogo. O título conta com seu próprio sistema de achievements que são liberados conforme uma variedade de desafios é cumprida, como obter ranking S+ nas fases ou conseguir combos altos. É um incentivo extra agradável, mesmo não oferecendo qualquer tipo de recompensa com impacto real na experiência.

Um jogo muito carismático

De forma geral, Mad Rat Dead mistura plataforma e ritmo de forma magistral. O jogo chama a atenção com sua direção artística charmosa e vibrante e especialmente na forma como sua trilha sonora dita o ritmo do gameplay, oferecendo uma experiência marcante. Mesmo com um modo difícil que acaba reduzindo uma das melhores qualidades do jogo, é um título que vale muito a pena conhecer.

Prós

  • Trilha sonora fantástica e com boa variedade;
  • Associação direta dos movimentos de plataforma com as batidas da música;
  • Sistema de rewind é um auxílio bem-vindo;
  • Visual colorido e vibrante;
  • Design de interface simples que ajuda o jogador a manter o foco;
  • Batalhas de boss ajudam a variar o funcionamento das fases;
  • Sistema de troféus.

Contras

  • Notas vermelhas do modo difícil quebram a associação de batida e movimento.

Mad Rat Dead – Switch/PS4 – Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Jorge Neto
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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