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Análise: Monster Sanctuary (Switch) — treine monstrinhos e batalhe em um metroidvania cativante

A aventura com estilo pixel art mistura mecânicas e conceitos interessantes e é capaz de agradar treinadores de todos os gostos.

Com batalhas por turnos entre criaturinhas de todos os tipos, Monster Sanctuary chega ao Switch sendo naturalmente muito vinculado a uma das principais franquias nintendistas; ora, é quase impossível falar dos atrativos anteriores sem pensar em Pokémon. Todavia, em poucos minutos de jogatina o metroidvania com toques RPG demonstra que consegue ir além das comparações triviais, sendo extremamente divertido e propriamente envolvente. Diante disso, prepare-se para se fascinar colecionando e treinando monstrinhos até se tornar um vencedor, mesmo que você já tenha feito algo parecido recentemente na série cujo ícone é Pikachu. 

Na companhia dos monstrinhos

Em Monster Sanctuary nós entramos no papel de um jovem que está prestes a se tornar um treinador de monstrinhos, em uma terra onde criaturas das mais diferentes espécies nutrem relações amigáveis com os humanos. Nosso personagem, que sonha em ser um Monster Keeper renomado, faz parte de uma descendência nobre que conta com a guia de um Spectral Familiar — uma criatura poderosa e imortal, que foi passada ao longo de gerações por nossa linhagem. Ao lado de outros três jovens de famílias também cultuadas, somos privilegiados por ter tal acompanhamento lendário durante a jornada.

Dessa maneira, logo de cara precisamos selecionar a forma de nosso espectro companheiro, em uma escolha que se assemelha aos starters de Pokémon. Independente se elegemos o lobo, sapo, águia ou leão, o objetivo inicial se concentra em apenas se tornar um Keeper reconhecido de alto nível. Há de se admitir que a aventura se inicia um tanto acanhada.

Essa calmaria, no entanto, é cessada quando topamos com forças do mal que planejam interromper a paz que reina entre as espécies. Cabe a nós e aos outros jovens guardiões a incumbência de impedir o caos e a proliferação das magias sombrias praticadas pelos Alquimistas, um grupo anteriormente banido da civilização por nossos ancestrais.

Em um ritmo não muito corrido, a narrativa é tecida de acordo com as descobertas feitas sobre os monstrinhos e a história da região, que agora sofre potenciais perigos malignos. Acompanhar os acontecimentos e conhecer nosso mundo é interessante e envolvente, mas está longe de ser o alicerce principal de Monster Sanctuary. Como veremos, o jogo brilha principalmente com suas batalhas estilo RPG e as zonas de exploração lateral, em um gameplay muito atraente.

Variedade de alto nível

Controlamos o protagonista por um mundo bidimensional, onde caminhamos e saltamos lateralmente entre dungeons e regiões temáticas — como cavernas, campos congelados e templos. Nesses ambientes, criaturas selvagens, que são inegavelmente o ponto fundamental do título, vagam livremente pelos caminhos. Ao entrarmos em contato com elas, surge em cena o setor principal de Monster Keeper: as lutas estratégicas com funcionamento por turnos.

As batalhas iniciais, nas quais contamos apenas com nosso spectral, servem muito mais como um tutorial, embora não seja tão necessário para os já conhecedores do gênero. É simples: escolhe-se um ataque, que pode ser físico ou mágico, para ser usado naquela rodada. O inimigo, da mesma forma, seleciona um movimento de acordo com suas propriedades, em um ritmo de alternância que segue assim até que a barra de pontos de vida de algum dos lutadores se esgote. Realmente, para quem está familiarizado com os jogos da série de Pikachu, não há muito mistério.

Embora faça uso dessa  e de muitas mecânicas repetidas de outras tramas RPG, Monster Sanctuary surpreende por aplicá-las muito bem, como é o caso dos combos, das tipagens com forças ou fraquezas elementares e a presença de ataques que podem elevar qualidades e causar status. Forma-se, assim, um campo plural de possibilidades de movimentos, que só aumenta se considerarmos que a maioria das batalhas são no modo três contra três. Assim, é extremamente prazeroso montar combinações explorando as vulnerabilidades  dos adversários, sejam eles criaturinhas selvagens ou outros Keepers que nos desafiam para medir forças.

Montando um time poderoso

Ainda dentro do segmento das batalhas habita outro grande entretenimento de Monster Sanctuary: há uma coleção de mais de 100 monstrinhos singulares, na qual a grande maioria pode ser capturada e usada em nossas equipes. Entre lobos ferozes, gatinhos espadachins, cavaleiros medievais, iétis, tanukis e morcegos com um olho gigante, temos de tudo. Afortunadamente, cada um apresenta suas propriedades.

Por exemplo, Catzerker, um dos meus preferidos no início da jornada, é muito potente em seus ataques físicos, que podem ser golpes de espada comuns ou até combinados com elementos de fogo. Entretanto, o bichano não conta com uma defesa das melhores e seus golpes mágicos são fracos, além de sofrer muito dano para ataques do tipo terra. Cabe a nós, então, montar uma equipe equilibrada entre os altos e baixos, podendo portar até seis monstrinhos.

Para adquirir tais criaturinhas precisamos batalhar contra suas versões selvagens, que poderão soltar ovos de sua espécie como recompensa. Após consegui-los, muitas combinações surgem à nossa frente, como o fato dos monstrinhos serem regulados por níveis — o que, em algum momento, significa que você se verá fazendo o famoso grind para upar de level. Mas não se preocupe, não chega a ser algo negativo.

Da mesma forma, os Monsters também podem ser equipados com diferentes itens e contam com famílias de skills, que podem ser liberadas e ensinadas com o uso de pontos de habilidade, em outro conceito bem característico do mundo de RPG e seus upgrades. A partir de um certo momento do jogo, nós podemos até mesmo evoluir alguns monstrinhos, exatamente como Squirtle, Charmander, Bulbasaur e cia. Embora este setor seja aprazível, ele não é muito bem desenvolvido dentro do indie, o que é uma pena.

Desbravando o santuário e suas terras

Contando com tanta variedade de criaturinhas e poderio, eis que surge o fator “temos que pegar” em Monster Sanctuary. Ele é responsável por nos fazer buscar pelas mais diferentes espécies para nos auxiliar, sobretudo, nas batalhas. No entanto, o título guarda outras cartas na manga que nos fazem ver que nossos aliados bichanos podem ajudar em muitos outros momentos.

Isso ocorre pois o jogo também apresenta um lado metroidvania, com jogabilidade de rolagem lateral que nos faz percorrer os cenários de plataforma em busca dos objetivos da trama. Através de dungeons e outras ambiências, é preciso explorar de fato e resolver puzzles de acordo com nossas ambições, que envolvem investigar localidades em busca das ações dos Alquimistas ou desbloquear calabouços com pistas sobre outras criaturas.

Assim, a aventura ganha toques de ação que contrastam com as batalhas em turnos, o que impede o gameplay de se tornar cansativo. Com isso, o jogo se sobressai por variar suas mecânicas, alternando os embates, que são naturalmente mais lentos por serem em etapas, com momentos de saltos e pesquisa.

De uma maneira divertida, uma criaturinha de nosso inventário pode ser selecionada para nos acompanhar na tela e auxiliar em certas situações. Elas contam com habilidades que são necessárias para a jornada, como a capacidade de liberar áreas novas ao quebrar paredes, acionar fontes de energia, iluminar os ambientes ou nos fazer flutuar por poucos segundos, lembrando os HMs tradicionais de Pokémon.

Como exemplo desse funcionamento, trago os monstrinhos Blob e Crackle Knight, que podem soltar, respectivamente, jatos de água e raios elétricos para acionar orbes e resolver quebra-cabeças. Com essa temática de revezamento das companhias, o metroidvania se torna mais interessante, embora este setor não seja tão complexo ou aprofundado, deixando os maiores desafios e momentos de raciocínio para as batalhas em si.

Antes de encerrar a descrição do gameplay é legal mencionar que o jogo também conta com um nivelamento dos próprios treinadores, o qual funciona como uma espécie de ranking. Podemos subir de prestígio conforme enfrentamos Champions espalhados pelo mapa, que são monstrinhos extremamente fortes que atacam solitariamente. Assim, estes são raros momentos em que as batalhas se dão no formato três versus um. Mas não se engane: mesmo estando em clara vantagem numérica, é difícil derrubar o oponente.

Com os avanços no ranqueamento de Keeper, novos setores são liberados em Monster Sanctuary, os quais elevam o gameplay para um patamar além do que eu esperava, o que é muito bom. Entre as boas surpresas, podemos batalhar novamente contra os chefes e melhorar nossas recompensas, praticar contra outros Keepers dentro do jogo e até mesmo desafiar treinadores online. Assim, o título que aparentava uma timidez inicial se desenvolve alegremente, mesmo apresentando alguns deslizes acanhados.


Pequenos descuidos

No geral, não há elementos que atrapalham a jornada em Monster Sanctuary, mas há alguns conceitos mínimos que demonstram uma falta de polidez. É comum ter a sensação de que os cenários são um tanto vazios, com poucos detalhes e sem elementos passíveis de interação. Por exemplo, não há muitos ambientes para entrar ou personagens para dialogar. Confesso que até senti falta daquela arte de invadir casas e quebrar os tradicionais potes à la Link em busca de moedas. 

Infelizmente, os elementos que podemos interagir nos cenários são poucos, os quais se resumem a alavancas que abrem portas, esferas que podem ser energizadas ou baús de tesouros comuns. Isso está um pouco aquém do que estamos habituados em outros títulos do mesmo estilo e você provavelmente irá notar essa ausência.

O visual da jornada também pode dividir opiniões. O toque pixel art sempre é um atrativo interessante quando bem usado, mas Monster Sanctuary não é o jogo mais bonito que você encontrará pela eShop nesse estilo. Não me leve a mal, a estética retrô é aconchegante e bonita, mas nada de muito exuberante.

Com ela, alguns bugs pequenos também se manifestam, como momentos em que os monstrinhos podem acabar se escondendo atrás de paredes. Mas, realmente, nada de muito ruim ou que atrapalhe o desempenho. Dentro da estética, se eu tivesse de ressaltar algo, certamente seria a trilha sonora do game, que é surpreendentemente empolgante.

Sobretudo, Monster Sanctuary é muito divertido e merece ser admirado por sua envolvência, sendo simples mas portando uma variedade grande de componentes ao mesmo tempo. Chega a ser um tanto viciante e certamente pode render boas dezenas de horas para os jogadores, sem importar se você é fã de carteirinha de Pokémon ou metroidvanias em geral. Assim, bem como funcionam suas batalhas, pode-se dizer que a soma dos atributos do título garante um combo de diversão efetivo para quem decidir se aventurar no reino das criaturinhas fantásticas.

Uma jornada com muitos monstrinhos amigos

Com uma combinação interessantíssima entre batalhas por turnos e metroidvania, Monster Sanctuary é uma surpresa amável que chega nos minutos finais de um 2020 caótico. Atrás de sua aparente timidez, o jogo abriga embates marcantes e mais de uma centena de criaturinhas encantadoras. Assim, embora o contexto apresentado já seja algo notoriamente conhecido, o processo de capturar, treinar e batalhar se renova propriamente na telinha do Switch, mantendo a fórmula que envolve monstrinhos e treinadores imensamente agradável.



Prós

  • Combates por turnos divertidos e desafiadores;
  • Traços de um bom metroidvania;
  • Alta variedade de monstrinhos, batalhas on-line e replay;
  • Premissa divertida e narrativa interessante.

Contras

  • Visual não é tão caprichado, bugs mínimos e poucos detalhes nas ambiências;
  • Alguns setores poderiam ser aprofundados, como certas dungeons e o conceito das evoluções.
Monster Sanctuary — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Jorge Neto
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17


Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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