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Análise: Down in Bermuda (Switch) – resolvendo enigmas pouco inspirados

Uma curta experiência com puzzles simples e carismáticos e quase sem narrativa.

Down in Bermuda foi desenvolvido pelo estúdio Yak & Co e apresenta uma boa aventura que gira quase que exclusivamente em torno da resolução de puzzles. Não que isso seja um grande problema, mas o desapego à narrativa (ou a pouca importância dada a ela) faz falta quando se percebe que esse curto game acaba sem deixar tanta saudade. Parte disso se deve ao pouco envolvimento com a história, mas tem a ver também com a facilidade quase displicente dos enigmas presentes.

Não vá se perder por aí

O Triângulo das Bermudas é conhecido pelos grandes desaparecimentos que acontecem por lá. Sendo apenas uma lenda ou não, fato é que o imaginário popular está repleto de percepções sobre esse misterioso lugar. Down in Bermuda se aproveita dessa circunstância para iniciar sua história. Milton, um aviador, acaba se perdendo no local e se vê preso em uma ilha por um longo período.

O jogo efetivamente começa com o nosso contato com um Milton já idoso (trinta anos já se passaram) e que nos convoca a ajudá-lo na resolução de alguns puzzles. O objetivo, óbvio, é tentar escapar das ilhas. Mas essa é uma solução estranha, pois não jogamos com Milton, mas sim com uma entidade independente do mundo dele, que é capaz de mover itens e intervir nos ambientes da ilha para ajudá-lo. Aparentemente, não foi intenção dos desenvolvedores avançar na narrativa a partir daqui, e as coisas no game deixam de ter a ver com as ações do aviador e sua interação conosco, o que é realmente frustrante.



Tudo isso poderia ser compensado pelos puzzles, mas isso não acontece por completo. E isso porque eles são muito simples, assim como as mecânicas propostas. Em Down in Bermuda devemos nos mover pelo ambiente da ilha encontrando orbes que servem para abrir um portal que nos leva à ilha seguinte. Aliás, são seis delas, e com pouco espaço de exploração.

Alguns desses orbes estão em locais evidentes e basta clicar neles para coletá-los. Outros estão escondidos atrás de objetos que precisam ser removidos do caminho. Finalmente, existem alguns que são encontrados por meio da solução de enigmas espalhados pelo mapa (que se reduz ao ambiente da ilha presente).

A jogabilidade, não é excessivo dizer, é extremamente simples, e os puzzles são incrivelmente amigáveis. Mas o que poderia ser uma vantagem acaba se transformando em um passeio quase sem desafios, o que não é necessariamente algo interessante.

Nem tanto mistério assim

Como a narrativa não é desenvolvida a fundo em Down in Bermuda, o máximo de contexto a que temos acesso é revelado por meio das interações com seres que aparecem nas ilhas, que vão desde monstros gigantes a supercomputadores. O que eles fazem ali não fica tão claro, mas conversar com eles é de grande ajuda para entendermos o que fazer e o que precisamos realizar.

Muitas ações se dão por meio de botões ou alavancas que precisamos acionar. Além disso, existe um mapa que facilita demais o processo de encontrar os itens pela Ilha, tanto que até tira parte da graça. No final, é como se o game fosse apenas uma desculpa para você passar algumas horas sem pensar tanto, apenas encontrando itens em um mundo bonito e cheio de carisma. No entanto, é bem provável que os fãs de puzzle se sintam desestimulados com essa proposta.

Outro ponto a destacar é a questão dos controles. Down in Bermuda foi claramente pensado para a tela de toque. Utilizando o Switch no seu modo portátil, é possível ter uma experiência bem consistente, girando a tela, acionando alavancas e coletando os itens diretamente com a interação no próprio console.

Por outro lado, ao utilizar o analógico e botões tudo fica mais difícil. Chega a ser irritante ficar tentando mudar o ângulo da câmera com os gatilhos e analógicos quando isso pode facilmente ser feito na tela. Claro, se a sua opção for jogar na televisão, então o jeito é se adaptar a esse mecanismo. Mas ele está longe de ser intuitivo e agradável.



Por que tão simples?

Down in Bermuda é o típico caso do jogo que tem muito potencial desperdiçado. Os desenvolvedores partem de uma boa premissa para um game de puzzle, mas não desenvolvem a história. Ao mesmo tempo, os enigmas são, em sua grande maioria, simplórios, e a ação se resume quase que exclusivamente a procurar orbes pela fase. E nem isso é desafiador o suficiente, já que para os itens mais escondidos há o mapa, que mostra exatamente onde eles estão. Logo, o único real desafio é desbloquear os objetos presos em alguma máquina ou dispositivo, mas mesmo entre esses, são poucos os casos de puzzles realmente empolgantes.

Considerando ainda a curta experiência, é difícil recomendar esse título para fãs de resolução de enigmas. Contudo, é inegável dizer que estar nesse mundo é algo confortável e satisfatório. Então, se isso for o suficiente para você, siga em frente.

Prós

  • Visual muito bonito;
  • Jogo relaxante e acessível.

Contras

  • Campanha bem curta;
  • Puzzles simples e quase sem desafio;
  • Ausência de desenvolvimento da narrativa;
  • Os controles funcionam bem apenas no modo portátil.

Down in Bermuda — Switch/PC/IOSPS4/XBOX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão por Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Yak & Co



Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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