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Análise: How To Take Off Your Mask Remastered (Switch) é um teaser mascarado de jogo e desperdiça potencial

Originalmente parte de uma trilogia, a visual novel peca em abordar temas interessantes e foca apenas no romance.

capa analise how to take off your mask remastered

Quando vi o trailer promocional de How To Take Off Your Mask Remastered, versão remasterizada da visual novel lançada para PC (via Steam) em 2015, confesso que fiquei interessada pela premissa que parecia remeter à teoria das máscaras, do escritor e dramaturgo italiano Luigi Pirandello.

Com base em um conceito similar teorizado pelo psicanalista Siegmund Freud, na teoria de Pirandello, as “máscaras” são impostas ao homem pela sociedade, fazendo com que ele não possa removê-la por si mesmo e, dessa forma, não seja capaz de reconhecer sua própria personalidade. Como, na trama, os protagonistas acabam conhecendo outra face um do outro, fiquei realmente interessada em analisar How To Take Off Your Mask sob um ponto de vista mais introspectivo e social.

Infelizmente, por mais interessante que a ideia pareça no papel, sua execução deixa a desejar — e muito.

how to take off your mask leea ronan
Potencial desperdiçado

Uma história incompleta

How To Take Off Your Mask é a primeira de três visual novels da trilogia Story of Eroolia, que consiste em tramas interligadas que se passam no reino homônimo. Ou seja, muitos dos personagens e problemas apresentados no título analisado só são explorados nas outras duas, fazendo com que estas, embora independentes até certo ponto, possuam várias lacunas no roteiro.

Lilia, a protagonista, um dia descobre que é uma Luccretia, uma mistura entre gatos e humanos. Graças a essa nova persona chamada Leea, a garota descobre que seu amigo de infância, Ronan, trabalha secretamente como guarda da cidade — até então, ele era apenas um rapaz desastrado que fazia entregas para a padaria da avó de Lilia.


Com medo de que Ronan descobrisse sua identidade como Luccretia, Lilia decide abraçar essa dupla personalidade e passa a investigar o garoto. Entre transformações aqui e ali, o desenrolar da história acaba no típico romance mamão com açúcar: a protagonista começa a descobrir lentamente que sente algo por seu par romântico que vai muito além que uma simples afinidade.

Até aproximadamente metade da visual novel, confesso ter me divertido com as confusões e mal-entendidos entre Lilia/Leea e Ronan, mesmo que a história esteja cheia de clichês existentes em quadrinhos e animações japoneses. A partir da divisão de rotas (lado humano ou lado Luccretia), a trama tenta abordar assuntos mais sérios, como xenofobia e preconceito, mas a boa intenção se perde em um desenrolar corrido e confuso, deixando inúmeras pontas soltas que jamais serão explicadas em How To Take Off Your Mask.

Ainda a respeito da divisão de rotas, esta é decidida de acordo com as escolhas feitas no decorrer da história. Algumas opções pendem ou para a "máscara" de irmã mais velha de Lilia, que não consegue ser sincera quanto aos seus sentimentos, ou para a "máscara" de irmã mais nova de Leea, que é capaz de expressar o que sente sem rodeios. Infelizmente, muitas dessas escolhas acabam se tornando irrelevantes, já que não afetam os finais do jogo.


Mas por que alguns habitantes de Eroolia não gostam de Luccretias, a ponto de querer expulsá-los de seu reino? O mesmo acontece em Laarz, o lar dos homens-gatos? Poderão humanos e luccretias conviver em harmonia? Descubra nas próximas aventuras (se você estiver disposto a pagar por elas)!

how to take off your mask teaser continuacao
Continua no próximo episódio

Remasterização pouco remasterizada

Ao comparar a arte da versão Remastered com a da original, não notei muitas diferenças significativas a não ser uma ligeira melhoria nas ilustrações dos personagens e dos cenários, que estão com cores mais vivas. O menu também está escondido em um botão ao topo da tela e não mais na caixa de diálogo, fazendo com que não haja mais uma poluição visual.

A versão para Switch, no entanto, se destaca por ser totalmente compatível com a tela sensível ao toque do console. Isso faz com que a jogatina seja bem mais confortável no modo portátil e independente do uso dos Joy-Con, exceto para algumas poucas funções, como avanço rápido do texto e quick save/load.

How To Take Off Your Mask também possui seus pontos positivos, a começar pela dublagem. Mesmo que em japonês, ela foi bem executada e não deixa a desejar em nenhum aspecto. A trilha sonora, principalmente o tema de abertura, também é bastante agradável e a arte é simples e limpa — embora gostar do estilo varie de jogador para jogador. Particularmente falando, só senti falta de cenários um pouco mais detalhados, pois são muito genéricos e reusados em mais de uma ocasião.

dialogo kaomoji
Além de um diálogo incompreensível, o cenário destoa das artes dos personagens

Embora não possua suporte para português, a visual novel conta com uma razoável variedade de idiomas. De todo modo, como o jogo apresenta linguagem bastante simples e acessível, acredito que não existam problemas relacionados à barreira linguística. Os diálogos também não são demasiadamente longos, fazendo com que a leitura não canse o jogador.

Por fim, o jogo ainda conta com um menu de extras, no qual é possível conferir as CGs desbloqueadas durante a jogatina, rever o vídeo de abertura e até mesmo ouvir as músicas tocadas no decorrer da trama.

Apenas um terço do todo

How To Take Off Your Mask Remastered é um bom passatempo, mas infelizmente deixa a desejar como visual novel, especialmente em uma narrativa extremamente pobre em conteúdo e, acima de tudo, incompleta — no fim, temos apenas um romance simples e previsível com direito a dois finais igualmente banais, que podem ser obtidos com pouquíssimas horas de jogo.. Por ser uma história dependente de mais outros dois títulos para entendermos melhor esse universo criado por ROSEVERTE, a melhor solução teria sido lançar um bundle com todas as três visual novels que compõem a Story of Elooria.

Mesmo com capricho na parte audiovisual, sobretudo a dublagem, os pontos positivos não conseguem redimir os negativos. Devido a isso, infelizmente, não consigo recomendar How To Take Off Your Mask, especialmente para aqueles que não estão acostumados com o gênero, até que How To Fool a Liar King e How to Sing to Open Your Heart recebam ports para o Switch.

Prós

  • Arte agradável e limpa;
  • Compatível com a tela sensível ao toque;
  • Trilha sonora e dublagem excelentes.

Contras

  • Curta duração;
  • História incompleta e dependente de outras duas visual novels;
  • Assuntos abordados de maneira insatisfatória;
  • Cenários destoantes se comparados às artes dos personagens;
  • Apenas dois finais bastante semelhantes
How To Take Off Your Mask Remastered — Switch/XBO/PS4 — Nota 4.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games


Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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