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Análise: Cathedral (Switch) é um metroidvania robusto por trás de uma fachada simples

Explore um mundo vasto para conhecer suas origens e derrubar o semideus Ardur.

Apesar de não ser uma novidade, a combinação metroidvania com visual pixel art ainda pode render bons frutos. Um ótimo exemplo dessa premissa é Cathedral, jogo originalmente lançado para o PC em 2019 e que agora chega ao Switch. Com muito conteúdo, mecânicas engenhosas e dificuldade elevada, este título de exploração com elementos RPG é simples e divertido, mesmo apresentando ideias um tanto conservadoras.

O mundo ao redor de um templo

Ao acordar sem memória em uma catedral, nosso protagonista, que não é nomeado, descobre que está em um território completamente desconhecido. Com a ajuda de um fantasma chamado Soul, o cavaleiro encontra uma porta misteriosa dentro do templo que pode lhe dar respostas sobre suas origens. Todavia, para abri-la, ele precisará coletar cinco esferas espalhadas por todo o mapa pelo semideus Ardur, que supostamente planeja algo maligno para a região.

Nos primeiros momentos da campanha não há, de fato, uma história muito bem delineada; basicamente surgem algumas premissas, que deverão ser desenroladas posteriormente.Tudo consiste em desbravar os ambientes e conversar com os personagens para progredir e conhecer melhor sobre o universo onde estamos. Uma estrutura comum nos metroidvanias, convenhamos. 

A trama permanece rasa, com raras cutscenes; porém, isso não significa que a história do mundo de Cathedral não se torne algo legal eventualmente. Há alguns toques bacanas que adicionam profundidade à campanha, como recados deixados pelas ambiências por outros cavaleiros antigos, personagens misteriosos e muitas sidequests, com recompensas e upgrades para ajudar na aventura.

Do capacete pesado aos pés

Tal qual seu enredo, Cathedral é bem simples em outros setores, como na jogabilidade. Sendo um título de plataforma bidimensional, não há muitos mistérios quando se trata da movimentação: ela é básica, sendo estruturada em saltos, golpes de espada, lançamento de flechas e outros elementos que, felizmente, são de fácil controle no geral. Assim, o gameplay é fluido e com uma velocidade de ação agradável, o que no início parece estranho se considerarmos a quantidade de armaduras que nosso cavaleiro carrega.

O leque da movimentação é mais diversificado quando falamos das habilidades: com nove tipos de charms, que podem ser equipados em três slots, eles se ligam diretamente com a progressão da campanha principal. Conforme os coletamos, regiões novas do mapa podem ser acessadas, em um sistema também clássico dos metroidvanias. É um setor aprofundado e com mecânicas divertidas, como a possibilidade de controlar Soul por telepatia, investidas velozes e dano duplo quando estamos com pouca vida.

As dungeons também são montadas com esse estilo de progressão. Elas envolvem batalhas e puzzles, que podem ser solucionados com o uso de determinadas habilidades e outros itens. Por serem extensas, prepare-se para passar um bom tempo dentro delas. Num todo, esses são os espaços que mais demandam exploração e tentativas.

Em cenários que vão de catedrais fechadas até praias e o fundo do mar, cabe falar que Cathedral não apresenta maravilhas e paraísos em seus visuais, muito embora a pixel art dê um toque aconchegante. As referências aos jogos 8 e 16-bits são claras e criam ambientes bonitos com suas paletas de cores. Por outro lado, o design das ambiências e backgrounds não é inovador ou de tirar o fôlego. Novamente, a escolha pelo retrô oferece o simples e até alcança um certo sucesso, mas não espere muito mais do que isso.

Desafiador em excesso?

Se nos tópicos acima falamos da simplicidade de Cathedral, o foco agora será em dois setores que definitivamente não são básicos: a dificuldade e a variedade de inimigos. Os desafios são grandiosos no jogo, principalmente nos combates. Mesmo com muitos quebra-cabeças nas dungeons, os momentos mais difíceis geralmente envolvem derrubar criaturas e os tradicionais chefões, que são inventivos e de encontros divertidos.



As derrotas podem ser abundantes, o que consequentemente nos empobrece, dado que cada morte toma 10% de nosso dinheiro. Desse modo, surge um impasse: por mais que os comandos sejam fáceis de se aprender, eles podem ser de difícil execução por causa do excesso de inimigos que aparecem dentro de algumas salas. Isso ocasiona momentos severos, em que algo acontece em todos os cantos da tela. Resumindo: as salas apertadas podem facilmente se tornar um verdadeiro caos.

Assim como os inimigos podem aparecer em uma quantidade elevada, há também uma boa variedade entre eles, e isso é algo a ser encarado como positivo. Com diferentes mecânicas, as criaturinhas diversificam os calabouços e propõem desafios variados. Por exemplo, há esqueletos que só podem ser derrotados com o uso da lanterna, nativos que carregam um escudo e só tomam dano nas costas, e por aí vai. Todavia, mesmo que você decore as dinâmicas adversárias, sempre é preciso um cuidado extra, pois frequentemente eles complicam nossas vidas ao “brotar” em alto número e com agressividade. 

Assim como é feito em sua estética, Cathedral também se inspira na dificuldade dos títulos antigos e apela para os jogadores da velha guarda. Por si só, isso não chega a ser um problema; contudo, há outros fatores que recorrentemente evidenciam uma curva desnivelada e desnecessária dentro do título, o que pode afugentar alguns jogadores já nas primeiras horas de jogatina.

Ao meu ver, a dificuldade de Cathedral pode ser criticada por ser imprevisível e agressiva em momentos corriqueiros. Por exemplo, às vezes é árduo retornar para um portal de teletransporte ou outra sala da dungeon, pois os monstros e obstáculos reaparecem normalmente, mesmo que já tenham sido derrotados. Dessa forma, algumas situações se tornam complicadas quando deveriam ser mais simples — o que é irônico, visto que o jogo se atém ao básico em muitos outros aspectos.

Entendo que a ideia de oferecer desafios intensos e constantes faz parte do vigor do título, que se propõe a ser uma aventura old school sólida. Mas, com isso, frustrações indevidas podem surgir em circunstâncias triviais, o que, involuntariamente ou não, aumenta ainda mais a vida de Cathedral. Excluindo as sidequests, a campanha principal pode render facilmente mais de 20 horas de gameplay. Entretanto, baseado no que foi dito, saiba que muitos desses minutos podem ser gastos ao se tentar fazer algo que poderia ser fácil, mas não é.

Uma ode ao passado

Ao apresentar-se simples em muitos aspectos, como na estética e na jogabilidade, Cathedral joga com segurança e se concentra em oferecer um conteúdo expansivo e variado. Nessa proposta, o título corresponde muito bem, mostrando ser uma aventura de exploração intensa e divertida, embora altamente difícil. Por mais que você tenha encarado jogos similares ultimamente, a visita a esse mundo misterioso e robusto é recomendada, mesmo que ele esteja longe de trazer inovações ao gênero metroidvania.

Prós

  • Um metroidvania genuíno e divertido;
  • Combates intensos e jogabilidade responsiva;
  • Alta variedade de inimigos;
  • Campanha principal extensa e presença de sidequests.

Contras

  • Não inova no gênero, se mostrando igual a outros títulos em muitos aspectos;
  • Dificuldade desbalanceada, que complexifica momentos que deveriam ser fáceis.
Cathedral — Switch/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Elden Pixels

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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