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Análise: Maneater (Switch) — abocanhando tudo para evoluir até o topo da cadeia alimentar

O port que chega ao console da Nintendo ostenta conceitos criativos e prazerosos, embora tenha deslizes em algumas conjunturas triviais.


Apresentando embates sangrentos da vida animal e mecânicas de RPG, Maneater (Switch) conta a história de uma filhota de tubarão que planeja se vingar de um cruel pescador que matou sua mãe no passado. Para fazer isso, ela deverá explorar mundos abertos, assassinar outros seres vivos e realizar muitas missões, que são timbradas com toques cômicos em inúmeras piadas. Todavia, com falhas perceptíveis nos combates e nos visuais, a aventura acaba por perder um pouco de seu charme destrutivo, mas sem deixar de divertir.

A evolução de uma assassina

Se passando na Costa do Golfo, Maneater começa com o jogador controlando um tubarão-fêmea adulto. Apesar de todo o seu poder e vigor, o animal é capturado por um caçador famoso chamado Scaly Pete, que inclusive conta com seu próprio programa de pesca na televisão estadunidense. Conhecido por sua crueldade, o apresentador barbudo assassina cruelmente a fêmea, descobrindo posteriormente que ela está grávida. 

Após ser ferida, a filhota revida e arranca fora a mão do pescador, escapando de volta para a água de um pântano. A partir daí, nós controlamos o pequeno animal por diferentes ambientes aquáticos para crescer, evoluir e se tornar forte o bastante para enfrentar Scaly Pete, em uma trama com clima de vingança.

Nesse contexto, o principal atributo de Maneater se manifesta desde os primeiros momentos do jogo, que é o conceito de explorar mundos abertos: com o mapa segmentado em áreas temáticas, podemos desbravar as regiões para cumprir missões, apanhar colecionáveis e matar outros animais, conquistando pontos de experiência para se desenvolver por fases da vida.

A tubarão-fêmea protagonista é da espécie cabeça-chata, que consegue viver tanto na água salgada quanto doce, o que aumenta a possibilidade de cenários para explorar. Citando alguns desses locais, temos Fawtick Bayou, um pântano apresentado no início da jornada repleto de jacarés; Sapphire Bay, conhecida por banhar uma cidade moderna; e The Gulf, que desemboca no mar aberto.

Dessa forma, o caminho para avançar e se desenvolver passa por cumprir missões, que aumentam nosso nível e são dispostas em um sistema convidativo, tornando divertida a tarefa de ver a protagonista crescer. Para quem gosta de jogos com desafios ousados na hora de se completar os 100% de títulos, saiba que há muitos colecionáveis em Maneater, como placas de carro, malas de suprimento e landmarks que devem ser visitados. 


Ainda assim, não há como negar que, no papel de um tubarão-fêmea de grande proporção, boa parte das atividades envolvem matar aquilo que cruzar em nossa frente, em um sistema no qual o jogo carinhosamente apelida de “controle populacional”. Com mordidas sangrentas e inclusive mortes de humanos, saibam que estamos falando de um jogo destinado a maiores de 18 anos.

Triturando com a mandíbula

Com muita potência, a jogabilidade de Maneater permite-nos golpear com o rabo, jogar o corpo em direção aos oponentes e, claro, abocanhar tudo com a mandíbula. No geral, atacar é uma tarefa fácil, dado que o jogo conta com uma mira automática. Assim, apenas precisamos apertar o gatilho na hora certa até engolir os inimigos, que vão desde pequenos bagres até crocodilos encorpados.

Esse sistema, no entanto, apresenta seus problemas: por exemplo, é comum a mira mudar de alvo repentinamente, ou até mesmo o ataque falhar sem explicações. Outro infortúnio é o fato de que às vezes torna-se cansativo ficar mordendo o mesmo bichano, por mais legal que seja a ideia de ser um tubarão.  

Assim, é normal sentir uma instabilidade nos embates, o que aumenta na medida em que estamos controlando um personagem embaixo d’água, diferente do que estamos habituados. Isso pode ser exemplificado com os ajustes de câmera durante as batalhas, em que, comumente, acontece de um animal ficar acima de nós ou em nossas costas, tornando melindroso o processo de se virar para retornar ao embate.

Mas, inconstâncias à parte, justiça seja feita: controlar um tubarão é extremamente divertido. Entre os pontos mais prazerosos de todos, temos os saltos ornamentais quase como golfinhos, desfiles com a barbatana para cima d’água, chacoalhadas com as presas na boca e ataques brutais a humanos.

Considerando que nos mapas temos locais frequentados por pessoas, é incrível o terror e pânico que podemos causar. Os ataques podem ocorrer tanto dentro d'água, investidos contra nadadores e tripulantes de barcos, quanto em quem caminha pelas orlas do jogo. 

De maneira assustadora, o tubarão-cabeça-chata consegue se projetar para fora dos lagos e mares, podendo permanecer na atmosfera por alguns segundos e, consequentemente, abocanhar humanos. Ou seja, você pode escolher fazer uma matança breve fora d’água, ou, se preferir, apanhar os humanos e trazê-los para o mar, dando a mordida final em paz. 

Quando realizamos uma matança massiva de humanos, um alerta de “procurado” é ativado, fazendo com que pescadores com armas de fogo nos persigam em lanchas e jet-skis. Isso acarreta em verdadeiros alvoroços, que fazem parte dos melhores momentos de Maneater. Entre ataques às embarcações, saltos para tentar devorar os atiradores e esquivas dos tiros, tudo é muito frenético e empoderador.

Dependendo do impacto de nossos ataques, que são medidos em um ranking, até mesmo pescadores famosos são convocados para nos matar. Assim, se conseguirmos derrubá-los, somos recompensados com alguns pontos extras, que são cruciais para arquitetar nossa vingança contra Scaly Pete.

Desse modo, Maneater tem conceitos divertidíssimos em seus combates, que são complementados com mecânicas de melhorias interessantes. Nas grutas aquáticas, que se tornam nossas casas nas cidades do mapa, podemos trocar ou realizar upgrades em nossos atributos, que variam de mandíbulas elétricas à radares de sonar poderosos. Assim, o jogo é entoado também com um ritmo RPG bem implementado. 

Descobrindo o planeta animal

Outro atributo que se destaca em Maneater é a sua apresentação no geral: o jogo é incrivelmente detalhado, trazendo profundidade para uma trama que, teoricamente, é bem simples. Ao visitarmos pontos de localização, por exemplo, cutscenes são exibidas, contando a história sobre objetos, monumentos e personagens das cidades. Para melhorar, tudo está traduzido para o português, incluindo a narração, que dá um toque humorístico ao jogo com muitas piadas.

Além do mais, o narrador fala sobre curiosidades da vida de animais aquáticos enquanto estamos jogando, satirizando programas de televisão de vida selvagem. Feito de forma sutil, mas com muitas informações inusitadas, é um detalhe da apresentação que deixa o jogo mais envolvente, fazendo o jogador mergulhar na aventura, literalmente.

Quanto ao visual, cabe dizer que o port de Maneater teve de passar por alguns ajustes para chegar ao Switch. Se comparado ao seu lançamento nos outros consoles, podemos ver como determinadas texturas e detalhes tiveram sua qualidade gráfica reduzida. Um exemplo disso é quando estamos nadando de barbatana para fora, em que o mar não está tão vivo e os elementos fora d’água estão muito opacos. Mesmo assim, pode-se dizer que existem cenários e animações bonitas ao longo do jogo, como as grutas brilhantes de Sapphire Bay e a luminosa Golden Shores, que valem a pena o passeio.

Tratando-se do desempenho gráfico, é possível notar quedas de fps, slowdowns e falhas de animação, tanto no modo portátil, quanto com o Switch docked. Eles são recorrentes, ocorrendo mais em determinados cenários, principalmente a instabilidade de quadros por segundo. Apesar dessas falhas não sucederem a ponto de tornar a jogatina impraticável, são defeitos perceptíveis que podem incomodar jogadores mais detalhistas.

Peixe dentro d’água

Com bastante conteúdo, Maneater é um jogo divertido e engraçado, principalmente por portar conceitos criativos e momentos singulares, como os saltos acrobáticos que realizamos para assassinar humanos em terra firme e as batalhas memoráveis contra barcos motorizados. Apesar de algumas falhas, o título é uma boa pedida para se passar horas explorando ambientes aquáticos imersivos, nos permitindo viver o outro lado das histórias de tubarões exibidas em filmes e programas televisivos amedrontadores.

Prós

  • Boas sacadas através da oportunidade de controlar um tubarão-cabeça-chata;
  • Mundos abertos com muitos coletáveis, atividades extras e espécies de animais;
  • Momentos de jogatina únicos, como ataques a humanos e perseguições;
  • Tom humorístico em sua narrativa e apresentação detalhada.

Contras

  • Em alguns momentos, os combates podem ser penosos e repetitivos;
  • Quedas na taxa de frames por segundo e bugs em animações;
  • Alguns ambientes e efeitos não estão tão bonitos no Switch.
Maneater — Switch/PS4/PS5/XBO/XBX/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Tripwire Interactive

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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