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Análise: Poison Control (Switch) é um jogo de tiro que explora múltiplos infernos pessoais

Apesar de problemas técnicos no gameplay, Poison Control é um TPS único e estiloso.

Apesar de ser mais conhecida por seus RPGs estratégicos (como a série Disgaea), a Nippon Ichi Software é uma empresa que testa vários gêneros com seus jogos usualmente excêntricos. Em Poison Control, alguns de seus desenvolvedores decidiram testar as águas com um jogo de tiro em terceira pessoa estiloso e com um funcionamento bastante peculiar.

Menina veneno

Sem memórias, o personagem do jogador (é possível escolher um menino ou uma menina) acorda no inferno. Lá ele é atacado por uma criatura chamada Klesha, que acaba se revelando uma Poisonette (uma “menina veneno” que pode tomar o seu corpo e dar ao protagonista poderes especiais). Para sair desse lugar e obter a passagem para o Paraíso, onde é possível realizar um desejo, a dupla terá que cooperar e limpar os Belles’ Hells.

O jogo é constituído de múltiplas fases, cada uma representando um inferno diferente. Angústias da vida, rancores e amarguras que ficaram guardados após a morte ou até mesmo sofrimentos auto-infligidos. Todos esses sentimentos e situações que pesam e atormentam as pessoas acabam levando à construção de “infernos pessoais”, cujas histórias são bem interessantes.

Com base nas temáticas, cada área pede que o jogador cumpra uma determinada missão. Por exemplo, em um inferno relacionado ao dinheiro, o jogador precisa coletar moedas pela fase. Já em outro sobre uma mangaká, é necessário limpar o veneno que tampa as ilustrações no piso.

O jogo conta com gameplay de tiro em terceira pessoa e uma mecânica de purificação. Conforme avança pelas áreas, o jogador irá encontrar várias poças de veneno. Ao apertar e segurar um botão (por padrão, o R), é possível dar o corpo do protagonista para Poisonette e andar sobre elas sem sofrer dano.

Ao soltar o botão, a Poisonette retorna o corpo ao dono original e purifica qualquer área sobre a qual tenha passado, restaurando um pouco de HP no processo. Caso ela consiga dar uma volta completa retornando à posição original, a poça de veneno brilha em uma coloração dourada. Quaisquer inimigos que estejam pisando na área a ser purificada recebem dano, porém esse valor é ampliado se a área for grande e estiver brilhando dessa forma.

Fazer essa purificação também leva à descoberta de tesouros, incluindo três Poison Jewels que são necessárias para obter uma nova arma por área. Com isso, o jogo incentiva a exploração e a limpeza de todos os infernos. Além da já mencionada possibilidade de utilizar a purificação como uma armadilha para lidar com os inimigos de forma esperta.

Porém, um problema grave do jogo está nos aspectos técnicos do combate. Em particular, o sistema de tiro é um tanto travado, sendo abaixo do esperado para o gênero. Para mirar no oponente, o jogador utiliza o analógico direito para movimentar a retícula. Existe um sistema de lock-on, mas ele só pode ser ativado fora da tela de mira e sua efetividade é baixa, mesmo com a opção de aumentar a força do ajuste de mira. Entretanto, a pior parte é que há problemas de colisão, fazendo com que os tiros nem sempre sejam registrados, especialmente quando o jogador está muito próximo dos inimigos.

Esse problema de acertar o inimigo também acontece com a purificação, sendo possível que um inimigo esteja dentro da área afetada, mas não tome dano. Outro problema grave  tem relação com a draw distance, fazendo com que inimigos um pouco distantes desapareçam da tela durante o combate. Esses problemas acabam gerando situações frustrantes que vão além da habilidade do jogador. Comparativamente, as quedas nas taxas de quadros por segundo, que também acontecem, especialmente quando há vários inimigos em tela, são um problema muito menor.

Felizmente, o jogo em si é simples sem apelar muito para a dificuldade. Mesmo contando com níveis e equipamentos, o jogador não precisa se preocupar muito com grinding ou qualquer coisa similar. Armas diferentes têm suas próprias funcionalidades e vale a pena testá-las e ver qual mais te atrai, mas, mesmo tendo atributos e podendo ser fortalecidas com dinheiro, não é tão difícil utilizar equipamentos do início do jogo.

Conforme avança pelas fases, o jogador também encontra itens chave chamados Soul Fragments. Ao encontrá-los, o jogador tem a oportunidade de melhorar os seus atributos pessoais. São ao todo cinco categorias (sinergia, empatia, entendimento, toxicidade e confiança) e a melhoria delas ocorre ao realizar escolhas específicas para os diálogos. Ao aumentar o nível dos atributos, o jogador irá desbloquear novas habilidades. Vale destacar que, uma vez concluída a fase, não será possível ganhar pontos ao refazê-la.

Estiloso e divertido apesar das falhas

Um detalhe que chama a atenção no jogo é o seu estilo, especialmente perceptível em sua interface e nos designs 2D. O título tem um tom moderno e aposta nos tons rosados para criar uma visão pop de inferno. Os menus em particular saltam aos olhos por esse motivo.

Cada área também apresenta detalhes específicos do seu tema, incluindo cores, objetos e até mesmo algumas variações de skins dos inimigos (usualmente na forma de chapéus). Graças a isso e à trilha sonora, as localidades são bem interessantes. Em particular, esse é um jogo que me chamou mais atenção ao utilizar a dock do Switch, o que me permitia uma visão mais ampla das áreas na TV. Não reparei nenhuma diferença de performance entre os dois modos.

Apesar dos problemas de funcionamento do gameplay, Poison Control é um jogo bastante divertido. O título aborda tópicos pesados da vida cotidiana como infernos pessoais e a mecânica de purificação de veneno em particular é realmente muito peculiar, trazendo um jogo único dentro do gênero. Com um pouco mais de polimento, seria um jogo excelente, mas ainda vale a pena para quem curte jogos estilizados e experimentais.

Prós

  • Um jogo estiloso em interface e trilha sonora;
  • História curiosa sobre infernos pessoais;
  • Mecânica de purificação de veneno que valoriza a exploração e o planejamento estratégico de armadilhas para os inimigos;
  • Jogabilidade simples que não exige grinding nem uma preocupação excessiva com os equipamentos.

Contras

  • Alguns problemas técnicos do gameplay.

Poison Control – Switch/PS4 – Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Icaro Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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