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Análise: The House in Fata Morgana: Dreams of the Revenants Edition (Switch) é uma das melhores visual novels de todos os tempos

Jogo da Novectacle é uma das grandes obras-primas do gênero visual novel.

Originalmente lançada para PC no Japão em 2010, The House in Fata Morgana é uma visual novel cujo nome é familiar para uma boa parcela dos fãs do gênero. Apesar de não ser tão popular quanto a série Science Adventure (Steins;Gate, Robotics;Notes) e obras já adaptadas para anime, ela cativou uma variedade de jogadores.

Desenvolvida pela Novectacle, The House in Fata Morgana foi traduzida para o inglês e publicada pela MangaGamer no PC em 2016. A parceria também rendeu a localização de The House in Fata Morgana: A Requiem for Innocence (que inclui tanto o fandisc de mesmo nome quanto uma coletânea de histórias curtas) em 2018.

The House in Fata Morgana: Dreams of the Revenants Edition é um pacote completo que inclui esse conteúdo extra e o epílogo Reincarnation. Lançado anteriormente no PS4 e no PS Vita, o título chega ao Switch e demonstra que realmente é uma visual novel de altíssima qualidade.

Tragédias humanas e o peso da empatia

Tudo começa quando o protagonista acorda em uma estranha mansão. Sem vida e parecendo congelado no tempo, o lugar foi palco de várias tragédias ao longo dos anos. Guiado por uma enigmática empregada que não oferece o próprio nome, cabe ao jogador observá-las.

O protagonista não tem memórias e nem mesmo uma personalidade ou identidade. Abrir as portas da mansão é uma forma de tentar recobrar um senso de self, uma definição para a sua existência. Conforme avança pelo local, as decisões do jogador permitirão conhecer mais a fundo as verdades escondidas pela casa ou levarão a uma variedade de finais ruins.

Sem entrar em muito detalhe na história em si, o principal fator dela é a tragédia. O enredo é marcado pelo sofrimento de vários personagens ao longo dos anos. Os personagens passam por eventos desesperadores, muitas vezes causados por atitudes bastante humanas, falta de diálogo, vergonhas e medos internalizados. As reviravoltas são bem apresentadas e cada “conto” é envolvente e emocionante.

Um elemento fundamental para a força da narrativa é a empatia. Como certo personagem diz, determinadas tragédias são suportáveis porque não são suas. No entanto, a capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir a sua dor e sofrimento ao perder as esperanças é um elemento fundamental da história. É esse sentimento que liga tanto o jogador quanto o protagonista aos personagens que sofreram com os eventos apresentados.

Trata-se de um ensaio sobre o peso das nossas ações (e inações), arrependimento, perdão e a capacidade de seguir em frente diante da adversidade. É uma obra que aborda muito bem a natureza humana.

Mergulhando em um universo gótico

Um aspecto que chama a atenção em Fata Morgana é o seu estilo visual, que conta com ilustrações de Moyataro, cujo traço é único e facilmente distinguível em relação a outros títulos do gênero. Em especial, chama a atenção o contraste entre luz e sombras, assim como o fato de que o design dos personagens é bastante detalhado com contornos mais marcados e escuros, especialmente ao redor dos olhos.

As imagens de fundo também se destacam, seja pelo seu uso de elementos realistas, seja pela arquitetura de época que faz parte do retrato dos vários momentos da história. O figurino dos personagens também é importantíssimo nessa caracterização.

Vale destacar que, na história Reincarnation, a obra opta por um traço diferente. A mudança é nítida, sendo o estilo mais parecido com o que poderia ser considerado “típico de anime”. Os contornos do rosto, especialmente do nariz e dos olhos são alguns dos indicadores. Outra mudança desse trecho em particular é o fato de que os personagens possuem dublagem em japonês, sendo todo o resto do jogo sem vozes.

Em Short Stories, a obra muda para o formato NVL, em que uma parede de texto é apresentada sobre uma imagem estática ao fundo. Os personagens não são mostrados na tela nessas histórias, que são pensadas como um extra. Tanto em Reincarnation quanto em Short Stories, as mudanças estéticas são bastante adequadas para as suas propostas. Enquanto a primeira é situada em uma ambientação mais moderna onde o traço menos grosseiro encaixa perfeitamente, a segunda aborda “histórias perdidas no tempo”.

As letras das músicas podem ser conferidas na seção de Extras.
Além das ilustrações, as músicas têm um papel fundamental para a atmosfera da obra. Em particular, cada uma das áreas por trás das portas da mansão usa certas trilhas, associando-as aos personagens e ao contexto histórico. Um bom exemplo disso é Dammi una Sigaretta, que reflete bem a época de avanços tecnológicos e a personalidade boêmia de uma das pessoas mais relevantes da narrativa.

Boa parte das trilhas usam vocais com um vasto leque de representações, como emulações de músicas religiosas (ex: Sanctus) e canções populares medievais (ex: Ephemera). Curiosamente, muitas delas contam com letras em português. Porém, esse quase chega a ser um ponto contra o jogo pelo fato de que elas são claramente mal escritas, não compreendendo a estrutura real da língua. Questões de pronúncia também ajudam a torná-las ininteligíveis.

Como uma edição completa de The House in Fata Morgana, a obra opta por bloquear o conteúdo de acordo com o avanço do jogador. É necessário terminar a obra principal para acessar A Requiem For Innocence e, a partir daí, os próximos pontos de história. Porém, caso o jogador já tenha experimentado a saga anteriormente, é possível responder a três perguntas de um ponto avançado da história para desbloquear tudo, exceto a seção de Extras.

Nesse menu de Extras, inclusive, há galerias com todas as artes da coletânea e as músicas, assim como ilustrações promocionais. Há também um recurso de salvar determinados trechos de falas com voz para acessá-los a qualquer momento pelo menu.

The House in Fata Morgana: Dreams of the Revenants Edition é uma excelente visual novel que conta uma história envolvente e emocionante. Com uma atmosfera muito bem construída graças a seu estilo artístico único e sua trilha sonora de alta qualidade, trata-se de uma obra-prima do gênero. Como coletânea, a edição de Switch traz uma forma perfeita de se apreciar o jogo.

Prós

  • Tragédias bem contadas focadas em aspectos humanos;
  • Discussões interessantes sobre empatia e perdão;
  • Estilo artístico único que chama a atenção;
  • Atmosfera bem construída, especialmente graças à trilha sonora;
  • Edição completa inclui A Requiem For Innocence, Short Stories e Reincarnation;
  • Galerias de ilustrações e músicas.

Contras

  • Nenhum.
The House in Fata Morgana: Dreams of the Revenants Edition – Switch/PS4/PS Vita – Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Limited Run Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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