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Análise: Alex Kidd in Miracle World DX (Switch) foca em fidelidade e nostalgia

Um prato cheio aos fãs do original e um gosto amargo aos novos jogadores




Os anos 90 foram tempos mágicos para a indústria dos videogames, principalmente por terem sido palco da ferrenha rivalidade entre Nintendo e Sega. Além da briga entre consoles, as discussões de Mario versus Sonic eram algo que dominava diversas conversas naquela época. Entretanto, o que nem todos sabem é que o ouriço azul não foi a primeira tentativa de um mascote páreo a derrotar Mario feita pela Sega, já que antes dele tivemos um menino de orelhas grandes e um punho violento: Alex Kidd.

Alex Kidd in Miracle World (Master System) foi um clássico de plataforma do primeiro console doméstico bem sucedido da Sega, jogo estrelado pelo então mascote da companhia na época. Todavia, o personagem não conseguiu fôlego para se manter como símbolo e, logo após mais alguns lançamentos mal sucedidos, caiu no esquecimento ao ser substituído por Sonic. 

Alex Kidd in Miracle World DX (Multi) marca o primeiro retorno em anos da franquia, que ficou dormente por mais de 30 anos, com um remake do clássico de Master System. A dúvida que impera com esta volta é: seria esta repaginação suficiente para uma revitalização de sucesso?


Soco, soco, bate, bate




A aventura é voltada à jornada de um menino morador do planeta Áries, Alex Kidd. Após vários anos estudando a técnica Shellcore, arte de combate milenar que faz com que aquele que a utiliza seja capaz de destruir até rochas, o garoto parte em uma jornada quando descobre que o reino de Radaxian foi atacado por um vilão chamado Janken.

Toda esta simples trama recebe um charme adicional no remake. A história é a mesma, porém há um trabalho maior em fazer com que os eventos sejam mais claros e interessantes ao jogador, seja na forma de novos diálogos ditos por NPCs espalhados pelos estágios ou até mesmo com uma cena inicial animada.




Quanto à jogabilidade, a aventura original é essencialmente a mesma aqui. Alex Kidd tem seu limitado arsenal de movimentos de volta, podendo realizar seus conhecidos pulos e poderosos socos. Há ainda a presença de alguns power-ups para tornar a vida do jogador mais fácil, como um bracelete que permite socos com dano a longa distância ou uma bengala voadora.

Os poderes extras podem tanto ser encontrados dentro de blocos com interrogação quanto comprados nas ocasionais lojas que aparecem em algumas fases. Não é muito incômodo consegui-los pelo método de compra, já que há dinheiro por toda parte nas fases, seja dentro de blocos ou de forma visível.

Exceto por alguns níveis novos exclusivos, Alex Kidd in Miracle World DX mantém a mesma progressão do original. A campanha segue um esquema de fase atrás de fase, podendo ter um chefe no fim ou não. O objetivo é chegar ao fim dos estágios para pegar aquele onigiri favorito do protagonista — com o detalhe de que o tradicional bolinho de arroz japonês pode ser trocado para um hambúrguer ou outros alimentos nas opções do jogo.

Uma aparência renovada




Miracle World DX segue uma linha mais próxima do recente Wonder Boy: The Dragon’s Trap (Multi), portanto a grande novidade aqui é, sem dúvidas, o mérito gráfico. O jogo manteve um estilo pixel art, porém o foco foi de replicar o estilo 16-bits utilizando algumas ferramentas gráficas que temos à nossa disposição atualmente. A sensação é quase como se fosse um remake feito para o Mega Drive.

Os cenários receberam uma grande atenção em detalhe, o que garantiu uma expansão dos temas de cada fase. Da cachoeira no estágio inicial até as diferenças do tempo do dia, os locais beneficiaram-se muito desta revisão gráfica como forma de ficar mais plausíveis e conectados entre si. Entretanto, apesar da pixel art bem-feita, há alguns momentos em que a paleta de cores se mostra um pouco saturada demais e nota-se também um certo abuso de filtros, embora longe de prejudicar a qualidade de imagem da aventura.




O próprio Alex Kidd também recebeu alguns upgrades visuais. O menino das orelhas grandes ganhou um leque de animações mais expressivas, acompanhadas de um novo sound design que dá sons mais compatíveis com suas ações, como seus socos poderosos.

Vale destacar que o jogo também impressiona no departamento sonoro. O Alex Kidd in Miracle World de Master System continha um acervo limitadíssimo de músicas e isso foi expandido aqui: temos remixes — muito bem-feitos, por sinal — de todos os temas originais, assim como composições inteiramente novas.

Aos que buscam conteúdo extra, além dos já mencionados níveis extras, temos também batalhas reimaginadas para alguns bosses, o que resolve o problema que os capangas do Janken, por exemplo, tinham com seus confrontos repetidos. Todavia, a clássica briga por papel, pedra e tesoura foi mantida, o que é bom por fazer parte da identidade da franquia, mas continua tendo uma falha questionável de game design: caso você não tenha o item que revela o pensamento de seu oponente, sua vitória em uma primeira vez nesse minigame depende totalmente da sorte.




As similaridades com Wonder Boy: The Dragon’s Trap também incluem a possibilidade de alternar instantaneamente entre os gráficos novos e os originais. O interessante é que esta ferramenta se aplica ao jogo todo, mesmo nos níveis novos, e ainda mantém as melhorias do remake em ambos os cenários. Por exemplo: tanto no modo clássico quanto no modo moderno temos as melhorias de UI, os NPCs extras, entre outros.

Resquícios de um artefato do passado

Ao priorizar fidelidade, Alex Kidd in Miracle World DX infelizmente acaba sofrendo de alguns problemas. Tudo, em essência, ainda é o jogo de Master System, o que pode ser nostálgico mas ao mesmo tempo muito limitado, principalmente quando levamos em conta o quanto o gênero de plataforma evoluiu desde então.




Alex ainda é um personagem um tanto escorregadio de se controlar e todo o level design das fases ainda mantém uma filosofia arcaica de contar com movimentos precisos, exigindo quase uma perfeição por pixel do jogador. A falta de mobilidade do garoto também é algo a se questionar; seu principal movimento, o soco, possui um alcance apenas horizontal e curto, o que somado às hitboxes precisas dos inimigos pode ocasionar em muitas mortes frustrantes, principalmente para aqueles não acostumados com o jogo original. 

O que também não contribui é como o menino das orelhas grandes parece vulnerável. Praticamente qualquer obstáculo nos estágios pode matá-lo em apenas um golpe, desde os inimigos mais básicos até um bruxo invencível que pode surgir dos blocos com interrogação e que segue o jogador até que a tela seja trocada.

O remake, no entanto, tenta contornar estes problemas enraizados disponibilizando uma opção de vidas infinitas, função que remove os game overs e a necessidade de voltar ao começo da fase. Sem dúvida isso alivia muito a frustração, mas ainda deixa aquele gosto amargo de que talvez teria sido melhor revisar estas convenções arcaicas dos anos 80, ao invés de apenas colocar um curativo por cima da ferida.




Outra convenção que infelizmente é herdada do clássico é a duração da campanha. Mesmo com os níveis novos, a jornada como um todo não demora mais do que duas ou três horas para terminar. Temos o modo Boss Rush e o modo clássico, que é uma recriação do jogo do Master System, com extras após a finalização, mas ainda não é o suficiente para estender muito a quantidade de horas.

Um clássico que manteve sua idade

Alex Kidd in Miracle World DX é, sem dúvida, mais um retorno bem-vindo de uma das diversas franquias esquecidas pela Sega. Com gráficos atualizados, músicas refeitas e novos níveis, o gosto que o remake deixa é de ter uma roupagem bonita e chamativa para um jogo que, em essência, ainda está muito preso aos anos 80.

Aos que gostam do clássico, não há motivos para não recomendar esta aventura, já que sem dúvidas é o novo método definitivo de jogá-la. Porém, aos que procuram por um jogo de plataforma de alta qualidade, não podemos deixar de negar que há opções melhores no mercado.

Prós
  • Bons gráficos;
  • Excelente trilha sonora;
  • Recriação de chefes repetidos;
  • Novos níveis.

Contras
  • Personagem não tão agradável de controlar;
  • Level design questionável;
  • Curta duração.

Alex Kidd in Miracle World DX — PS4/XBO/PS5/XSX/Switch/PC — Nota 6.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Merge Games



Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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