Jogamos

Análise: Ninja Gaiden: Master Collection (Switch) corta qualquer estereótipo infantil atrelado ao console

A coletânea conserta pouco do que foi feito nos lançamentos originais, mas agrega muito à biblioteca do híbrido da Nintendo.


Com uma biblioteca cada vez mais diversa, o Nintendo Switch tem novamente em Ninja Gaiden: Master Collection uma coletânea de jogos do passado cercada de altas expectativas.

Após pularem os consoles nintendistas nos dois primeiros títulos, Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge (Wii U) enfim recebe seus antecessores em telas da Big N, além de ser a primeira vez que o game usufruirá da portabilidade como feature — mesmo que isso não salve sua reputação.

Um time de Ninjas

A equipe de desenvolvedores por trás da trilogia, o famoso Team Ninja, é sem dúvidas um dos estúdios mais dedicados em suas produções. Ao mesmo tempo, o estúdio também é sinônimo de qualidade, seja no campo de jogos de luta, — com franquias como Dead or Alive — , em souls-likes como Nioh (PS4/PC) ou até mesmo em jogos, digamos, esportivos, como Dead or Alive Xtreme Beach Volleyball (XB). 

Dentre tantas opções de franquias, destaca-se Ninja Gaiden, a série inicialmente dos arcades que o estúdio reviveu em 2004 com conceitos totalmente repaginados para uma série de três entradas… Bem, mais ou menos. 

Acontece que os mesmos três jogos iniciais já tiveram diversos relançamentos com os subtítulos Black, Plus e Sigma — essa última, a trilogia em torno do ninja Ryu Hayabusa que está sendo relançada para os consoles atuais e o Nintendo Switch. É uma oportunidade ímpar de oferecer não apenas aos fãs, mas também àqueles nintendistas que nunca puderam experimentar os títulos, uma primeira vez nas três aventuras. 


Os três jogos na Master Collection não são ports dos originais, mas remasters de versões que adicionaram novos conteúdos e customizações, sob esse subtítulo de Sigma. Os dois primeiros foram lançados exclusivamente para sistemas Microsoft, mas estão aqui na variante Sigma, feita para PlayStation 3 algum tempo depois. 

O terceiro game, por outro lado, foi lançado em 2012 para todos os consoles da concorrência, mas está presente na coletânea em sua variante Razor's Edge, que chegou um ano depois para o Wii U em apenas algumas regiões, uma vez que agências europeias de classificação etária o julgaram como violento demais e não autorizaram a sua distribuição.

Qual é o destino certo para um ninja?

Nessa bagunça de novos títulos, relançamentos e sequências, há entre os fãs de Ninja Gaiden uma clara divisão a respeito de quais seriam as melhores versões da história. A polêmica foca em especial nas versões Sigma das duas primeiras entradas: alguns não gostam das mudanças e acharam que a dificuldade foi atenuada; já outros gostaram das novas animações e dos gráficos e mecânicas retrabalhadas, mas nunca há consenso na comunidade.


Na tentativa de justificar a escolha pelas versões Sigma nessa coleção, Fumihiko Yasuda, um dos chefes do Team Ninja, esclareceu que eles simplesmente não têm mais muitos dos arquivos originais e que o estúdio considera as versões Sigma como as versões "definitivas" de ambos os títulos de qualquer forma. Doa a quem doer, a palavra final foi dada.

Um protagonista difícil de se acompanhar

No momento de lançamento original do primeiro game e seguindo as tendências da época, a tecnologia empregada no título reflete muitas carências dos jogos da sexta geração: os ambientes dependem muito dos ângulos fixos de câmera e também das repetitivas tarefas de encontrar o item X e usá-lo no local Y, integradas de forma bastante descartável. 

O ponto central da franquia são as lutas, que são agradavelmente desafiadoras em verdadeiros combates hack'n'slash para todos os gostos. Os combates contra bosses, em particular, são bastante variados. Ainda que Ryu dependa apenas de sua arma equipada, as interações com o cenário ou mesmo o simples aguardar do momento correto para bater são suficientemente diversos para não entediar.

A história segue o jovem ninja Ryu Hayabusa, que busca vingança depois que o arqui-inimigo de seu clã incendiou sua aldeia natal. Em termos de história, não tem nada realmente muito surpreendente, com vilões extremamente caricatos, misturas mecha-humanas sem explicação e o uso e abuso de ambientes contrastantes, como Egito Antigo, modernismo tecnológico e estética religiosa, tudo isso enquanto se joga com um ninja em pleno século XXI.



A jogabilidade se manteve como nos lançamentos originais, e ao mesmo tempo que proporciona bons momentos de porrada e cortes, ela mostra que nem todos os sistemas de jogo funcionam como os criadores idealizaram — principalmente a mudança de câmera fixa para dinâmica, um grande empecilho para que um bom fluxo de gameplay possa ser garantido. O Switch, no entanto, aguenta bem o tranco e proporciona uma jogabilidade fluida o suficiente para não incomodar.

Ao mesmo tempo, vale a pena observar mais de perto o ambiente, pois muitas vezes encontramos segredos menores e maiores escondidos no mundo do jogo e só é possível chegar aos lugares correspondentes se você usar as habilidades acrobáticas de Ryu, como caminhar em paredes e wall jump. Essas mecânicas de movimentação continuam interessantes até os dias de hoje, apesar de estarem muitas vezes quase gritando para ser notadas.

Uma nova aventura

Ninja Gaiden Sigma 2 foi originalmente lançado em 2009, e é visível o aumento de escopo da franquia em quase todos os aspectos, principalmente em termos de qualidade. Os pequenos quebra-cabeças do predecessor deram lugar a mais lutas sangrentas e momentos mais diretos de ação, como em Devil May Cry. 

Ainda assim, os desenvolvedores conseguiram acompanhar a ação bruta com momentos mais descontraídos e belos, mas é aí que o Switch sente muito mais. Em especial no modo portátil, quedas de frame, engasgos e um desempenho geral abaixo da média são verificados nos trechos gráficos mais carregados, o que é necessariamente um problema, já que trata de um relançamento de um game de 2008 


As lutas agora têm um pouco mais de profundidade tática, com necessidade de contra-ataques, timing preciso para se defender e usar e abusar das possibilidades de combos. Embora já fosse importante no predecessor combinar habilmente contra-ataques e manobras evasivas com ataques, agora especialmente no último terço da campanha a escolha certa de arma é crucial. 

Ainda melhor que no primeiro game, Ryu não só usa a espada de sua família, mas também uma katana dupla, foices e até mesmo garras para as mãos e pés. Acompanhando cada arma há também diferentes movimentos e combinações, e descobri-los e aperfeiçoá-los é trabalhoso, mas tão divertido quanto as batalhas de chefes ainda maiores e mais absurdas.

Infelizmente — ou felizmente para o público ao qual o game se destina —, os capítulos em que jogamos com personagens femininas, que por um lado são mudanças positivas nas mecânicas de gameplay, tiveram um ênfase grande na sensualidade e nos “atributos” das personagens, um aspecto comum nos trabalhos de Itagaki, com físicas de pulos e balanços tão exageradas que podem ser desagradáveis, ou mesmo hilárias. Ainda assim, o jogo é mais que apenas isso e o Team Ninja entregou aqui uma aula de ação, que é o ponto alto da série.

Um final que deixa a desejar

Chegamos a Ninja Gaiden 3: Razor's Edge, que é o ponto mais baixo da série até o momento. O game foi o primeiro a não ser mais dirigido por Itagaki, que já havia deixado o Team Ninja na época, ficando agora a cargo de Fumihiko Yasuda e Yosuke Hayashi, responsáveis por Nioh e Nioh 2 (Multi), o que causou uma estranheza na baixa qualidade no título, aliada às altas expectativas pela direção da dupla.

Quanto ao enredo, o jogo definitivamente tem a premissa mais interessante de toda a trilogia, já que desta vez Ryu é confrontado por suas ações e o sofrimento de suas vítimas, e tem que carregar daí uma maldição durante toda a campanha. O foco foi deslocado ainda mais para a ação, com todos os outros aspectos completamente colocados de lado, sendo assim um palco de um gigante massacre sangrento a todo momento. 

Isso não é um eufemismo, pois Ryu vai de uma chacina atrás de outra. Pode parecer incrível no início, em especial aos fãs do gênero; no entanto, à medida que o jogo avança, torna-se cada vez mais aparente que o sistema de combate não tem profundidade tática alguma, em um grande contraste com o título anterior da série. 


O bloqueio de ataques e projéteis está também completamente quebrado, já que mesmo ataques leves, antes inofensivos, ainda causam pelo menos uma pequena quantidade de dano, sendo necessário, ao invés da clássica mecânica de bloqueio da série, se basear muito em esquivar para não ser atingido.

O desempenho no Switch segue os mesmos moldes do segundo game, com momentos surpreendentemente fracos em desempenho no modo portátil e os visuais parecendo ter muito mais “blur” do que nos demais. A inteligência artificial dos inimigos também é absolutamente fraca, sendo possível assim dizimar grandes hordas com uma mera repetição dos mesmos ataques.

Para coroar a repetição, os contrastantes mundos e cenários anteriormente criativos deram lugar aos mesmos locais monótonos de games de ação, como laboratórios, subterrâneos e navios de guerra.

O Caminho Ninja não é para qualquer um

Em pouco tempo, eu consegui passar pelos três jogos em Ninja Gaiden: Master Collection no modo mais fácil e finalmente pude preencher uma lacuna na minha lista de franquias pendentes. Posso dizer agora que entendo o porquê da comunidade de fãs, apesar de pequena numericamente, mantém a franquia tão alta e tem desejado um sucessor de qualidade há anos. 


Ao mesmo tempo, fica claro que nenhum dos jogos é perfeito. Encontro falhas em cada um deles, em especial no desempenho dos dois últimos no Switch, mas ainda assim as duas primeiras partes me proporcionaram momentos nos quais tive o grande prazer de desfrutar a história da trama e torcer por Ryu e os demais protagonistas. A primeira parte impressiona para um game de 2004; e a parte 2 é, aos meus olhos, um excelente hack'n'slash e pertence à sala de troféus do gênero. 

Ninja Gaiden 3 é certamente a ovelha negra da série, me decepcionando muito com sua dose exagerada de ação. Ainda assim, foi possível se divertir e mergulhar no enredo mirabolante construído. Torço para que Ninja Gaiden: Master Collection alcance bons números de vendas que justifiquem uma quarta parte pelo Team Ninja. Definitivamente me junto agora a mais um seleto fã clube de games de nichos tão bem definidos e fico na expectativa para a chegada de mais entradas em consoles da Nintendo.

Prós

  • Um prato recheado para os fãs do gênero ação;
  • Batalhas de chefes bem desafiadoras e interessantes;
  • Muitas armas diferentes e, portanto, diferentes estilos de luta;
  • Bastante diferente de qualquer outro game na biblioteca do Switch.

Contras

  • Os problemas da câmera não foram resolvidos;
  • Pouquíssimo conteúdo novo foi adicionado à coletânea;
  • Não houve mudanças em pontos severamente criticados no terceiro game.
Ninja Gaiden: Master Collection — Switch/XBO/PS4 — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise : Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise publicada com cópia cedida pela Koei Tecmo

Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google