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Análise: The Great Ace Attorney Chronicles (Switch) é uma maravilhosa coletânea de batalhas judiciais de época

Duologia de 3DS que não havia sido lançada no Ocidente é uma obra imperdível.

A duologia The Great Ace Attorney foi lançada originalmente para 3DS apenas no Japão. Trabalhando com um contexto de muitos anos antes da série principal, as obras apresentavam os percalços do antepassado de um antepassado de Phoenix Wright. Felizmente, a Capcom finalmente decidiu lançar os jogos em inglês através da coletânea The Great Ace Attorney Chronicles. Com versões para Switch, PC e PS4, ela se mostra uma fantástica entrada da franquia.

A jornada de Ryunosuke Naruhodo

The Great Ace Attorney Chronicles conta a história de Ryunosuke Naruhodo, um antepassado de Phoenix Wright. Por uma série de circunstâncias inesperadas, o rapaz acaba se envolvendo com os tribunais enquanto ainda era um estudante.

Sem confiança em si mesmo e ainda muito inexperiente, o rapaz acaba tendo a oportunidade de ir para a Inglaterra e aprender mais sobre os sistemas judiciais. Conforme ele encontra vários casos, a sua convicção como advogado de defesa e sua determinação de descobrir a verdade em relação aos casos moldam o personagem em uma jornada de crescimento pessoal bem-desenvolvida.

Um aspecto muito interessante dessa narrativa é a sua ambientação. Trata-se de uma obra de época cuja história envolve o Japão na Era Meiji e a Inglaterra vitoriana. Enquanto o Japão se abre aos outros países e se esforça em estabelecer relações amigáveis com os países europeus, a Inglaterra assume o centro dos avanços tecnológicos.

Nesse contexto, várias profissões estavam ainda se desenvolvendo no Japão. Advogados, por exemplo, ainda eram novidade para o país, que estava importando alguns conceitos jurídicos e legais da Inglaterra. A relação entre os países acabava sendo marcada também por grandes doses de preconceito em um período em que modernização e ideologias eurocêntricas caminhavam juntos.

A convicção para advogar pelos inocentes

Ao todo, a coletânea conta com 10 casos. Cabe ao jogador procurar pistas e utilizá-las adequadamente na tentativa de descobrir a verdade do que está acontecendo. Conforme apresenta evidências variadas, Ryunosuke terá a chance de defender seus clientes das acusações.

Apesar de não estar presente em todas as missões, usualmente o primeiro passo de um caso é a investigação do que ocorreu. Como um point-and-click, cabe ao jogador vasculhar a cena do crime e outras áreas de potencial interesse para encontrar todas as evidências. Também é possível conversar com pessoas variadas que podem oferecer informações relevantes.

Uma particularidade desse aspecto é que em alguns momentos o detetive Herlock Sholmes apresenta suas próprias observações, no que é chamado de Logic and Reasoning Spectacular. Nesses momentos, o jogador tem a oportunidade de ouvir uma descrição elaborada do que o rapaz acredita ser a verdade do caso. Infelizmente, ele acaba errando as suas observações com frequência, sendo necessário corrigir os detalhes para chegar ao que realmente aconteceu, apontando pistas mais adequadas do cenário 3D.

As interpretações fantasiosas de Herlock Sholmes são bastante engraçadas. O detetive é uma figura exagerada, dando determinados saltos de lógica que combinam bem com sua personalidade um tanto teatral. Mesmo com a tendência da série a reviravoltas inacreditáveis e hilárias, The Great Ace Attorney Chronicles consegue demonstrar bem os motivos pelos quais as teorias não funcionam.

Após a investigação, vem o ponto central de The Great Ace Attorney Chronicles: os tribunais. O papel do jogador não é simplesmente atuar como um detetive, mas conseguir montar um caso em prol da defesa do cliente e rebater as acusações apresentadas pela promotoria. Nem todas as pistas estão presentes na cena do crime, sendo alguns detalhes revelados apenas no tribunal.

Em particular, a promotoria chama testemunhas que irão acusar o cliente de Ryunosuke Naruhodo. Cabe ao protagonista pressionar essas pessoas e usar as evidências coletadas para demonstrar as inconsistências em suas falas. Em alguns pontos, o jogador também precisa usar esses itens para mostrar interpretações alternativas para o crime.

Um aspecto específico dos tribunais da Inglaterra é a presença de um júri. Junto com o juiz, uma equipe de seis jurados é responsável pelo veredito. Em determinados momentos, esses personagens podem optar por uma decisão prematura, considerando que a defesa ou a promotoria não conseguiram justificar adequadamente a sua proposição.

Isso usualmente significa que Ryunosuke é colocado contra a parede no meio dos julgamentos. Para mudar a opinião dos jurados, é necessário usar a Summation Examination, fazendo com que os personagens justifiquem sua posição. Cabe ao jogador apresentar as inconsistências que existem entre as falas deles e mostrar que ainda é cedo para o veredito.

Chama a atenção o fato de que os 10 casos possuem uma forte coesão narrativa. Ou seja, eles foram planejados para formar uma grande história interconectada. Trata-se de uma obra muito bem projetada e vale a pena prestar atenção nos seus detalhes. No entanto, é importante destacar que os três primeiros casos têm um tom bastante introdutório; é algo adequado à narrativa proposta, mas a sensação de que mais da metade do primeiro jogo foi usada como tutorial pode ser incômoda para alguns jogadores.

Uma grande aventura de época

Em comparação com a trilogia original e Apollo Justice, The Great Ace Attorney Chronicles utiliza artes 3D em sua composição. Esse também foi o caso em Dual Destinies (3DS) e Spirit of Justice (3DS). Inclusive, há algumas referências curiosas à estereoscopia, que era um dos aspectos do console original dos jogos.

Além de adicionar um senso de profundidade aos cenários (o que é explorado no Logic and Reasoning Spectacular), o uso do 3D permitiu ao jogo trabalhar com animações bastante detalhadas. Como a franquia sempre envolveu personagens muito excêntricos, é bem interessante ver a riqueza de detalhes dos modelos e dessas animações especiais. Por exemplo, Ryunosuke é incrivelmente expressivo para demonstrar seus medos e frustrações, até mesmo na forma como seu olho vaga com frequência no primeiro caso.

A trilha sonora também chama a atenção, conseguindo ao mesmo tempo manter traços da série principal e trazer algo particular para si. Ela se adequa bem ao tom de época da obra, usualmente mais solene e sério. O jogo também conta com um sistema interno de achievements, que envolve não apenas terminar cada caso, mas também algumas ações específicas que o jogador pode acabar perdendo. Há ainda galerias com conteúdos extras, como ilustrações, vídeos, músicas e algumas histórias extras curtas.

Vale destacar que é possível utilizar autoplay para que o jogo passe automaticamente de uma fala a outra, assim como adaptar o skip para que qualquer texto, mesmo que não lido, possa ser passado mais rapidamente. Caso o jogador tenha dificuldade em avançar, um "modo história" pode ser ativado para que a própria CPU resolva os casos.

Uma coletânea imperdível

The Great Ace Attorney Chronicles é um jogo que consegue abordar o conceito de tribunais de época em uma narrativa bem-amarrada que chama a atenção. Não apenas para fãs da série, como também para jogadores em geral, trata-se de uma coletânea imperdível.

Prós

  • Coesão narrativa entre os casos;
  • Ambientação de época bem-trabalhada;
  • O crescimento do protagonista Ryunosuke Naruhodo ao longo dos casos;
  • Discussão de temáticas como preconceito e corrupção;
  • O Logic and Reasoning Spectacular é um método divertido de investigação;
  • As animações dos modelos 3D ajudam a dar vida aos personagens peculiares;
  • Trilha sonora que ajuda na atmosfera das cenas, mesmo em momentos mais sutis;
  • Sistema de achievements internos e galerias com artes, vídeos, músicas e histórias curtas.

Contras

  • Três dos cinco casos de The Great Ace Attorney: Adventures passam a sensação de ser um longo tutorial.
The Great Ace Attorney Chronicles — Switch/PC/PS4 — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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