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Análise: Dragon Star Varnir (Switch) conta uma história de bruxas em um mundo alimentado por dragões

Em meio a tantos RPGs de mesma fórmula oriundos da Compile Heart, o game se destaca e oferece uma boa surpresa aos fãs do nicho, ainda que com falhas.

Com o lançamento de Dragon Star Varnir para o Nintendo Switch, a Reef Entertainment, Idea Factory e Compile Heart convidam novamente os jogadores ao reino fantástico de Varnir, explorado pela primeira vez em 2019, com um lançamento exclusivo para as demais plataformas. 

Desta vez, não apenas as bruxas que se transformam em dragões tentam escapar de cavaleiros preparados para eliminá-las, mas também será possível contar com todas as DLCs já disponibilizadas para o lançamento original — ainda que pouco conteúdo esteja presente por aqui.

Diferente de muitos outros games oriundos da Compile Heart, que parece focar mais em atributos físicos de suas personagens femininas do que no desenvolvimento delas em si, desta vez temos uma aventura profunda e mergulhada no carisma de suas personagens, coroada com um ótimo sistema de batalha, mas que também não abandona por completo o fanservice pelo qual a empresa é reconhecida.

Quando o caçador vira a caça

Assim que o cavaleiro e caçador de bruxas Zephy é mortalmente ferido em uma luta contra um dragão nas florestas ao redor do reino, duas bruxas errantes optam por salvar sua vida, seja para espremer dele informações sobre o paradeiro de uma amiga presa pelos cavaleiros ou para oferecê-lo como moeda de troca entre prisioneiros. 

Sem muitas opções de cura disponíveis, o principal alimento das bruxas, o sangue de um dragão, consegue salvar a vida de Zephy — mas com efeitos colaterais inesperados. Não apenas uma recuperação milagrosa entra em curso, porém uma rara mutação que involuntariamente transforma o cavaleiro no único bruxo que se tem conhecimento, para a surpresa e indagação de todos.

Acontece que ser bruxo — ou bruxa — em Varnir não só significa ter poderes mágicos e voar com auxílio de uma vassoura, mas ser alvo de caça pelos cavaleiros e também estar sujeito a uma terrível maldição que, com o tempo, ou os enlouquece ou os transforma em dragões — estes também caçados incessantemente por todos.


Impossibilitado de retornar a seu ofício de cavaleiro por ser agora alvo daqueles que sempre defendeu, Zephy passa a viver com as bruxas, o que lhe dá uma visão diferente do que jamais tinha ouvido delas enquanto crescia junto aos demais.

Ele então começa a questionar cada vez mais sua existência como um cavaleiro caçador e acompanha suas raptoras em missões mundo afora, tornando-se cada vez mais familiarizado com elas enquanto é colocado repetidas vezes a se questionar se aquele é o caminho que deve seguir para sua vida, ou ainda se há alguma maneira de reverter o seu quadro mutagênico.

A trama é 90% contada através de trechos de ‘skits’, aqueles diálogos com apenas uma imagem dos personagens se expressando junto da caixa de texto abaixo — e sei bem que há muitas pessoas que têm total aversão a esse método narrativo. Ainda assim, mesmo que muito linear, a história possui decisões a serem tomadas ocasionalmente, que determinam não apenas o próprio destino de Zephy, mas também o de todas as bruxas, resultando em desfechos bastante diferentes ao final.

O surpreendente sistema de batalha

Neste que é o ponto mais alto do game, o seu sistema de batalhas por turnos é travado em arenas tridimensionais ordenadas em três níveis de alturas distintos.

Para entrar em uma batalha, você deve estar em uma das dungeons que o game oferece a cada capítulo — seja como progressão da história ou retornando para cumprir missões — ou utilizar um elixir que garantirá travar duelos com inimigos específicos que podem acabar deixando itens ou atributos especiais ao serem derrotados, como loot.


Em cada dungeon, você atravessa florestas, desertos, cavernas e complexos templos, todos recheados de dragões, monstros e outros inimigos que você pode tentar evitar ou atacar vantajosamente por trás, assim como funciona na maioria dos JRPGs de turno tradicionais. Aqui, esses inimigos podem ser tão grandes ao ponto de ocuparem mais de uma camada de combate.

Dependendo de quem está liderando o grupo no momento, talentos especiais também podem ser usados no caminho para superar obstáculos. Zephy, por exemplo, pode dissolver barreiras mágicas, Laponette pode criar pontes mágicas e Minessa possibilita sempre retornar ao covil das bruxas. 

As batalhas que se iniciam em sequência são em campos de modelos tridimensionais com até três membros ativos e três membros passivos da sua party, totalmente baseadas em turnos. 

Ao invés de seguir uma sequência lógica de movimentação pelo atributo de velocidade dos participantes envolvidos, cada movimento tem um valor de espera atribuído, o qual  te deslocará para o final de uma barra no canto superior da tela.

É nela que você poderá ver quem está tomando sua vez e quanto tempo eles têm que aguardar, em uma estrutura que se adapta dinamicamente a cada movimento utilizado, similar a Child Of Light (Multi), por exemplo. 

O que torna ainda mais especial são os confrontos travados voando em três níveis distintos, o que lhe dá diferentes bônus em cada posição, dependendo da formação escolhida ou mesmo a possibilidade de evitar ataques mudando a sua altura. 

Dessa forma, há movimentos para empurrar e puxar os inimigos para as diferentes alturas e colocá-los em armadilhas previamente montadas. Além disso, é possível lançar feitiços, mudar os personagens, realizar transformações especiais, usar itens ou optar por apenas se defender.

A espécie bruxa pode ainda ser possuída pelo dragão que reside em seu interior. Isso significa que, com tempo decorrido em combate, a transformação será ativada e um aumento de todos os seus atributos e a capacidade de engolir dragões serão proporcionados como consequência.

Coma para não ser comido!

Cada ataque ou habilidade das personagens é proveniente de núcleos de dragão que são obtidos ao escolher não eliminá-los, mas sim comê-los utilizando movimentos especiais. Quanto mais forem enfraquecidos, maior será a probabilidade de que o banquete seja bem sucedido e o “prato” seja bem servido — se é que cabe o trocadilho.

Você não recebe automaticamente as habilidades provenientes dos núcleos, mas deve primeiro desbloqueá-las com pontos de habilidade em grades individuais para cada monstro e personagem. Como os pontos correspondentes são geralmente escassos, você tem que gastá-los com sabedoria. Os slots nos quais as habilidades podem ser alocadas também são limitados, o que incentiva a formação e o desenvolvimento de combinações táticas conforme o gosto do freguês.


A estrutura é montada de forma a se fazer necessário comer todos os monstros possíveis e com todos os personagens, para que possa ser completo por inteiro e, assim, ter todas as habilidades e ataques desbloqueados. 

Dentre outras possibilidades que o game oferece, há opções no hub anterior às dungeons como loja, arquivo de missões ou loja de poções, no que seria o equivalente ao covil das bruxas. Ademais, há a necessidade de fornecer a carne e o sangue do dragão como alimento às crianças bruxas para contrabalançar a loucura iminente da espécie, oriunda da maldição.

A dificuldade nessa mecânica está, no entanto, no fato de que não se deve alimentá-las com muita frequência, caso contrário elas se transformarão em dragões e se tornarão inimigos reais a serem combatidos no jogo — o que certamente oferece uma pressão de tempo opcional para aqueles que querem um dos bons desfechos da trama. É necessário buscar um equilíbrio comum entre a loucura e a transformação em dragão.


As bruxas adultas, por outro lado, podem receber presentes para conquistar seu afeto. Cada uma possui sete níveis de amizade, que narram histórias particulares das bruxas com Zephy e oferecem imagens fanservice ao chegar no penúltimo nível de afinidade, quando elas já estão caidinhas pelo protagonista. 

Tais imagens foram motivo de polêmica, uma vez que foi necessário censurá-las nas demais versões do jogo, devido às diretrizes para regulamentação etária do conteúdo do jogo que for sexualmente explícito. No Switch, essa forma de “censura” foi removida, mas não chega a ser o suficiente para merecer uma classificação etária para maiores de 18 anos de qualquer forma — afinal, não existe game da Compile Heart sem exagero em fanservice.

Nem toda fantasia é positiva

O game tem trechos principais da história dublados em inglês, contando até com a narração do épico dublador do famoso Honest Game Trailers na cena de abertura, mas a gigantesca maior parte é apenas composta de diálogos em skits, o que novamente pode ser algo que afaste os jogadores.

Além disso, o uso e equipamento de itens são muitas vezes decepcionantes e truncados, ao ponto de você esquecer ou deixar de alterá-los justamente pela falta de dinamismo ou incentivo para tal. Até mesmo o uso dos elixires e loots de missões secundárias são deixados totalmente de lado, sem razões aparentes para cumprí-las, a não ser completar o jogo em sua plenitude.


O fator mais decepcionante do game, no entanto, está em seus visuais. Apesar de ter boas artes e desenhos no estilo de anime, nos poucos momentos exigentes de modelos em 3D, como em dungeons ou batalhas, o port para o Switch deixa a desejar, de forma que aparenta ser melhor no modo portátil do que na televisão, onde a baixa otimização e nitidez das texturas aliado a modelos à la sexta geração fazem deste um notável ponto fraco.

O nível de dificuldade pode ser ajustado às preferências pessoais a qualquer momento em quatro níveis por se tratar da versão com conteúdo já adicionado — a dificuldade Inferno foi adicionada anteriormente como DLC. O conteúdo adicional pouco agrega à experiência, com apenas alguns itens, equipamentos ou habilidades novas desbloqueadas, nada que afete muito o jogo a não ser em facilitá-lo ainda mais.

Ao final da história, você pode começar um “New Game +", com possibilidade de aprimorar ainda mais seus personagens ou tomar um curso de ação diferente, buscando um desfecho mais apropriado ao seu gosto.

Afinal, um JRPG como os demais são

Dragon Star Varnir conta uma boa história de bruxas e cavaleiros, com grande destaque ao trabalho nas personagens e desenvolvimento. Acompanhar tudo é bastante satisfatório, mesmo que em skits carregadas de horas e mais horas de texto. Por outro lado, a possibilidade de diferentes desfechos e o interessante sistema de combate justificam o relançamento do game, merecendo uma maior atenção do que ele teve anteriormente. 

Muito além de apenas um jogo de comer dragões, acompanhar a aventura de Zephy é certamente experimentar uma boa história, na qual seus defeitos, ainda que existentes e notórios, não diminuem o lugar de Dragon Star Varnir na prateleira de mais um ótimo JRPG, na biblioteca recheada de opções do Switch.

Prós

  • Sistema de batalha bastante interessante e funcional, com pouca repetição;
  • Cuidado especial com as personagens e o seu relacionamento;
  • Diversidade de movimentos e a curiosa forma de obtê-los.

Contras

  • Pouquíssimas diferenças das versões anteriores;
  • Ausência da opção de língua portuguesa em suas dezenas de horas de diálogos;
  • Visuais que deixam a desejar.
Dragon Star Varnir – PS4/PC/Switch – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
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