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Análise: Last Stop (Switch) traz o absurdo para o cotidiano

O jogo narra histórias interessantes, mas falha nas mecânicas de jogabilidade.











Last Stop oferece uma gama de histórias bizarras que se misturam com o cotidiano de pessoas que vivem em uma grande cidade. O título nos permite acompanhar as vidas de três personagens envoltos em mistérios, até vermos suas vidas se entrelaçarem. Apesar de sentirmos o esforço na construção narrativa, o game falha em oferecer o básico: mecânicas de jogo.   

Mind the Gap

Last Stop se situa na Londres moderna. Quem já visitou a cidade ou gosta de produções audiovisuais que se passam no local, vai sentir um apelo familiar imediato. A ambientação é bem construída, assim como os personagens e diálogos, cheios de piadas e trejeitos ingleses. Na história acompanhamos três protagonistas: John, um pai solteiro cheio de dificuldades no trabalho; Meena, uma agente secreta com problemas conjugais; e Donna, uma adolescente que se vê diante de um mistério, juntamente com dois amigos.

Cada protagonista possui uma história que parece independente das demais. O desenvolvimento ocorre em seis capítulos para cada protagonista e um sétimo que une todos eles. Infelizmente, os capítulos são intercalados, de maneira que não é possível acompanhar todo o arco de um deles na sequência. Essa escolha se justifica pela proposta de composição do final no qual as narrativas se encontram, mas não deixa de ser frustrante ter que alternar entre os personagens, especialmente quando alguns dramas oferecem mais do que outros.




A construção do enredo procura ser algo próximo a um episódio de Black Mirror ou Além da Imaginação. Tudo parece comum e razoável no início, até que coisas absurdas e improváveis começam a acontecer. Isso, no entanto, não é feito de maneira única o suficiente para tirar a sensação de frustração no desenrolar das histórias. No entanto, o maior problema é o gameplay.

É mesmo um jogo?

Last Stop é o tipo de experiência que nos desafia a pensar sobre o que é um game. Durante a maior parte do tempo, o objetivo é apenas selecionar uma entre três opções de fala, o que pode gerar algumas pequenas ramificações na história. Na maior parte do tempo, contudo, as opções são apenas uma ilusão, com três falas diferentes para a mesma coisa. Isso acaba tornando o processo completamente irrelevante, pois fica fácil identificar quando essas alternativas podem ser ignoradas, sem fazer qualquer diferença nos acontecimentos. 

Fora isso, podemos controlar os personagens em trajetos específicos, que são guiados dentro da limitação dos cenários ou então realizar ações absurdamente dispensáveis. Em uma delas temos que fazer movimentos com o analógico para escovar os dentes. Em outra, precisamos alternar os botões L e R para que o personagem possa correr mais rápido no parque. Esses minigames não alteram em nada o destino dos protagonistas e nem geram consequências para a narrativa, sendo apenas distrações mal elaboradas.




Outro problema do jogo são os gráficos. A modelagem dos personagens não chega a ser realmente ruim, mas também não combina com o tom de realismo fantástico que o título tenta imprimir. O áudio, por outro lado, apresenta uma experiência bem consistente e compõe bem o clima de humor, tensão e mistério.

Por fim, a presença das legendas em português do Brasil é muito bem-vinda, mas existem alguns erros básicos, como o uso equivocado dos artigos, que são imperdoáveis para um produto final.



O absurdo de existir

Last Stop faz um esforço muito grande para construir uma história que mescla a fantasia e o absurdo com dramas familiares do cotidiano. Ainda que obtenha êxito no seu objetivo central, o título falha como jogo, no sentido de oferecer muito pouco a quem está acompanhando o destino dos personagens na tela. Com minigames desinteressantes e poucas ramificações na narrativa a partir das escolhas que tomamos pelos personagens, o game frustra mais do encanta, e mostra que nem tudo que é estranho gera engajamento.

Prós

  • Narrativas bem produzidas;
  • Trabalho de áudio funciona bem com o clima das histórias.

Contras

  • Minigames repetitivos e triviais;
  • Gráficos e animações simplórias;
  • Erros nas legendas em português;
  • Escolhas nos diálogos com interferências pouco relevantes.
Last Stop — Switch/PC/XBOX/PS5 — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: Switch
 Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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