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Análise: Monster Harvest (Switch) — plantando e treinando criaturinhas nas terras rurais de Planimália

Conheça uma aventura de simulação com aspectos promissores que podem agradar a jogadores de diferentes estilos.

Confesso que desde o meu contato inicial com Monster Harvest, que se deu com o seu trailer de anúncio em meados de 2020, um amor à primeira vista se revelou. A mistura de conceitos de agricultura e a possibilidade de cultivar criaturas para usar em batalhas por turnos mostrava-se extremamente promissora, enquanto seus visuais exuberantes com traços pixel art pareciam completar o pacote com muito estilo.


Um ano depois, com o jogo em mãos, uma grande questão não pôde deixar de vir em minha mente: será que esta afeição instantânea seria correspondida com a mesma intensidade?

As raízes vivas de Monster Harvest

Em Monster Harvest, jogamos como o sobrinho de Tio Spark, um cientista renomado que nos convida para visitar suas terras na região de Planimália. Ao chegarmos lá, nosso parente nos cede suas propriedades rurais para que possamos cuidar delas — afinal, ele anda muito ocupado com a sua mais nova invenção: plantas híbridas que, quando cultivadas, se transformam em pequenas criaturas que podem ajudar os humanos na colheita, no transporte e até em combates.

Todavia, eis que essa descoberta engenhosa trouxe alguns problemas para o nosso tio, que se vê perseguido por outras pessoas e entidades, as quais aparentemente desejam se apropriar de suas invenções para fins indevidos. Entre elas, temos a SlimeCo, uma empresa misteriosa que se mudou para as proximidades de Planimália.

Diante dessa situação, Tio Spark pede-nos também para monitorar os movimentos da corporação, justamente para tentar descobrir o que ela planeja. Substancialmente, isso envolve realizar pequenas explorações em masmorras próximas à cidade, repletas de criaturas sombrias que podem estar relacionadas à SlimeCo. Assim, intercalando momentos pacíficos de cuidado em nossa fazenda com incursões nas dungeons obscuras da região, a essência de Monster Harvest prontamente se manifesta por completo.

De olho nas plantações e estações

O primeiro segmento a aparecer na aventura é o de simulação de agricultura. Quando somos apresentados à fazenda do Tio Spark, podemos perceber que ela anda um tanto abandonada, exibindo uma vegetação densa e abarrotada de entulhos. Com isso, temos de reabilitá-la, minerando rochas, cortando troncos e arando a terra para que ela possa ser semeada.

Sem muito mistério, o sistema de cultivo e colheita funciona de maneira prática: na medida em que realizamos o plantio, devemos regar o solo diariamente até as plantas crescerem. Com isso, elas podem ser vendidas ou guardadas para serem usadas como fonte de energia, o que é de extrema importância se considerarmos que o protagonista conta com uma barra de vigor, que é consumida conforme operamos na fazenda.

Em relação aos aspectos temporais de Monster Harvest, é importante ressaltar que os dias podem ser adiantados conforme colocamos o nosso personagem para dormir. Desse modo, as horas passam instantaneamente enquanto recuperamos nosso vigor em sua totalidade. Simultaneamente, as datas também são segmentadas por três diferentes estações: Seca, Úmida e Escura, que influenciam diretamente na plantação, pois ditam quais vegetais podem ser cultivados sazonalmente.

Outro detalhe bacana é que, ao realizarmos a manutenção da fazenda, também podemos recolher materiais, como pedras, madeiras e minerais, para incrementar nossas estruturas. Assim, temos a capacidade de construir estábulos, celeiros, cercas e outras edificações, que dão ao jogo toques de customização, uma característica que por si só costuma render incontáveis horas de jogatina.

Dentro dessa jogabilidade leve, que por sinal é bastante divertida, as principais estratégias a se consideradas passam por controlar a barra de vigor do personagem e regular o avanço dos dias, sempre lembrando das potenciais trocas de estação e de participar dos eventos que surgem em Planimália, como concursos de pescaria ou feiras promovidas por outros NPCs. Desse modo, temos um simulador relaxante e satisfatório, mas que se transforma completamente quando os Planimais são inseridos em nossas vidas.

Cultivando monstros adoráveis

A grande invenção de nosso querido Tio Spark foi feita da seguinte forma: ao inserir gosmas vivas em seus vegetais, o cientista permitiu que um híbrido de planta e animal surgisse. Assim, ele criou pequenos monstrinhos, que poderiam ser utilizados de diferentes maneiras. Essas criaturas ganharam fama instantaneamente e viraram um sucesso na região, que passou a ser chamada de Planimália em função disso.

Considerando que Monster Harvest apresenta gosmas de diferentes tipos e plantas sazonais, uma grande variedade de espécies pode surgir a partir das múltiplas combinações. Ao usarmos as gosmas vermelhas, por exemplo, conseguimos Planimais apropriados para os combates, enquanto o uso de elementos azuis garante o nascimento de ótimas montarias — Ou seja, com utilidades diversas, somos instigados a gerar mais animais de acordo com as nossas necessidades, o que é bastante viciante e satisfatório.

Em decorrência da presença de criaturas inimigas nas masmorras, quando estamos focando em nossas explorações, precisamos priorizar o cultivo das plantas de combate. Assim como nosso personagem, elas apresentam níveis que indicam o seu poderio nas batalhas, tornando altamente necessário realizarmos momentos de treinamento para subir de nível.

Isso fez com que minha jogatina se alternasse entre os cuidados com as plantações e os preparos nas dungeons, até minhas criaturinhas estarem fortes o bastante para explorar outros níveis da aventura. Entretanto, ao contrário da pacificidade da vida na fazenda, visitar as masmorras nem sempre era muito divertido. 

Combates sem brilho e outros infortúnios

Ao entrar nos combates por turnos de Monster Harvest, o primeiro fator que me chamou atenção foi o contraste estético com os outros setores do jogo. Diferentemente das belíssimas fazendas e estabelecimentos de Planimália, os visuais dos embates são pobres e rudimentares, gerando um setor pouco atraente que também é prejudicado na medida em que muitos monstrinhos não contam com designs tão inventivos.

Aliás, este mau acabamento infelizmente acaba por combinar com a falta de profundidade dos combates em geral, dado que eles se apresentam de forma superficial em quesitos táticos. Como exemplo disso, temos o fato de que cada monstrinho conta com apenas três ataques, os quais não se diferenciam com forças e fraquezas ou com grandezas elementais, como em Pokémon, Monster Hunter Stories e outras franquias de RPG.

Outro ponto que me incomodou foi a impossibilidade de curar nossas criaturinhas quando estamos nas masmorras. Para tal, temos que retornar até nossa casa e descansar, um movimento cansativo que afeta a vigorosidade dos desafios. Para aumentar o grau de desapontamento, cabe registrar que caso um de nossos Planimais morra, nós acabamos por perdê-lo para sempre.

Com isso, não me arrisco a dizer que os combates são frustrantes em todos os instantes, pois batalhas em turnos com monstrinhos sempre podem render momentos divertidos nos videogames. No entanto, em comparação aos outros segmentos de Monster Harvest, elas são o ponto mais fraco, fazendo com que eu preferisse investir mais tempo na customização da minha fazenda do que explorando as masmorras.

Além do mais, o título apresenta erros de performance constantes, como softlocks nas masmorras, muitas vezes ocasionados pela troca entre as salas ou por deslizes que jogam nosso personagem para dentro de um lago sem saída. Da mesma forma, também é possível notar que há uma certa falta de fluidez nos comandos em geral, fazendo com que eles não sejam tão responsivos no Switch. Às vezes, devemos pressionar os botões mais de uma vez até eles serem computados, algo que se torna irritante com o tempo. 

Dessa forma, Monster Harvest ocasionalmente aparenta ser um jogo que não está pronto em sua totalidade, contando com alguns problemas de acabamento notáveis, como sprites exibidos indevidamente e códigos ocasionais que aparecem pela tela. Com grandes esperanças, espero que esses problemas possam ser solucionados via atualizações, pois o título apresenta uma grande quantidade de conteúdo, que eu definitivamente quero explorar no futuro.

Os encantos e desencantos de uma vida rural

Se por um lado Monster Harvest acerta em determinados aspectos, como em seu sistema de agricultura e em sua bela estética, por outro temos combates superficiais e erros de performance prejudicando a jornada, que acabou me desapontando um pouco em relação às altas expectativas que eu cultivava. De qualquer modo, é inegável que o título traz premissas divertidas e misturas criativas, que quando combinadas, assim como a engenhosa mescla entre plantas e animais do Tio Spark, podem divertir jogadores de estilos variados ao mesmo tempo.

Prós

  • Premissas criativas, com misturas conceituais engenhosas;
  • Um consistente setor de simulação de agricultura;
  • Entre eventos, estações, masmorras e NPCs, há bastante conteúdo a ser jogado;
  • Áreas externas com visuais charmosos.

Contras

  • Problemas de performance e botões nem sempre responsivos;
  • Riscos de softlock ao se aventurar pelas masmorras;
  • Combates rudimentares, com pouca profundidade e visuais não atraentes.
Monster Harvest — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa 
Análise produzida com cópia digital cedida pela Merge Games

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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