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Análise: Trigger Witch (Switch) combina bruxas e armas de fogo em um bom twin-stick shooter

A jornada de Colette traz uma proposta curiosa e divertida.

Trigger Witch é um jogo de tiro no estilo twin-stick shooter, subgênero no qual controlamos o movimento do personagem com um analógico e a direção dos tiros com o outro. Num curioso universo em que bruxas utilizam armas de fogo, uma jovem aprendiz acaba partindo em uma grande jornada. Apesar de ter uma clara inspiração no clássico The Legend of Zelda: A Link to the Past (SNES), Trigger Witch traz uma proposta própria e curiosa.

Bruxas e armas

Há muito tempo, as bruxas criaram uma grande barreira que isolou o seu reino daquele em que vivem os goblins. Ao longo dos anos, elas acabaram deixando as grandes magias de lado e adotando um estilo mágico chamado Ballisticism; ou seja, elas agora usam armas de fogo variadas.

Essa escolha é um tanto exótica e curiosa, mas o roteiro do jogo é, em geral, consistente e bem-escrito. Todos os detalhes que causam estranheza são explicados, assim como outros elementos de backstory são desenvolvidos conforme a narrativa avança. As revelações finais podem ser consideradas escolhas de mau gosto por alguns jogadores, mas pessoalmente considero interessante a sua conexão com a lore.
 
A história em si começa no dia em que a bruxinha Colette e suas amigas têm a tão esperada prova de graduação do seu treinamento. Juntas, as três treinaram arduamente para se tornar parte da Clip, a organização das bruxas, e esse é o grande dia de mostrar que podem assumir esse papel.

No entanto, aparece na região um misterioso homem encapuzado, que as bruxas desconfiam ser um goblin. Bruxas e goblins viviam em conflito há muitos anos, mas os grupos foram separados pela grande barreira erguida pelas bruxas. Para investigar, Colette parte então em uma jornada em busca dos itens necessários para romper o bloqueio e investigar o que está acontecendo.

Combate com pouco incentivo à exploração

Conforme explora uma série de dungeons, a personagem irá obter novas armas. Trigger Witch tem uma boa variedade delas, mas considero que a mais interessante é o lança-chamas por também ser útil na exploração. É possível quebrar blocos de gelo e acessar novas áreas utilizando esse poder. Outros puzzles em geral acabam sendo resolvidos por elementos totalmente locais — em geral, switches.

A exploração das áreas também permite obter caixas de upgrade. Ao ir na loja adequada, o jogador pode gastá-las para desbloquear melhorias como mais munição, aumento do ataque e redução do cooldown de recarga. Esses upgrades também consomem cristais, que são obtidos ao derrotar inimigos ou em tesouros espalhados pelas áreas. Vale destacar que a maior parte do conteúdo opcional do jogo é focado na obtenção dessas caixas. Esse elemento de incentivo à exploração acaba sendo bastante modesto, não havendo sidequests interessantes.

Um aspecto interessante dos combates é a forma como o próprio cenário pode ser útil. Armadilhas afetam tanto a protagonista quanto as criaturas que a perseguem. Até mesmo os ataques de alguns inimigos, como as bombas incendiárias de certas criaturas voadoras, atingem oponentes. Com isso, além de atacar e desviar, o jogador pode usar o ambiente a seu favor.

Além disso, a transição entre exploração e combate tem um efeito bem interessante na trilha sonora. Basicamente, cada área conta com duas versões de uma mesma música: uma delas é mais calma, enquanto a outra é mais pesada, indo para um lado mais rock/metal. Ao encontrar um grupo de inimigos, a melodia muda para a segunda versão caso eles notem a sua presença. Além de aumentar a tensão de uma forma bem agradável, a música também ajuda a identificar se ainda tem algum inimigo restando, caso ele não esteja visível na tela.

Em determinados trechos, há também sequências de shoot ‘em up vertical. Esses trechos são curtos e intensos e caso o jogador falhe, terá que retornar ao último ponto de teleporte da dungeon. O progresso é constantemente salvo de forma automática, mas essa restrição aos teleportes ajuda a evitar ocasiões em que o jogador ficaria impossibilitado de continuar.

Falo isso porque especificamente na dungeon de gelo é possível utilizar as bombas incendiárias como forma de quebrar blocos e alcançar algumas áreas que dependem do lança-chamas. Ao fazer isso e ir para a próxima tela, é impossível escapar, pois os blocos de gelo terão retornado. Porém, ao sair do jogo, Colette estará novamente em um ponto de teleporte já com o item obtido.

Outro pequeno problema que enfrentei foi que o jogo travou totalmente em uma das vezes em que deixei o console em Sleep Mode. Isso aconteceu apenas uma vez e não foi um grande problema por conta do salvamento automático frequente.

De um lado mais positivo, gostaria de destacar as opções para customização da dificuldade. A qualquer momento, o jogador pode alterar o poder de fogo da bruxa e/ou dos inimigos, afetando também a quantidade de cristais obtidos. Elementos gráficos e da interface também podem ser adaptados tendo em vista oferecer acessibilidade à proposta com fontes diferentes e alterações para a mira. Até mesmo a sanguinolência pode ser mudada para o derramamento de confeitos coloridos usando o “Piñata Mode”.

Uma inspiração que ofusca o brilho

Trigger Witch tem elementos o suficiente para ser um shooter sólido e interessante. Porém, é difícil não reparar em sua forte inspiração no clássico The Legend of Zelda: A Link to the Past. Na minha visão, por mais divertido que o jogo seja, ele acaba ficando em um limiar em que a homenagem acaba dando menos valor à obra.

Tanto graficamente quanto em termos de algumas músicas utilizadas, a obra acaba parecendo um clone. Fica fácil pensar nela como “Link to the Past com uma bruxa atiradora”, mas a proposta é tão cheia de especificidades que essa sombra acaba trazendo expectativas errôneas.

Um shooter divertido

Como um jogo de tiro, Trigger Witch é bem agradável e uma fácil recomendação. Em particular, chamam a atenção o combate frenético e o uso do próprio ambiente como forma de lidar com as hordas de inimigos. Se o conceito de bruxas com armas de fogo te interessa, vale a pena conferir.

Prós

  • Variedade de armas;
  • Elementos do cenário como armadilhas e os próprios ataques de inimigos podem ser usados a favor do jogador;
  • História curiosa que consegue justificar a combinação entre bruxas e armas de fogo;
  • Transição fluida entre músicas de exploração e de combate.

Contras

  • A inspiração em Link to the Past acaba dando uma impressão de “clone” do clássico, mesmo com suas grandes especificidades;
  • Pouco conteúdo opcional para incentivar a exploração do mapa.
Trigger Witch - Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela eastasiasoft


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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