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Análise: ConnecTank (Switch) começa bem, mas rapidamente perde o gás

Uma história divertida e boas opções de customização se perdem em meio à repetitividade neste puzzle de ação e estratégia.



Uma das muitas maneiras pelas quais podemos nos decepcionar com um jogo é quando o seu material de divulgação passa boas sensações e o gameplay até chega a nos entreter por um tempo, mas ele não demora a se desgastar nos próprios problemas. De modo geral, não é ideal criar expectativas exatamente porque é muito fácil elas não serem correspondidas e ficarmos com uma impressão equivocada a respeito de algo.


Infelizmente, ConnecTank é uma dessas decepções — e digo “infelizmente” mesmo, pois criei uma certa empolgação ao descobrir os primeiros detalhes a respeito deste puzzle de ação com combates cooperativos ou single player focados em estratégia, publicado pela Natsume e desenvolvido pela YummyYummyTummy Games e pela Tamatin Entertainment. Lamentavelmente, a empolgação não durou até o final, mas vale dizer que não sem bons momentos de diversão antes.

Simulador de decidir qual rico fica mais rico

Sejam bem-vindos e bem-vindas a Nova Pangea, resultado da recombinação dos continentes há centenas de anos. Aqui, o transporte terrestre prospera em meio a uma agressiva e acirrada competição entre empresas. Nesse cenário caótico, os principais responsáveis pelas perigosas, porém necessárias missões de entrega são habilidosos pilotos de tanques de guerra em forma de robôs.

Você começa os trabalhos sob a chefia de Finneas Fat Cat Décimo Quinto, atual dono da Fat Cat Shipping Incorporated, uma tradicionalíssima empresa de despachos fundada há 250 anos por Finneas Fat Cat Primeiro. É na tutela desse capitalista convicto que damos os primeiros passos no universo estratégico das batalhas entre tanques.




Galera que não curte um capitalismo básico, não tema! O refinado Finneas não é o único figurão que precisa de pilotos malucos o suficiente para se arriscar mundo afora fazendo entregas a serviço de grandes corporações. Disputando com a Fat Cat Inc, temos Lewis Longneck de Lewingford, excêntrico apreciador de artes que ostenta um looooongo pescoção; e o Imperador Pontius Penguin, um majestoso pinguim comunista que busca tomar os meios de produção em nome do seu glorioso Coletivo Tundra!

Esses magnatas de personalidades distintas são personagens divertidíssimos, representando com bom humor suas opiniões sociais, econômicas e políticas. Todos têm que lidar ainda com seus respectivos arqui-rivais, que buscam enfraquecer um dos três enquanto auxiliam os demais — ou seja, não faltam opções de trabalho em Nova Pangea, e tudo depende de quem você quer ajudar ou prejudicar.

A dura rotina do piloto de robôs gigantes

O gameplay principal de ConnecTank, que se passa no interior dos tanques, segue um único roteiro em todos os combates: usar peças de esteira para construir um caminho da fábrica ao canhão que vai disparar as munições do veículo. Mas não pense que o desafio está apenas no aspecto quebra-cabeça de achar as peças e juntá-las na ordem correta, pois isso é só o começo.




Após conectar as duas pontas da esteira, o jogo nos dá alguns trabalhos internos para realizar, dos quais o mais importante obviamente é construir as balas que serão disparadas. Para isso, precisamos combinar dois tipos de sucatas lançadas por um gerador e jogá-las no Recycletron, um reciclador que converte os dois pedaços de ferro-velho em uma unidade de munição. Para montar essas unidades, recebemos até três receitas simultaneamente, e seguir uma combinação que não está disponível gera um pedaço de lixo, muito mais fraco que as munições regulares.

Além da essencial tarefa de encher os oponentes de bala, alguns serviços de manutenção também demandam nossa atenção. Peças da esteira superaquecem e temos que levá-las a uma estação de reparo; buracos no casco precisam ser consertados para recuperar a vida do tanque; monstros aparecem para atrapalhar nosso trabalho honesto e só nos deixam em paz depois de uns socões; e não esqueça da alavanca que muda a direção para onde o canhão aponta, pois pode ter certeza que o seu adversário não vai.

A natureza das munições envolve um planejamento à parte. Cada uma tem diferentes parâmetros de dano aos tanques, defesa própria e velocidade,  e elas se dividem em quatro categorias: vermelhas, amarelas, azuis e incolores. Enquanto as incolores são neutras, as outras três funcionam em um sistema de pedra, papel e tesoura: vermelhas levam vantagem sobre amarelas, amarelas sobre azuis e azuis sobre vermelhas.




Esperar para ver o que seus oponentes disparam para então contra-atacar é uma ação básica e constante ao longo de todo o gameplay. A faixa de tela que mostra os tanques frente a frente pode começar tranquila e vazia enquanto os pilotos montam as esteiras, mas quando o tiroteio começa, ficar de olho nela é tão crucial quanto as demais funções que devemos desempenhar. A ação é frenética em muitos momentos e exige grande proficiência em ser multitarefas, sobretudo se você estiver por conta própria, mas também no multiplayer coop, que acrescenta uma boa dose de gerenciamento de tarefas e tomada de decisões.

Navegando por um futuro distópico com financiamento coletivo

O menu principal de ConnecTank é um bagunçado quadro de avisos. Além de conferir as opções de jogo e repetir o tutorial à vontade, é nele que verificamos a lista de trabalhos e acessamos a GoTankMe, loja de financiamento de munições e modificadores (denominados M.O.D.s) que conferem efeitos adicionais aos tanques. Os modificadores e munições recém-adquiridos duram uma certa quantidade de missões. Após isso, eles podem aparecer como recompensas temporárias por algumas vitórias em combates.

As missões se desenrolam em um mapa com formato de tabuleiro, com bifurcações ocasionais. Entre as batalhas, encontramos NPCs que nos oferecem upgrades gratuitos ou pagos de munições, modificadores e recuperação da vida do tanque. Além das recompensas já citadas, cada vitória nos rende uma pequena quantia em ouro e uma peça do veículo derrotado, cujo modelo completo é composto por cinco partes. Ao completar uma missão, recebemos um bônus maior de dinheirinhos.




Uma consequência interessante de concluir uma missão em nome de um dos três principais magnatas é que suas ações ganham valor, enquanto as dos outros dois caem. E lembra dos arqui-inimigos que eu mencionei no começo da análise? Fazer missões para eles afeta negativamente as ações do empresário correspondente ao mesmo tempo que beneficia as dos outros dois.

Cada tanque conta com uma configuração fixa de munições, modificadores e fraquezas, e alguns têm habilidades bem interessantes, como um braço gigante que abate munições inimigas próximas ou uma ferramenta que dá uma melhorada considerável nos pedaços de lixo disparados. Apesar de existirem veículos mais fortes que outros, vale a pena dar uma experimentada em múltiplas opções de personalização.

Voltando a falar sobre as munições, quero aproveitar e incluir os modificadores e os modelos de tanque para enaltecer a enorme quantidade de conteúdo disponível em ConnecTank. É nessa hora que os olhos dos colecionistas brilham, pois a variedade de balas, peças e M.O.D.s é surpreendente, e a rotatividade dos itens faz com que as configurações da sua máquina sempre sejam diferentes.



A infelicidade de encontrar furos no seu carrão tunado

Foi com um certo pesar que eu não demorei a constatar que todo esse conteúdo e variedade de personalização não sustentam o gameplay de ConnecTank por muito tempo, e o principal problema está na repetitividade dos combates.

Inicialmente, é claro que eu me diverti aprendendo como as mecânicas do jogo funcionam e colocando-as em prática em missões cada vez mais desafiadoras e longevas. Porém, a natureza dos puzzles pouco muda: é sempre o mesmo esquema de pegar as peças certas, alinhá-las da ponta inicial até o canhão e jogar as sucatas no reciclador enquanto nos atentamos às tarefas secundárias.

A complexidade desse roteiro quase não se altera mesmo após muitas horas, mas bem antes desse ponto eu já estava jogando mais para ver até onde ia a competição entre os magnatas e conhecer os diferentes tipos de munições, modificadores e tanques (que aliás têm designs bem criativos) do que pelos combates em si. Sim, a minha jogatina se transformou em um grinding colecionista, no qual eu meramente escolhi o veículo que me rendesse vitórias mais rapidamente e fui detonando adversários sem muito prazer.




Outra particularidade negativa em relação aos combates é que em muitos deles o planejamento estratégico vai pelo ralo. Até existem embates nos quais você vai ter que gastar o cérebro e suar bastante, mas na maior parte do tempo eu simplesmente fui jogando sucata no reciclador de maneira completamente indiscriminada, sem qualquer preocupação com o que meu oponente estava fazendo. E o resultado sempre foi uma vitória fácil, mas decepcionante.

Faltou mais incentivo para o Shinji entrar no robô

Eu fiquei com uma forte sensação de que bastaria um ajuste na complexidade dos puzzles para que ConnecTank pudesse deixar uma impressão majoritariamente positiva. As possibilidades de customização e as divertidas interações com os carismáticos personagens de Nova Pangea são maravilhosamente cativantes até certo ponto, mas eu não demorei a passar desse ponto, e a partir daí nem as alfinetadas entre um gato capitalista e um pinguim comunista foram suficientes para manter meu interesse.

Prós:

  • Personagens divertidos e carismáticos, inseridos em uma temática que dá um destaque bem-humorado às suas visões políticas, sociais e econômicas;
  • A mistura de puzzle com estratégia é um conceito criativo, reforçado pelas mecânicas do jogo;
  • Excelente variedade de conteúdo coletável e personalizável.

Contras:

  • Os puzzles ficam repetitivos após pouco tempo de jogo e se mantêm sem muita complexidade, tornando o gameplay maçante e desperdiçando a massiva quantidade de conteúdo oferecido;
  • O fator estratégia é facilmente ignorado em muitas das batalhas.
ConnectTank - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Natsume


Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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