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Análise: Mario Party Superstars (Switch) é um competentíssimo e aguardado retorno à forma

Com conteúdo de títulos pregressos, a mais nova entrada na franquia de party games do Mario traz a nostalgia e a qualidade da sua fórmula clássica.



Mario Party Superstars representa um momento que muitos não acreditavam que chegaria. Após várias decepções entre títulos para console e portáteis, a franquia Mario Party foi cada vez mais perdendo seu brilho e identidade, com Super Mario Party (Switch) sendo particularmente frustrante por parecer voltar às raízes, mas acabar entregando uma experiência rasa e incompleta.


Depois de quase uma década sem uma entrada que capturasse o espírito party game das eras Nintendo 64, GameCube e Wii, em Superstars a NDcube enfim fez jus ao legado da obra que tem em mãos e adotou a máxima “em time que está ganhando, não se mexe”.

Diretamente do túnel (ou melhor, cano) do tempo




Mario Party Superstars começa a passar seu clima de retorno ao passado logo na cutscene de abertura do jogo, que exibe uma narração para reavivar a memória dos mais esquecidos e mostra um cano bastante familiar a quem jogou o primeiro título da série. De lá, sai um simpático Koopa, que fica nervoso porque os convidados para a festa ainda não chegaram.

Após receber todos os participantes, esse empolgado anfitrião dá o recado: vamos a lugares que há muito tempo não visitávamos, em uma jornada para ver quem vai se tornar a superestrela. A área principal de onde partimos é a Vila Cogumelo (Mushroom Village) do Mario Party original, que foi modernizada e rebatizada de Pracinha (Village Square).




Nela, além de entrar no cano que nos leva direto para a ação principal, existem outros pontos que podem ser visitados: a Loja do Toad, onde podemos comprar objetos diversos de valor estético ou informativo, usando moedas adquiridas após as jogatinas; a Casa da Amizade, acessada para a criação de salas para partidas online; a Casa das Opções, onde configuramos opções como a versão das músicas e a velocidade de movimentação dos textos e dos oponentes controlados pela IA; a Casa dos Dados, que mostra estatísticas e conquistas, além de informações gerais sobre a franquia; e o barquinho que nos leva à Montanha Minijogos, o modo de jogo focado exclusivamente nos tradicionais minigames.

Todas essas construções têm sua devida função e compõem uma bela e atualizada área central, mas o que interessa são as festas completas, então vamos a elas!

Aprendendo um ABC das festas de mais de vinte anos

Para os não iniciados, é sempre bom dar uma breve explicação de como funciona uma partida de Mario Party clássico, até porque não há segredo: até quatro personagens do universo do Mario (com convidados de outras franquias, como Donkey Kong, que está presente desde o começo) percorrem tabuleiros temáticos para obter moedas e com elas comprar estrelas. Após cada turno, um minijogo valendo mais moedas é disputado, e ao final de um determinado número de rodadas, quem tiver mais estrelas recebe o título de superestrela.




Por se tratar de um jogo que leva o nome do encanador bigodudo mais famoso dos videogames (não que existam muitos), naturalmente há uma boa dose de mecânicas malucas e acontecimentos imprevisíveis. Acrescenta-se a aleatoriedade dos dados e uma certa quantidade de estratégia (para não dizer trairagem), e temos a receita ideal para um party game com muita diversão e discórdia.

Infelizmente, como eu disse no começo da análise, essa receita chegou a ser alterada em alguns games mais recentes da franquia, resultando em “refeições” difíceis de engolir graças a ingredientes de qualidade duvidosa, como o temido veículo de transporte de Mario Party 9 (Wii) e 10 (Wii U) e a mudança dos tradicionais minigames ao final de cada rodada para casas de minigames espalhadas pelos tabuleiros, diminuindo drasticamente a quantidade de minijogos disputados.

A recepção a essas mudanças parece finalmente ter acordado a NDcube, que retornou ao passado para trazer em Superstars o que comprovadamente deu mais do que certo: tabuleiros clássicos e uma seleção de minigames de todo o catálogo principal da franquia, uma combinação perfeita tanto para veteranos da algazarra caótica quanto para quem está ingressando agora nas comemorações.




Toda a ambientação do jogo reflete essa mistura do velho com o novo, com o melhor dos dois mundos. Temos um gameplay tradicional, com mecânicas, recursos e funcionalidades da era Nintendo 64 de Mario Party; e um visual majoritariamente emprestado da primeira entrada da série para o Switch, mas com retoques certeiros de interface e mudanças de qualidade de vida, como a opção de escolher entre as versões originais ou os novos arranjos do tema de cada um dos cinco tabuleiros disponíveis.

Essas decisões de game design vão se provando cada vez mais acertadas à medida que vamos desbravando o conteúdo de Mario Party Superstars e percebendo que muitas vezes não é preciso querer reinventar a roda — basta prover uma base sólida e seguir incrementando-a aqui e ali com elementos que sustentem a diversão e o fator replay essenciais a qualquer party game que busque uma longevidade de respeito.

A alegria de curtir uma festa planejada com todo o cuidado

Uma volta às origens de Mario Party é tão boa quanto a qualidade dos seus tabuleiros e minijogos, e em ambos os casos Superstars faz um trabalho primoroso. A única ressalva nesse departamento é a baixa quantidade de mapas escolhidos, com apenas cinco, mas isso é algo que esperamos ser “corrigido” com o acréscimo de novos estágios por meio de atualizações.

Organizados por ordem de dificuldade, os tabuleiros que ganharam o privilégio de ressurgir do N64 são: Ilha Tropical do Yoshi/Yoshi’s Tropical Island (MP1); Espaçolândia/Space Land (MP2); Bolo de Aniversário da Peach/Peach’s Birthday Cake (MP1); Floresta Florestal/ Woody Woods (MP3); e Medolândia/Horror Land (MP2).




Exceto pelo Bolo de Aniversário da Peach, considerei essa uma ótima seleção de tabuleiros, mas até o estágio temático da princesa do Reino dos Cogumelos tem seu valor — afinal, isso é Mario Party, então mesmo os mapas que menos se adequarem ao seu gosto pessoal ainda serão extremamente divertidos de jogar.

As distintas mecânicas exclusivas de cada tabuleiro garantem que você faça uma rotação de partidas de acordo com o que tiver mais vontade de jogar no momento. Um detalhe sensacional que eu citei nas minhas primeiras impressões e que quero reiterar aqui é a amálgama de recursos de múltiplas entradas da franquia, permitindo, por exemplo, o uso de itens e a existência de minigames de batalha (aqui chamados de Casas de Combate) nos mapas do primeiro Mario Party.

Os minijogos seguem esse padrão de variedade e zelo na curadoria. Com mais de 100 escolhas se contarmos os minigames de item, pode parecer que há bastante espaço para determinar quais entrariam no pacote, mas considerando todos os minigames dos Mario Parties de 1 a 10, definitivamente não é uma tarefa fácil selecionar “apenas” 100.

Levando em conta o foco nos três primeiros títulos, é natural que a proporção de minijogos por entrada na franquia favoreça o período do Nintendo 64, com o GameCube logo atrás. A distribuição foi muito bem-feita, e nem aqueles poucos minigames que te fazem torcer o nariz conseguem tirar o brilho do conjunto como um todo.




As configurações antes de cada partida permitem uma personalização que atende a todos os gostos. Além da quantidade de rodadas, e das opções de mostrar ou não as instruções antes dos minijogos e de dar estrelas de vantagem a um ou mais jogadores, podemos escolher as categorias das estrelas extras entregues antes do anúncio dos resultados finais, variando entre premiar dois bônus aleatórios ou três bônus clássicos pré-determinados para quem acumular mais moedas, ganhar mais minijogos e cair em mais Casas de Evento.

Fechando as opções de especificação, há pacotes de minijogos que incluem todos; apenas os de Nintendo 64; apenas os de GameCube; joguinhos para toda a família; minigames de ação; e de habilidade e reflexos rápidos. Sinceramente, não me vejo usando qualquer outro pacote que não seja o completo, mas esse tipo de variedade nunca é demais.

Se a montanha não vai aos convidados, os convidados vão à montanha

Modos de jogo paralelos são praxe em qualquer Mario Party, e com Superstars não seria diferente. Substituindo a Mini-Game Island de MP1, acessada por uma jangadinha, vem a Montanha Minijogos, na qual chegamos por um barco — sim, o upgrade é minucioso nesse nível.

Na Montanha Minijogos, todos os minigames estão disponíveis, exceto pelos de item. Além do modo livre, que nos deixa escolher à vontade, algumas modalidades trazem desafios diferenciados: há as categorias de duplas; de 3 contra 1; por quantidade de moedas; de esportes e quebra-cabeças; e os modos de sobrevivência e desafio diário, que só podem ser jogados online.




Reforçando as minhas primeiras impressões, repito que a Montanha Minijogos é ótima para dar um tempo das disputas em tabuleiros e treinar nos minigames que você gosta ou nos quais quer melhorar, além de disputar pelas maiores sequências de sobrevivência e pelas primeiras posições nos rankings de alguns minijogos. A galera mais competitiva vai passar um tempinho nessa montanha, para dizer o mínimo.

Seja perto ou longe, a comemoração é para todos

Um dos saltos de qualidade mais gritantes que Superstars dá em relação a Super Mario Party é a inclusão do modo online desde o lançamento. Esse foi um dos maiores diferenciais negativos de SMP, que limitou as jogatinas em tabuleiros ao modo local — felizmente, não é o caso aqui.

E eu digo “felizmente” MESMO, porque olha… é difícil deixar claro o tamanho da diferença que faz poder jogar de maneira remota não apenas contra oponentes aleatórios, mas principalmente com amigos.

O fator social é absolutamente crucial para a experiência completa de qualquer Mario Party (de qualquer party game, mas enfim…), e poder curtir literalmente tudo que Superstars oferece com as amizades em qualquer lugar é, sem a menor dúvida, o maior prazer que o game dá. A qualidade da conexão online é incrível, com os incômodos picos de instabilidade sendo raros e comprometendo muito pouco a integridade do gameplay.




Aqui entram inclusive algumas melhorias de qualidade de vida importantíssimas para a garantia de uma jogatina online consistente. Mario Party Superstars possibilita salvar até 10 partidas diferentes, que podem ser interrompidas e resumidas caso tenham começado entre amigos — e falando em amigos, caso alguém seja desconectado no meio da jogatina, a pessoa é temporariamente substituída pela IA, podendo retornar no começo da próxima rodada.

Essa funcionalidade traz um conforto e uma segurança espetaculares, eliminando quase que inteiramente a frustração de ser removido de uma partida online por causa de um momento isolado de conexão ruim com a internet. Eu com certeza fico muito mais aliviado e animado de chamar a galera para festejar, sabendo que nós não precisamos jogar cheios de apreensão de que alguém caia e a disputa seja cancelada, como ocorria em Super Mario Party.




O aspecto social fica ainda melhor com a adição de um recurso que não afeta diretamente o gameplay, mas que gera boas risadas: uma coleção de engraçadíssimas figurinhas para expressar reações ou atazanar os rivais. Eu GARANTO que, com poucas horas de jogo, você não vai resistir a encher a paciência dos seus amigos com o apito do chamachomp ou com qualquer outra figurinha para apressar aquele colega que sempre demora nas jogadas.

Uma festança com jeitinho brasileiro

Pode até ser um grande clichê, mas é impossível não usar o termo “carta de amor” ao falar de Mario Party Superstars. O cuidado que a NDcube finalmente está tendo com a franquia é louvável, ainda que tenha demorado tanto para tal.

Esse cuidado se estende em particular ao público brasileiro, que pela primeira vez na história da Nintendo pode curtir um game completamente traduzido e localizado para o português brasileiro, contando inclusive com um trabalho de dublagem na forma da narradora do jogo, que anuncia acontecimentos como a compra de uma estrela, o resultado de um minijogo e a obtenção ou não de um item.




As adaptações feitas para os nomes dos minigames mereceram destaque nas minhas primeiras impressões e também merecem aqui, porque eu nunca vou me cansar de elogiar a criatividade empregada no trabalho de localizar cada um dos minijogos, com pérolas como Discotontos; Upa, Pocotó; Ora, Bolas; e Escaportória.

A atenção aos detalhes mostra um carinho merecido, desde o cenário retrabalhado dos tabuleiros até o mapinha em escala que os personagens puxam quando querem visualizar a disposição das casas para se informar antes de tomar uma decisão. Cada pedacinho do jogo se junta para tornar Mario Party Superstars uma obra que nos faz lembrar por que nos apaixonamos tanto por uma série spin-off do mascote bigodudo da Nintendo.

Prós

  • Um trabalho primoroso de atualização de tabuleiros clássicos, de curadoria na seleção dos minijogos e de implementação de mecânicas de jogo antigas e novas, misturando nostalgia e renovação;
  • Ótimas opções de configuração antes de começar uma partida;
  • A Montanha Minijogos cumpre bem o papel de modo de jogo paralelo focado nos minijogos, indo além com a inclusão de categorias que podem ser disputadas online;
  • Um modo online que beira a perfeição, com funcionalidades de qualidade de vida que praticamente eliminam a frustração de uma desconexão por parte dos jogadores;
  • O aspecto social, com a possibilidade de jogar online com amigos desde o lançamento do jogo, garante um enorme fator replay;
  • Trabalho inédito de tradução, localização e dublagem para o português brasileiro em um jogo da Nintendo.

Contras

  • Uma baixa quantidade de tabuleiros, com apenas cinco disponíveis.
Mario Party Superstars - Switch - Nota: 9.5
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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