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Análise: Dairoku: Agents of Sakuratani (Switch) traz uma história marcada por mitos japoneses

Visual novel otome conta a história de uma garota que trabalha na mediação entre humanos e Ayakashi.

Dairoku: Agents of Sakuratani
é o mais novo título da Otomate a ser publicado no Ocidente pela Aksys Games. Com uma história profundamente mergulhada na mitologia japonesa, a visual novel pertence ao gênero otome. Ou seja, há uma protagonista feminina e múltiplos rapazes como interesses românticos. Trabalhando em uma espécie de mundo paralelo chamado Sakuratani, a jovem tem a oportunidade de se relacionar com criaturas míticas chamadas Ayakashi.

Entre humanos e Ayakashi

Dairoku: Agents of Sakuratani conta a história de uma jovem mulher cujo nome padrão é Shino Akitsu. A personagem queria se tornar uma servidora pública, mas o que ela não esperava é que trabalharia com uma habilidade que ela sempre teve. Desde criança, Shino tinha a habilidade de ver criaturas sobrenaturais.

Graças a esse poder, ela foi convocada a se juntar a um grupo especial conhecido como o Sexto Gabinete de Prevenções Especiais. Frequentemente abreviado em japonês para Dairoku, esse grupo é composto por agentes chamados de Ayakashimori. São eles o intermédio entre humanos e criaturas sobrenaturais (os Ayakashi), resolvendo questões variadas no dia a dia.

Manter a ordem em Sakuratani, o mundo em que os Ayakashi vivem, é jurisdição desse grupo. Para isso, eles contam com treinamentos para usarem poderes especiais, principalmente voltados ao selamento de espíritos encrenqueiros. Porém, mais do que usar a força, a missão deles é tentar resolver conflitos de forma harmoniosa, por vezes sendo mais importante o diálogo e a negociação.

Conforme Shino interage com os Ayakashi, a garota percebe que mais do que “criaturas de outro mundo”, é fundamental percebê-los como indivíduos com sua própria cultura. A história então trabalha em torno do conceito de respeitar as diferenças e das concessões necessárias para a convivência harmoniosa. Ao mesmo tempo, a protagonista vai aos poucos conhecendo mais sobre o passado de cada personagem.

Vale destacar que existem também trechos com um minigame de selamento. Essas "batalhas" envolvem apertar botões indicados na tela na ordem correta sem demorar muito. Infelizmente, elas são deslocadas do resto da história, servindo apenas para liberar uma das rotas ao invés de contribuir significativamente para a ambientação.

As seis rotas

Durante o início da história, é possível escolher entre vários pontos do mapa de Sakuratani para ativar eventos com os personagens. O ideal é focar em um só interesse romântico para aumentar a afinidade com ele e obter o melhor final. Escolhas corretas são bem indicadas por chamas coloridas na tela.

Uma vez feita uma rota, é possível usar o Chapter Select para retornar a um ponto já visto com a afinidade no máximo ou mínimo, agilizando a experiência de explorar todos os finais. São ao todo seis rotas, sendo cinco focadas nos interesses românticos e uma “Finale”, que pode ser considerada o final verdadeiro. Cada um dos personagens pertencem a grupos diferentes ajudando a entender melhor o contexto geral da trama.

Vale destacar também que é possível retornar a qualquer momento da história usando um flowchart detalhado das rotas. Infelizmente, esse sistema acaba eliminando totalmente os pontos de afinidade. Com isso, ele se torna praticamente inútil pois interfere drasticamente na resolução da história, forçando o jogador a ter o pior final disponível a partir daquele ponto. Isso acaba sendo ruim porque existem alguns trechos de história que mostram a perspectiva dos interesses românticos e só podem ser acessados pelo flowchart.

Porém, o problema realmente mais grave de Dairoku está na apresentação da sua temática. Como um título focado em mitologia japonesa, a obra opta por manter a maior parte das nomenclaturas em japonês. A questão é que determinados elementos são mencionados apenas textualmente, sem serem descritos adequadamente para que o jogador entenda o que são.

A obra até conta com um dicionário de termos, mas este não cobre uma boa quantidade de elementos que são mencionados na trama, cruciais para a sua construção de mundo. O resultado é que jogadores que não conhecem muito sobre o assunto se sentirão perdidos com frequência, precisando pesquisar ou ignorar aspectos que deveriam ter sido melhor introduzidos na trama.

Há também alguns pequenos errinhos de tradução, especialmente no que tange a consistência de termos. Por exemplo, o início do jogo usa a palavra “Undead” mas o dicionário se refere aos Ayakashi e outras criaturas como “Non-humans”. Não se trata de um grande problema, mas tem um pouco de peso devido ao contexto mais complexo da trama e suas explicações insatisfatórias.

Um charme sutil

Tendo em mente a representação de um contexto imerso na cultura japonesa, Dairoku faz algumas escolhas interessantes em sua direção. Em particular, destaca-se a trilha sonora, que utiliza instrumentos tradicionais japoneses para dar um tom que remete a um contexto de antiguidade mítica. As músicas são muito boas para todas as ocasiões, mas são particularmente charmosas durante momentos de tensão na trama com Tatakahi, Itomu, Kiwamu e Asuka.

Visualmente, a obra conta com os belos designs de Suoh, que também foi responsável por Bad Apple Wars (PS Vita). É interessante notar como cada personagem tem uma aparência bem humana com apenas pequenos traços que remetem à sua natureza como Ayakashi. Isso ajuda a dar uma noção de humanidade a eles, assim como é proposto pela trama.

De forma geral, é possível dizer que a arte segue um design simples, porém charmoso. A meu ver, a perspectiva aqui é trabalhar com um charme japonês mais sutil. Se de um lado temos um excesso de cores em Cupid Parasite (Switch), a ideia aqui é a de apresentar algo mais modesto que combina com uma perspectiva de Japão tradicional.

Isso também se reflete nos ambientes. Usualmente mais funcionais, os cenários do jogo que efetivamente têm mais cor e luz saltam aos olhos e se tornam ambientes mais especiais. Esse charme talvez seja muito tênue se considerado isoladamente, mas considero que combina bem com a proposta geral.

Uma rica representação de folclore japonês

Dairoku: Agents of Sakuratani é um otome game com uma proposta de representação de mitos japoneses que certamente chamaria a atenção de quem gosta do assunto. Infelizmente, a narrativa peca em não apresentar adequadamente todos os elementos relevantes desse folclore riquíssimo, deixando os menos entendidos do assunto a ver navios. Ainda assim, é uma boa obra do gênero e vale a pena conferir.

Prós

  • Ambientação com elementos de mitologia japonesa chama a atenção;
  • Trilha sonora bem executada que utiliza alguns instrumentos tradicionais japoneses;
  • Design simples e charmoso para personagens e ambientes.

Contras

  • Várias palavras são mantidas em japonês, sem serem explicadas adequadamente na história e estão ausentes no dicionário do jogo;
  • Erros ocasionais no texto em inglês;
  • Usar o flowchart no meio do jogo apaga totalmente os pontos de afinidade, inutilizando o sistema.

Dairoku: Agents of Sakuratani — Switch — Nota: 7.5

Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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