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Análise: Shin Megami Tensei V apresenta um vasto mundo novo para a franquia de RPGs no Switch

O RPG da Atlus é uma das experiências mais sólidas do console híbrido da Nintendo.

Para quem é fissurado por RPGs japoneses, a série Shin Megami Tensei da Atlus dispensa apresentações. Apesar da série principal só ter chegado ao Ocidente no PlayStation 2 com Shin Megami Tensei III: Nocturne, seus spin-offs já estavam presentes oficialmente por estas bandas desde 1996 com Revelations: Persona (PS).

Curiosamente, apesar de extremamente prolífica e recheada de títulos derivados interessantes, os Shin Megami Tensei numerados são poucos e bem espaçados. Com a revelação do Nintendo Switch, a Atlus também anunciou um novo jogo da série e, quatro anos depois, finalmente temos Shin Megami Tensei V em mãos.

Focado em áreas vastas para exploração, o título opta por uma experiência com um grande senso de escala para dar peso à jornada do protagonista. Diante de uma atmosfera opressiva e constante tensão, o futuro do mundo está mais uma vez nas nossas mãos.

Assim nasce o Nahobino

Tudo começa quando um jovem estudante do ensino médio da Escola Jouin fica impossibilitado de pegar o trem para casa. O protagonista acaba tendo que procurar um de seus colegas que saiu da estação e se envolvendo em um incidente bizarro. Após um terremoto, ele se vê em uma versão totalmente destruída de Tóquio.

Sem entender direito o que está acontecendo, seu personagem logo é atacado por demônios e só sobrevive graças à aparição do misterioso Proto-fiend Aogami. O contato entre os dois leva à criação de uma criatura que é considerada um tabu: o Nahobino. Com seu novo poder, o jogador terá de se esforçar para sobreviver aos perigos que o aguardam no Netherworld, também conhecido posteriormente como Da’at.

Não vou me delongar muito no aspecto de história para evitar spoilers, mas é importante ressaltar que o jogo opta por uma abordagem que deixa o jogador inteiramente livre para decidir o final. Existem escolhas ao longo da jornada, mas as consequências delas não são de grande impacto narrativo.

Ao invés de um enredo mais denso, Shin Megami Tensei V opta por um foco no desenvolvimento de sua atmosfera. O resultado são personagens pouco detalhados, cujas motivações e narrativas pessoais não são tão relevantes. Em troca, trata-se de uma jornada mais pessoal, em que o Nahobino e sua equipe de demônios estão em tensão constante. Mesmo que ele não esteja sozinho, existe uma sensação forte de solidão diante da vastidão do ambiente ao seu redor e dos seus perigos desconhecidos.

Ruínas do novo mundo

Desde o início, o contato do Nahobino com o Da’at revela um ambiente enorme. Há um grande senso de escala, com áreas bastante destruídas que são vastas e possuem múltiplas ramificações. Nelas, há vários demônios que são fontes de quests opcionais, pequenas criaturas chamadas Mimans escondidas por todo canto, além de inimigos e itens. Existem inclusive alguns parceiros que o jogador pode liberar ao longo da campanha para acompanhá-lo, habilitando assim pontos de interação com mais itens e batalhas ocasionais.

O resultado é um mundo no qual realmente tem muita coisa para fazer e que recompensa o jogador por seu senso de exploração. Em particular, a procura por Mimans nos incentiva a vasculhar todos os cantinhos do mapa, servindo para desbloquear recompensas na loja e pontos de glória. Com esses últimos, é possível abrir novas habilidades na Cathedral of Shadows (Catedral das Sombras), que vão desde fortalecer elementos para os golpes do Nahobino a recuperação de HP e MP ao subir de nível, passando por vantagens variadas para as mecânicas de combate e criação de demônios.

O único ponto que eu considero problemático é que os mapas nem sempre dão conta das informações necessárias para o jogador. Em particular, a topologia deles não é muito detalhada, o que é particularmente comprometedor porque em Shin Megami Tensei V a verticalidade é um aspecto importantíssimo da exploração. Pular é fundamental para atravessar certas áreas do jogo, e isso leva a algumas plataformas que se sobrepõem ao mapa plano.

Até existem pequenos indícios de relevo nos mapas, mas eles não são suficientes para os lugares mais complexos, como Chiyoda. Esse tipo de situação já foi resolvido em outros RPGs, como os jogos mais recentes da franquia Tales of, que incluem a opção de alternar entre alturas diferentes na visualização do mapa.

Negociando com demônios

Um aspecto tradicionalmente bem-desenvolvido da série é o combate, sendo composta por títulos que prezam muito pelo conhecimento do jogador. Cada inimigo possui fraquezas e resistências a determinados elementos, e é importantíssimo explorar essa mecânica para vencer. A primeira etapa para isso é a construção da equipe, o que implica em reunir demônios como aliados.

O Nahobino lidera o grupo e sua morte resulta em um game over. Além dele, é possível ter mais três personagens, que podem ser recrutados através de negociação ou fusão. Primeiramente, o jogador precisa lutar contra os inimigos que habitam o Netherworld. Além de matá-los, é possível dialogar durante o combate usando o comando Talk. Na conversa, é necessário selecionar a opção de fala que a criatura quer ouvir e cumprir algumas demandas, que podem ser pedidos por dinheiro e itens ou testes de parâmetros como força e agilidade.

O demônio que é convencido a se unir à equipe pode então ser usado posteriormente como material de fusão. Unindo duas criaturas (ou mais, no caso de fusões especiais), é possível criar novos aliados, mais poderosos e com habilidades específicas. Lidar com os chefes se torna muito mais fácil tendo aliados que anulam os seus golpes e exploram as suas fraquezas.

Cada criatura possui também essências que podem ser usadas para fornecer novas habilidades ao Nahobino e seus aliados ou para alterar as resistências e fraquezas do protagonista. As afinidades elementais também pesam nas magias que podem ganhar bônus e ter seu custo reduzido se estão alinhadas à criatura que as usa. Há uma vasta possibilidade de customização aqui e vale a pena explorar o sistema para lidar de forma inteligente com os momentos de dificuldade mais elevada do jogo.

No que tange ao combate em si, é importante destacar que mais uma vez temos o sistema Press Turn, que já se tornou característico da franquia. É ele que motiva ainda mais essa exploração de fraquezas e resistências, já que atacar o ponto fraco de um inimigo implica em ganhar um turno adicional de ataque, mas ter seu golpe anulado implica em perder turnos. O resultado é que o uso inteligente de ações é muito bem recompensado.

Junto a ele, temos uma nova mecânica baseada no Magatsuhi, elemento também presente na história de Shin Megami Tensei III (Multi). Em SMTV, essa energia permite o uso de habilidades especiais. O padrão é a Omagatoki: Critical, que torna todos os ataques físicos e mágicos em críticos até chegar o turno do oponente. Vale destacar que essa habilidade também pode ser usada pelos inimigos e há outras opções que podem ser liberadas para Nahobino caso você realize quests e diálogos com NPCs.

Um RPG que faz juz ao nome Shin Megami Tensei

Além de todos os aspectos mecânicos que mencionei acima sobre o combate e a exploração, é importante destacar que a ambientação em Shin Megami Tensei V é profundamente beneficiada pela trilha sonora e o belo trabalho visual. Trata-se de um jogo belíssimo para o Switch que opta por um visual mais esfumaçado e estilizado, com ambientes que chamam a atenção por suas paletas de cores marcantes e o forte senso de um mundo em ruínas.

No campo sonoro, é particularmente notável o uso de trilhas de rock de alta qualidade para os momentos mais tensos da narrativa e os combates, ajudando a dar mais dinamicidade aos conflitos. Há alguns problemas de performance, mas eles são bem raros e não chegam a atrapalhar de fato no gameplay.

Shin Megami Tensei V é uma excelente adição para a série de RPGs da Atlus. Apesar de alguns problemas pontuais, trata-se de uma experiência rica em detalhes e que vale muito a pena jogar. Mesmo com tantos anos de expectativa construída, o resultado é bastante positivo e um dos melhores títulos do gênero no Switch.

Prós

  • Sistemas de combate sólidos, que exigem atenção a fraquezas e resistências;
  • Cenários vastos com mecânicas que incentivam a exploração;
  • Customização vasta de equipe graças à negociação, fusão, essências e milagres;
  • Ambientação bem-trabalhada, com um toque de tensão e mistério;
  • Trilha sonora de alta qualidade, sendo particularmente notáveis as músicas de combate e de momentos tensos da narrativa.

Contras

  • A indicação topológica dos mapas não é satisfatória para as áreas mais complexas;
  • Os personagens, motivações e tramas poderiam ser um pouco mais detalhados;
  • Alguns poucos problemas de performance.
Shin Megami Tensei V — Switch — Nota: 9.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA/Atlus

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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