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Análise: Timelie (Switch) — controlando o tempo em um criativo jogo de puzzle

Ao fazer um bom uso da tela de toque, este indie torna-se ideal para o modo portátil do console da Big N.

O que você acharia de ter a habilidade de controlar o tempo? Não seria bom poder avançar uns instantes para descobrir o que vai acontecer na sua vida? Ou, ainda, ser capaz de retornar ao passado para evitar que determinados acontecimentos ocorram? É justamente a partir dessas premissas que o indie Timelie se desenvolve. Trata-se de um engenhoso jogo de stealth, com uma temática futurista cativante, uma jogabilidade para lá de criativa e quebra-cabeças que se mostram perfeitos para o modo portátil do Switch. 

Os enigmas temporais da história

A campanha de Timelie começa repleta de mistérios. Em uma breve cena inicial, presenciamos uma jovem garota levantando de sua cama. A partir de então, sem maiores apresentações, começamos a controlar essa protagonista não nomeada, tendo que atravessar pequenas salas que apresentam alavancas capazes de abrir e fechar portas iluminadas. 

A situação tranquila torna-se tensa na medida em que enigmáticos robôs surgem nos cenários. Por algum motivo, eles começam a nos perseguir, encurralando a personagem de cabelos loiros. Para nos livrarmos disso, eis que o principal conceito de Timelie é introduzido: a capacidade da protagonista de manejar o tempo.

Conforme avançamos ou retrocedemos temporalmente, conseguimos transitar de maneira discreta pelas salas, evitando eventuais encontros com os andróides inimigos, que seguem um padrão de comportamento. Diante dessa premissa, inicia-se uma aventura de fases lineares que se concentra em oferecer quebra-cabeças desafiadores, baseados em mecânicas de stealth que envolvem a protagonista e os robôs, tidos como os grandes vilões desta narrativa distópica.

Uma garota, um gato e muitos robôs

Em cada estágio de Timelie, os jogadores recebem a missão de levar a protagonista até uma porta branca, que varia de localização dependendo do ambiente em que estamos. Para chegar até esse portal, que representa o fim da cada fase, é necessário evitar que os robôs detectem a nossa presença com seus sensores de movimentação e ruídos.

Tratando-se dos controles do título, é importante ressaltar que a jogabilidade opera de maneira um tanto singular: a partir do uso do analógico direito ou da tela de toque do Switch em modo portátil, podemos selecionar um determinado ponto do cenário, que divide-se em pequenos quadrados, para que a protagonista dirija-se até lá nos instantes seguintes. 

Entretanto, como nossa grande missão envolve discrição, torna-se crucial observar o que ocorrerá naquele ambiente nos próximos segundos. Isso será possível uma vez que cada estágio nos apresenta uma espécie de linha do tempo, que mostra as movimentações inimigas nas fases nos instantes subsequentes. Diante disso, cabe a nós manipular a protagonista para que escape dos robôs, transitando entre o passado, o presente e o futuro de cada cenário.

Com desafios que também consistem em acionar alavancas para erguer passagens, fechar portas para aprisionar robôs e encontrar pontos escondidos, este conceito temporal se mostra bastante interessante, formando puzzles extremamente engenhosos e bem-pensados. Dessa forma, os grandes pontos fortes de Timelie estão em sua jogabilidade e seus conceitos de level design, que ganham novos aspectos com o decorrer da campanha.

Como exemplo, temos o surgimento de um gato laranja, que em certo ponto passa a nos acompanhar e se torna uma espécie de segundo jogador na jornada. Embora seja mais difícil comandar dois personagens através dos ideais de stealth, novas possibilidades surgem em nosso leque de movimentações, como a capacidade de usar o felino e seus miados para distrair os guardas robóticos.

Assim, não restam dúvidas de que o gameplay de Timelie é instigante desde o início, ganhando destaque principalmente por sua criatividade e exigência de precisão. Afinal, nesta aventura, todo e qualquer movimento deve ser friamente calculado, uma característica que traz diversão e intensidade aos desafios estratégicos.

Estética futurista em uma aventura preferencialmente portátil

Mesmo com traços simples, não podemos negar que Timelie dispõe de um estilo artístico encantador. Sua principal qualidade visual está na exibição de atraentes cenários futuristas, com cores claras e ambientes iluminados que se parecem com obras audiovisuais do gênero de ficção científica. 

Para demarcar o que está acontecendo no presente do que é passado ou futuro, o título faz o uso de diferentes paletas de cores, o que é inteligente e facilita nossa identificação. Enquanto isso, na parte sonora, é interessante observar como as trilhas buscam incrementar a ambientação da jornada, entoando sons espaciais que dão uma maior sensação de profundidade e tensão aos quebra-cabeças.

Embora não haja grandes diferenças visuais quando comparamos as formas de se viver a aventura no Switch, há de se dizer que Timelie é mais divertido quando jogado no modo handheld. A explicação para isso está na tela de toque do console híbrido, que nos permite movimentar os mapas e controlar os personagens com mais rapidez e praticidade, substituindo a função do mouse, usada em sua versão original para PC.

Além disso, é possível usar a touchscreen do Switch para regular outros elementos, como a linha do tempo de cada estágio. Desse modo, podemos avançar ou retroceder com o simples uso do dedo indicador, como se estivéssemos ouvindo uma música ou assistindo a um vídeo no celular.

São esses detalhes – que podem parecer pequenos, mas que são muito práticos – que fazem de Timelie um título perfeito para o modo portátil, algo que é reafirmado ao considerarmos a extensão de seus estágios, que são breves e impedem a jogatina de se tornar cansativa. Dessa forma, tive momentos extremamente divertidos na companhia da jovem protagonista e do gato laranja. Uma pena que não somos apresentados de maneira detalhada a estes misteriosos personagens.

Detalhes perdidos na cronologia do jogo

Embora Timelie conte com uma jogabilidade de muita originalidade, algumas de suas características acabam deixando a desejar na hora de se criar uma personalidade mais robusta. Ao meu entendimento, isso ocorre em função de dois fatores, sendo um deles a falta de maiores apresentações do enredo.

É legal vivenciar o início da campanha com os seus grandes mistérios. Todavia, após algum tempo, é comum sentir uma falta de proximidade com os personagens e os contextos da trama. Afinal, sequer sabemos a identidade da protagonista e o motivo de estar naqueles lugares, onde robôs hostis a perseguem. 

Enquanto isso, outra característica similarmente prejudicial está na baixa diversidade dos elementos gerais do título. Acontece que os cenários variam pouco ao longo da campanha, assim como os inimigos e estilos de desafio costumam ser os mesmos do início ao fim. Isso compromete na hora de se criar uma identidade mais saliente à aventura, que poderia ser mais profunda ao trazer traços de pluralidade.

De qualquer modo, estes são apenas meros detalhes por trás da inventividade dos quebra-cabeças cativantes de Timelie. A verdade é que o jogo apresenta méritos que acabam se sobressaindo, ofuscando as falhas ao possibilitar uma jogatina singular, funcional e, principalmente, memorável.

O passado, o presente e o futuro de uma jornada impactante

Ao conceder o poder de manejar o tempo para resolver puzzles engenhosos, Timelie consegue encantar com uma jogabilidade criativa e envolvente. Se somarmos isso à praticidade das características do modo portátil do Switch, temos uma jornada altamente divertida de se experienciar, a qual pode ser facilmente recomendada para fãs de quebra-cabeças e jogos de estratégia como um todo.

Prós

  • Aventura com estágios de excelente level design;
  • Jogabilidade apresenta conceitos de controle temporal divertidíssimos;
  • Puzzles engenhosos do início ao fim da campanha;
  • Estética futurista de bom-tom;
  • Ótimo uso da tela de toque do Switch, tornando-se uma aventura apropriada para o modo portátil do console.

Contras

  • Pouca variedade em termos de cenários, inimigos, elementos e situações;
  • Enredo e contextos carecem de maiores apresentações.
Timelie — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Janderson Silva
Análise produzida com cópia digital cedida pela Zordix

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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