O fenômeno waifu e Blue Reflection: Second Light (Switch)

Com uma presença crescente na cultura pop, as waifus estão, cada vez mais, conquistando pessoas ao redor do globo e não encontrá-las parece inevitável

Com o lançamento de Blue Reflection: Second Light (Switch) e a nova exploração das garotas dessa saga, o principal foco da série: as meninas e seus sentimentos profundos, evidenciam um fenômeno que vejo tomando proporções absurdas na nossa comunidade de games: o fenômeno waifu.

Seja de maneira delicada e sentimental, próprias dessa franquia, ou mesmo em cenas de puro fanservice, as garotas empenham-se a todo momento em ser mais do que apenas “bonequinhas virtuais”. Seja na minha jogatina, durante a navegação na internet,  ou ainda na própria cultura pop: por que são as waifus tão relevantes e presentes em games, séries, animes e na cultura pop geral?

Garotas.. aos montes?!

O aumento da acessibilidade da mídia digital nas últimas décadas tem permitido que mais e mais pessoas passem a interagir diariamente com personagens fictícios de qualquer natureza. Seja com mascotes de empresas, membros de desenhos animados ou figuras carimbadas de uma marca, personagens são cada vez mais parte do nosso relacionamento com as mídias.
O que explica o mercado de Dakimakuras?
Nos últimos anos, no entanto, um novo fenômeno surgiu: o de personagens femininas de anime, com pouca roupa,que falam quase que em gemidos e ficam coradas ao conversar com você — e todas as variações disso. Junto desse fenômeno, temos pessoas que são seriamente atraídas, que possuem um crush ou até mesmo são apaixonadas por esses personagens fictícios, em especial garotas japonesas de seios avantajados.

Algo que antes parecia limitado a alguns “casos japoneses”, que desde os primeiros jogos não localizados, ainda no Nintendo DS, colecionavam “namoradas virtuais”, está se tornando para muitos até um braço do soft porn enraizado na nossa sociedade, em algumas ocasiões.

Meu personagem favorito é...

A realidade ficcional tem rodeado as pessoas desde o berço e as acompanhado durante toda a sua vida por gerações. A mídia, a literatura, o cinema, os videogames, até mesmo a música, cria e forma um ambiente de informações, estabelecendo certos gostos e valores. 

Os relacionamentos com cada história, personagens marcantes ou acontecimentos de impacto acabam deixando uma marca tão grande nas crianças e jovens, sendo possivelmente até mais memorável do que vários momentos gastos com os próprios pais. Afinal, quem não se lembra de alguma cena clássica ou personagem intrigante do desenho favorito que assistia?
Se você é fã, você quer service?
Em especial enquanto somos ainda menores de idade, nosso cérebro não percebe uma real diferença de estímulos entre aquilo que é real e o artisticamente simulado. Assim, muitas vezes os sentimentos, afinidades e até desejos em relação a um personagem fictício podem ser tão brilhantes e sinceros quanto os sentimentos por uma pessoa real. Afinal, os estímulos cerebrais para tal são, muitas vezes, da mesma natureza, como apontam algumas pesquisas.

Desde cedo, as crianças, sob o efeito desses sentimentos, não só criam amigos imaginários, mas também encontram modelos nos personagens e arquétipos, tentando colocá-los em um pedestal de referência e até mesmo imitá-los em personalidade, atitudes e comportamentos. 

O conceito de waifu — e o de husbando por acréscimo — é montado em cima disso: os personagens são construídos de forma programada para serem compreendidos como seus parceiros, de acordo com características como aparência, caráter, temperamento, e aspectos até mesmo físicos para ser a “perfect fit” para você.

Em outras palavras, uma pessoa escolhe ela mesma seu próprio parceiro virtual, não precisando assim entrar em um relacionamento real, com seus problemas, incertezas e dificuldades. Vale notar também que, apesar da origem puramente japonesa das waifus, elas podem ser aplicadas aos personagens fictícios de todas as culturas e origens.

Em Blue Reflection: Second Light, isso é ainda mais evidente, haja vista tamanha  variedade de garotas com personalidades, volume de seios, objetivos e comportamentos diferentes, que o jogador ou é constantemente induzido a encontrar uma parceira para chamar de sua, uma personagem favorita e especial para desenvolver vínculos de afinidade, ou ainda já há todo um ambiente criado para formação deles para os que já iniciam a narrativa com esse objetivo.

Pode ser algo inofensivo… ou não

O fenômeno waifu atua em cada um de maneira muito individual e se foca em diferentes impactos que ele pode gerar no inconsciente. Enquanto para a maioria possa ser simplesmente tosco e ridículo, para alguns, é um mecanismo de defesa, uma tentativa de evitar a responsabilidade dos relacionamentos, para os quais a pessoa não está pronta ou não quer lidar, tamanha a dificuldade de se relacionar com pessoas reais e suas exigências advindas da sociedade.


Já outros têm uma waifu por causa da pressão causada pela carência e potencializada por uma falta de competitividade no ato de marcar encontros, falta de parceiros e/ou uma decepção com pessoas reais. Afinal, as personagens digitais estarão sempre por ali, disponíveis, sorrindo e abertas a fazer o que você quiser com elas.

Assim como no caso das pessoas reais, estimamos os personagens a partir da nossa experiência com eles, associando-os consciente ou inconscientemente a nós mesmos, ou ao nosso ambiente por todo um conjunto de fatores que nos levou procurá-lo: um dia especial, uma mensagem de carinho, ou mesmo um match com suas preferências pessoais e/ou sexuais — sim, vai tão fundo a esse ponto. 

É interessante que a cultura pop vem impondo sem restrições vários desses personagens aos consumidores com frequência cada vez maior, apresentando-os como alguém quase perfeito, criando assim muito menos entraves do que em relacionamentos com personalidades reais. 
Porque incluir uma foto da protagonista de biquíni é indispensável, claro.
À primeira vista, poderia parecer que o papel social de waifus e conceitos similares é irrisório, mas a quantidade de material adulto ou que objetifica essas “meninas virtuais” enquanto objeto de prazer, companhia ou desejo é estranhamente grande. 

Para alguns pode até mesmo ser previsível, haja vista o motor da internet ser o que é, mas a intenção de torná-las como NSFW pode ter sido o propósito desde o começo. E claro que os jogos se beneficiam disso para conseguir maiores números de vendas ou chamar a atenção de rapazes “curiosos” pela internet.

Um confronto com a realidade

Estou longe de ter gabarito ou conhecimento para afirmar o quão bom ou mal esse fenômeno é para a sociedade, em especial na visão dos garotos para com suas eventuais parceiras. Mas a quantidade enorme de meninas de anime com as mesmas características que têm tomado conta do mundo dos games e a cultura pop em geral impressiona.

Basta uma visitinha na loja de aplicativos de seu smartphone ou mesmo um passeio na eShop para ver waifus aos montes em novos Apps de jogos chineses ou indies de baixo orçamento. A realidade é que waifus vendem, afinal.

De fato, é necessário entender que waifus são imagens idealizadas de um parceiro perfeito, projetadas em personagens de mentira; nada mais que uma ideia romantizada. Mas sou capaz de dizer que o escapismo da realidade sob essa forma de relacionamento é perigoso ou duvidoso, no mínimo. 

Com a profundidade em pensamentos e sentimentos que Blue Reflection: Second Light mergulha, colocando o jogador na pele de cada realidade feminina enquanto as expõe da cabeça aos pés apenas reforçou que, ao fim, eventualmente, todos criam a realidade que querem ver.
Mas e você? Como tem reagido a essa onde de waifus por toda a internet? Você curte jogos que tem as personagens como sua principal premissa de angariar jogadores? Deixe sua opinião nos comentários!
Revisão: Janderson Silva

Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
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