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Análise: RPGolf Legends (Switch) une o tradicional esporte a um divertido mundo encantado

A aventura de Aerin nos mostra duas grandes utilidades para um taco de golfe: praticar o esporte e golpear monstros.

Sabemos que o golfe está distante de ser um dos esportes mais populares no Brasil, mas isso não significa que ele não possa nos alegrar de alguma maneira. Eis que RPGolf Legends exibe uma divertida amostra disso, principalmente se considerarmos sua estrutura de conceitos inventivos. Combinando a prática do esporte com uma progressão RPG em um universo fantasioso, a aventura oferece momentos cativantes no Switch.

Salvando o mundo (ou, pelo menos, seus campos de golfe)

Desenvolvido e publicado respectivamente pelos estúdios japoneses ArticNet e Kemco, RPGolf Legends narra a história de um universo em que todos os campos de golfe foram interditados por uma força mágica desconhecida. Com isso, o então esporte mais popular entre a civilização teve de parar de ser praticado imediatamente.

Logo nos primeiros momentos da trama, somos apresentados a Aerin, uma garota da cidade de Mulligandale que também adorava a atividade. Para suprir sua ausência, ela aderiu a novos passatempos, como a pescaria. Em um belo dia, enquanto pescava, a jovem acabou fisgando um taco de golfe antigo, que provavelmente estava debaixo d’ água desde o banimento do esporte.

Para a surpresa da protagonista, esse utensílio subitamente tomou vida própria e se apresentou como um espírito chamado Clubby. Apresentando poderes mágicos, o espectro se tornará promissor para a jornada, na medida em que dispõe de habilidades potentes o bastante para derrotar as forças sombrosas que bloqueiam os campos de golfe. 

Após libertar as áreas do esporte em Mullingadale, Clubby diz ser capaz de fazer o mesmo em todos os outros campos do universo. Para isso, no entanto, ele precisará de pontos de energia, os quais poderão ser conquistados a partir da prática do esporte e mediante a realização de outras tarefas e ações. Assim, se desenvolve o ciclo de gameplay do título, que dispõe de conceitos criativos, além de ser efetivamente divertido.

Tacos esportivos multiuso

De maneira peculiar, ao controlarmos Aerin, sempre estamos com um taco de golfe por perto; e não digo isso por causa de Clubby, espírito companheiro da jornada. Acontece que o acessório esportivo também deve ser utilizado para outras funções, como derrotar monstros. Afinal, certas tarefas impostas envolvem enfrentar as criaturas hostis que habitam este mundo, em combates que serão parte crucial do gameplay, conforme também liberam pontos de energia para desbloquear novos campos.

Para esclarecer melhor os conceitos de gameplay, trarei um dos primeiros exemplos da aventura. Após liberarmos todos os campos de golfe de Mullingandale, devemos prosseguir em nossa jornada até recuperarmos esses espaços esportivos em outras regiões, como Merkatia. Porém, para irmos até lá, precisamos de um barco, o qual poderá ser conquistado através da realização de missões para os moradores locais.

Uma das tarefas iniciais envolve resgatar um gato que está cercado de monstros assustadores em uma praia. Ao chegarmos lá, entra em cena o conceito que o jogo chama de Battle Mode, no qual temos de usar o taco de golfe para golpear os monstros em tempo real. 

Seja contra ogros, caranguejos gigantes ou cobras venenosas, o setor de batalhas de RPGolf Legends é divertido, embora seja deveras básico, pois divide-se apenas em ataques simples ou carregados, esquivas e bloqueios. Dessa forma, não há, grosso modo, um desenvolvimento de habilidades, movimentos ou estilos de golpes ao longo da campanha, o que lamentavelmente faz com que o segmento sofra com falta de diversidade.

Enquanto isso, a outra metade do gameplay consiste na prática do golfe, manifestada a partir de momentos dos quais jogamos sozinhos ou em partidas contra outros NPCs. Seguindo o principal conceito do esporte, que é acertar os buracos com o menor número de tacadas, temos um segmento variado em termos de jogabilidade.

A partir da perspectiva top-down, os comandos dispõe de um padrão comum em outros jogos digitais de golfe, com conceitos de mira, controle da força das tacadas e o uso de possíveis efeitos. Portanto, algo já visto em títulos como Golf (NES), Wii Sports e as várias entradas do spin-off Mario Golf.

Olhando para o todo, é interessante perceber como esta combinação inusitada entre o esporte e o conceito de batalhas em tempo real resulta em uma jogatina divertida. Nesse sentido, acredito que o título ganha pontos por sua criatividade e pela execução bem-feita de suas mecânicas, que também são atraentes em outros dois aspectos: as sidequests e o sistema de progressão role-playing.

Toques de RPG e missões secundárias em um belo mundo aberto

Para complementar a combinação entre golfe e jogo de ação, RPGolf Legends apresenta um universo no estilo mundo aberto. Com isso, podemos desbravar diferentes regiões por trás da premissa de resgatar os campos esportivos. Além de termos um formato de exploração caracteristicamente divertido, cabe destacar que ele traz uma outra adição bem-vinda ao título, que é a possibilidade de realizar missões secundárias.

Estas geralmente podem ser apanhadas ao conversar com NPCs nos vilarejos. De certa forma, nota-se que as sidequests costumam envolver tanto a interface de ação do jogo, com missões de derrotar monstros ou de resgatar itens, quanto o seu lado esportivo, com tarefas que demandam certos tipos de tacadas nos campos. 

Desse modo, RPGolf Legends é um verdadeiro prato cheio para quem gosta de realizar missões secundárias. Quando completadas, estas tarefas rendem moedas que nos auxiliam a aperfeiçoar nosso personagem dentro do agradável sistema RPG do jogo. Assim, podemos usar armaduras mais fortes, expandir nossas barras de HP/MP e até conseguir equipamentos de golfe mais poderosos.

Outra característica que se destaca na aventura é sua bela estética, que apresenta fortes influências dos jogos 16-bits da era SNES. Em termos gráficos, é impressionante como os ambientes são vivos e os personagens exibem fisionomias inspiradas, sendo tudo isso realçado por uma pixel art exuberante. 

A trilha sonora, por sua vez, não fica para trás, encantando da mesma maneira. Um destaque vai para o tema de Merkatia, que dispõe de instrumentos dos quais sonoramente lembram da música entoada na Dragon Roost Island, de The Legend of Zelda: Wind Waker (GC).

Portanto, o universo de RPGolf Legends apresenta incontáveis atrativos para nos entreter por um bocado de horas, trazendo inclusive boas doses de humor em seus diálogos. Cabe dizer, todavia, que o título também dispõe de alguns problemas singelos, como escolhas inadequadas de gameplay e algumas características artificiais dentro dos combates.

Errando a tacada em algumas jogadas

Tratando-se do lado esportivo de RPGolf Legends, não temos problemas específicos, uma vez que a jogabilidade é efetiva e as partidas fluem de maneira agradável. Contudo, o mesmo não pode ser dito sobre certos aspectos de sua interface de ação em tempo real.

Primeiramente, nota-se uma certa artificialidade nos movimentos de combate. Os golpes com o taco, por exemplo, sofrem com uma pequena falta de precisão, nem sempre causando dano nos inimigos. O mesmo também vale para outras ações, como o bloqueio e as esquivas, que se mostram engessadas e desajeitadas. Desse modo, leva-se um tempo para se acostumar às nuances dos embates — segmento que, conforme dito anteriormente, é bastante básico e deixa a desejar em termos de diversidade e desenvolvimento.

Outro fator que me incomodou ao longo da jornada foi o sistema de uso das poções de HP e MP. Acontece que, ao usarmos um desses itens, temos de esperar passar um tempo de cooldown para utilizarmos outro. Assim, é fácil termos problemas dentro das batalhas por causa dessas frustrantes esperas.

Enquanto isso, cabe apontar dois pontos problemáticos em relação às missões secundárias. O primeiro deles envolve o fato de que elas não indicam previamente qual será nosso prêmio por realizar tal tarefa, o que é incomodativo. Em segundo, acredito que as sidequests poderiam dispor de recompensas mais atraentes. Afinal, elas geralmente nos presenteiam com simples moedas, deixando de lado itens que poderiam ser mais úteis, como os próprios pontos de energia para desbloquear os campos esportivos.

Diante disso, o ciclo de gameplay de RPGolf – que gira em torno das partidas de golfe, as batalhas e as missões secundárias – acaba perdendo um pouco de sua vigorosidade. Entretanto, nada tão grave a ponto de remover o fôlego e o brilho deste engenhoso RPG esportivo.

Golfe é entediante? Longe disso!

RPGolf Legends é um divertido jogo que combina o tradicional esporte europeu, que às vezes parece distante de nós, brasileiros, com progressão role-playing e batalhas em tempo real. Com qualidades múltiplas, forma-se um título capaz de nos aproximar das elegâncias do golfe, uma atividade que, ao contrário de seus estereótipos, está longe de ser vagarosa ou entediante — ainda mais quando ela é praticada em um mundo aberto amplo, atraente e encantador.

Prós

  • Uma história divertida sobre um universo amante de golfe;
  • Ao mesclar esporte e ação, a jogabilidade é criativa e agradável;
  • Mundo aberto abrangente, repleto de sidequests;
  • Estética fascinante;
  • Como consta no título, temos RPG, golfe e uma aventura lendária.

Contras

  • Sistema de batalhas é pouco desenvolvido, sofrendo com falta de diversidade e ações que aparentam artificialidade;
  • Certas escolhas de gameplay incomodam, como a restrição no uso de poções;
  • Missões secundárias poderiam ter recompensas mais claras e atraentes.
RPGolf Legends — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XBX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kemco

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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