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Análise: Record of Lodoss War -Deedlit in Wonder Labyrinth- (Switch) é um ótimo, porém curto, metroidvania

Apesar de curto, o metroidvania é um prato cheio para os fãs do gênero.

record of lodoss war deedlit in wonder labyrinth switch
Em 2020, o Team Ladybug entregou um ótimo trabalho com Touhou Luna Nights (Multi), um metroidvania capaz de transpor todos os elementos de bullet hell da franquia Touhou para um gênero totalmente diferente. Este ano, foi a vez de a desenvolvedora surpreender com Record of Lodoss War -Deedlit in Wonder Labyrinth- que, embora só pegue emprestados elementos da série no qual o jogo é baseado, apresenta uma jogabilidade excelente, mesmo que por poucas horas.

O que é Record of Lodoss War?

Para os menos familiarizados, Record of Lodoss War surgiu em 1986 como transcrições (replays) de sessões de RPG serializadas na revista Comptiq até 1988. Além do sistema Dungeons & Dragons, as aventuras do Group SNE também usavam regras de Tunnels & Trolls e RuneQuest.

Em 1988, o Dungeon Master Ryo Mizuno decidiu transpor essas sessões para livros baseados em alta fantasia, porém, com Lodoss War se tornando uma trilogia, o grupo decidiu abandonar as raízes de D&D e criar seu próprio jogo, chamado de Record of Lodoss War Companion, em 1989.

A editora Kadokawa Shoten imprimiu os replays do Group SNE entre 1988 e 1991, mas o sucesso foi tanto que não demorou para fazer sucesso e ganhar duas histórias extras, ilustradas por Yutaka Izubuchi. Record of Lodoss War também ganhou o mundo em outras mídias, como mangás, animes e drama CDs. 

A trama gira em torno de Parn, que tem como objetivos descobrir o que aconteceu com seu pai, um cavaleiro desonrado, e restaurar a glória de sua família. Junto ao protagonista estão Etoh, melhor amigo de infância de Parn, Slayn, seu amigo e conselheiro, Leylia, a namorada de Slayn, e Ghim, o novo mentor do jovem guerreiro.
record of lodoss war light novel edicao brasileira newpop
Edição brasileira da light novel publicada pela NewPOP; crédito: Ariel Maciel
Unem-se ao quinteto a Alta Elfa (de acordo com a tradução oficial brasileira da editora NewPOP) Deedlit, provinda da Floresta Sem Volta (Forest of No Return), que busca entender por que elfos passaram a se isolar, algo que, segundo ela, pode levar sua raça à extinção, e o ladrão Woodchuck. Conforme a aventura progride, Deedlit e Parn se aproximam, e o grupo do protagonista conhece novos amigos e inimigos.

Embora Record of Lodoss War -Deedlit in Wonder Labyrinth- tenha como base as aventuras criadas por Ryo Mizuno, o metroidvania não requer nenhum conhecimento prévio da série para ser aproveitado. Para os fãs mais aficionados, a história do jogo do Team Ladybug se passa antes dos acontecimentos do arco Diadema da Aliança (Diadem of the Covenant) e traz Deedlit presa em um estranho labirinto que evoca memórias dos amigos e inimigos da Alta Elfa.

Metroidvania com elementos de RPG

Como um metroidvania, os mapas são interligados entre si e requerem que o jogador explore cada seção a fim de encontrar chaves, itens e habilidades que o permitam acessar áreas anteriormente inacessíveis; ou seja, o backtracking é o mesmo de sempre. Conforme desbrava o Labirinto das Maravilhas, Deedlit deve encontrar as cinco Chaves da Alma (Soul Keys) que representam as memórias de seus aliados. É apenas com elas que a Alta Elfa poderá sair dessa prisão de memórias em que se encontra e descobrir a verdade sobre seu aprisionamento nesse labirinto.

Deedlit pode empunhar diversas armas, que podem ser obtidas de vários inimigos, achadas pelo labirinto ou compradas; além disso, a Alta Elfa ainda conta com a ajuda de dois silfos (sylphs) dos elementos vento e fogo. A protagonista também faz uso de diferentes magias e arco e flecha, sendo estes últimos necessários para resolver alguns puzzles no meio do caminho. Se comparado com outros jogos do gênero, Deedlit in Wonder Labyrinth consegue apresentar uma jogabilidade justa, com dificuldade na medida certa. O jogo também é generoso na questão de save points, nos quais a protagonista pode recuperar HP e MP por completo.

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A grande sacada do jogo foi a inclusão de um sistema de afinidades elementais, trazendo um dos principais elementos de RPG ao universo de metroidvanias. Assim como Deedlit, os silfos também ganham níveis e power-ups, podendo até mesmo recuperar o HP e MP da protagonista em determinados casos, funcionando como familiares para a elfa.

O desafio está mais no entendimento e uso do sistema de afinidades elementais, já que é graças a ele que o jogo pode ficar mais fácil ou mais difícil — aqui, cito como exemplo a batalha contra o Shooting Star, que me obrigou a voltar a uma das áreas iniciais só para conseguir a magia Undine, do elemento água, e finalmente derrotar o dragão de fogo. Os quebra-cabeças envolvendo o uso de arco e flecha também ficam mais complexos conforme o jogador chega aos estágios finais do jogo, e confesso que alguns deles me consumiram alguns bons minutos para serem completados.

Existem também dois minijogos no Labirinto das Maravilhas: um treino de arco e flecha, no qual o jogador pode tentar melhorar suas habilidades frente às barreiras presentes nos puzzles, e também um jogo de azar, no qual se pode multiplicar o dinheiro — ou perdê-lo. Esses pequenos passatempos são, de certa forma, interessantes e servem para dar uma sobrevida à duração total do metroidvania, que pode ser completado em apenas cinco horas, a depender das habilidades do jogador.

Quando finalizado, Deedlit in Wonder Labyrinth libera novas modalidades de jogo, sendo a mais interessante o modo Boss Rush, no qual se pode enfrentar novamente os chefes do jogo em sequência.

Charme para dar e vender

É notório o esmero do Team Ladybug para a questão audiovisual de suas produções. Assim como Luna Nights, tanto os gráficos em pixel art quanto as músicas que compõem a trilha sonora do jogo são condizentes com o universo fantástico de Lodoss War como um todo. Os comandos também são muito responsivos, fazendo com os controles sejam extremamente fáceis de dominar.

Como esperado, Deedlit in Wonder Labyrinth apresenta excelente performance tanto no modo portátil quanto no modo TV do Switch. Infelizmente, durante minha jogatina, senti alguns momentos de lag, sobretudo ao utilizar certas magias (em especial, Will o the Wisp)  em áreas com muitos elementos na tela; por outro lado, essas engasgadas não compreendem uma porção significativa do jogo, mas chegaram a dificultar meu progresso em determinados momentos, sobretudo em batalhas contra alguns chefes.

Em termos de acessibilidade, os controles podem ser reconfigurados à maneira do jogador e o metroidvania também conta com uma satisfatória localização para o português brasileiro, embora algumas frases parecem ter sido tiradas de livros do século XIX — e alguns tropeços, como “desde há muito tempo”. Se servir de consolação, o texto em inglês também contém alguns deslizes nos diálogos, mas nada que acometa a jogabilidade e o aproveitamento do jogo como um todo.
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Curta aventura, excelente jogabilidade

Mesmo que não seja totalmente uma experiência da série na qual é baseado, Record of Lodoss War -Deedlit in Wonder Labyrinth- oferece todos os recursos que um fã de metroidvania pode querer, sem parecer “só mais um clone” de Metroid ou Castlevania. Team Ladybug foi capaz de transpor elementos de RPG, a raiz de Lodoss War, a um action platformer simples e justo, porém totalmente satisfatório, que agrada tanto aos fãs saudosistas da série quanto aos jogadores que procuram uma jogatina casual.

Prós

  • Jogabilidade simples e diversificada, com diversos elementos de RPG presentes;
  • Dificuldade justa, nem muito difícil nem extremamente fácil;
  • Ótima performance tanto no modo portátil quanto no modo TV do Switch;
  • Excelente apresentação audiovisual;
  • Presença de minijogos divertidos e puzzles bem-elaborados durante a jogatina;
  • Controles configuráveis;
  • Outros modos de jogo desbloqueáveis ao completar a campanha pela primeira vez.

Contras

  • Alguns tropeços nas localizações para português e inglês;
  • Em certos momentos, presença de lag e “engasgadas” ao utilizar magias em cenários com muitos elementos visuais;
  • Duração de apenas algumas horas, a depender do nível de habilidade do jogador.
Record of Lodoss War -Deedlit in Wonder Labyrinth- — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise publicada com cópia digital cedida pela PLAYISM


Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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