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Análise: Grapple Dog (Switch) é um típico caso do jogo que começa bem, mas não se sustenta

Este simpático platformer que traz um gancho como mecânica principal perde muito da sua qualidade no Switch devido a problemas de performance.



Meu contato inicial com Grapple Dog é um reflexo curioso de como o contato com pessoas, empresas e marcas que antes pareciam inalcançáveis agora está muito mais fácil. Eu descobri aleatoriamente no Twitter o perfil do desenvolvedor e artista do jogo, e passei a segui-lo, acompanhando esporadicamente algumas mensagens dele sobre o andamento do projeto.


Isso foi há alguns anos (não lembro exatamente quanto tempo). Agora, em fevereiro de 2022, a espera acabou, e Grapple Dog enfim está entre nós, desenvolvido pela Medallion Games e publicado pela Super Rare Originals para Switch e PC, via Steam. Ele entrega vários bons momentos de platforming, mas o nível da qualidade não dura até o final, e o desempenho da versão do console da Nintendo prejudica ainda mais a experiência.

Nisso que dá ficar confiando em qualquer cabeça de robô que aparece

Pablo é um entusiasmado, mas ingênuo cachorrinho que faz parte de um grupo de pesquisadores de História. Ele e sua equipe chegam a uma ilha abandonada procurando um tesouro pertencente a um indivíduo lendário conhecido como o Grande Inventor. Durante a exploração, Pablo acaba caindo em um buraco e conhece um estranho robô chamado Nulo, que promete tirá-lo dessa enrascada.




Após ajudar Pablo a encontrar um gancho que se prova muito útil para escalar paredes e saltar pelo ar com rapidez no melhor estilo Homem-Aranha, Nulo acaba se mostrando um traidor sem-vergonha e revela seus planos de acabar com o mundo. Após fugir da destruição causada pelo robô, nosso intrépido protagonista descobre que precisa reunir os Artefatos Cósmicos, itens de imenso poder criados pelo Grande Inventor, para impedir o vilão.

Segue então uma tradicional e linear aventura pelo conjunto de ilhas que formam Partash, passando por fases com inimigos e desafios de plataforma centrados na mecânica do gancho que dá nome ao game. Cada mundo da campanha segue temas bem padrão ao gênero, como praias, fogo e gelo. Ao final dessas sequências de estágios, há as protocolares batalhas contra chefes, que aqui não têm muito destaque e parecem existir apenas para preencher lacunas de roteiro.




As fases em Grapple Dog, compostas por um visual pixel art 2D, possuem alguns tipos de coletáveis, como gemas roxas, necessárias para desbloquear as batalhas contra chefes; pequenas frutinhas que parecem laranjas e rendem mais gemas se alcançarmos quantidades suficientes; e medalhas azuis que liberam fases bônus nas quais ganhamos… isso mesmo, mais gemas roxas.

Após concluirmos um estágio pela primeira vez, o modo de Teste de Tempo fica disponível. Nele, o único objetivo é alcançar o final do percurso no menor tempo possível, ou ao menos rápido o suficiente para conseguir a medalha de ouro. Essas missões alternativas não são obrigatórias para a progressão, mas rendem excelentes desafios, principalmente para quem gosta de se pôr à prova nas chamadas speedruns.

No swing do seu gancho com um dog muito louco

Justificando o nome do joguinho, o gancho é o que faz o gameplay de Grapple Dog brilhar. Ele pode ser disparado para cima em linha reta ou nas diagonais e, ao atingir objetos marcados de azul, como blocos e esteiras, Pablo se agarra a essas estruturas, tendo a opção de esticar a corda e se balançar para os lados, gerando impulso ao saltar. Alguns desses elementos, como balões e canhões, recebem mira automática, bastando pressionar o botão do gancho para alcançá-los.

Esse tipo de explicação acaba sendo muito maçante, então não vou esticar demais. O que eu recomendo é que você simplesmente teste as várias possibilidades de movimentação do protagonista com a sua ferramenta. Uma sequência bem-encaixada de disparos pode levar a combinações extremamente satisfatórias de um deslocamento acelerado pelas fases, cortando caminho e deixando para trás armadilhas e inimigos que não viram nem a cor do cachorrinho amarelo que passou por eles.

Os objetos coletáveis, inclusive, incentivam exatamente esse tipo de proficiência técnica por parte do jogador. As gemas roxas costumam estar em locais de difícil acesso ou ocultas, requerendo uma combinação de um bom faro investigativo com a conhecida destreza necessária para se dar bem em platformers. Os níveis bônus mantêm essa pegada, dividindo-se entre missões de eliminar todos os inimigos, recolher todos os fragmentos de gemas ou chegar ao final do percurso antes que o tempo acabe.

Complementando toda essa ação, está uma trilha sonora com boas faixas, mas fraca em termos de variedade. Cada mundo tem uma única música para todas as suas fases, o que inevitavelmente se torna repetitivo. Em alguns momentos, eu preferi tirar o volume do jogo e escutar alguma outra coisa enquanto jogava, já que o som não é crucial para o gameplay.

Por outro lado, a dublagem traz um charme divertido aos poucos diálogos presentes na campanha. No melhor estilo Banjo-Kazooie, os personagens fazem barulhos e grunhidos característicos das suas espécies, com um destaque especial para Pablo, que quando está triste ou preocupado emite os ganidos típicos de um cachorrinho chateado.

Não se ensina truques velhos e repetitivos a um cachorro novo

Grapple Dog pode trazer boas lembranças dos clássicos de plataforma, mas seu frescor não perdura até o final da jogatina. Pouco após a metade da campanha, lá pelo terço final, algumas das mecânicas introduzidas ao longo da aventura começam a ser reutilizadas em excesso, resultando em uma similaridade muito grande entre as fases, mesmo que elas sejam de mundos diferentes.




Eu cheguei a um ponto em que continuei jogando mais para conferir o final da história e descobrir se existia algum conteúdo extra ou bônus por fazer os 100%, como mundos adicionais ou um final alternativo, do que pelo desafio das fases em si. E se tem um problema que agrava ainda mais esse desânimo, é o desempenho do game no Switch.

Posso afirmar sem qualquer receio que, no quesito performance, Grapple Dog está entre os piores indies que eu já analisei no híbrido da Nintendo — isso se não for o pior. As travadas e quedas na taxa de quadros se mostraram bem frequentes, e num jogo onde a precisão e a atenção para acertar o gancho e realizar as ações certas são vitais, um único segundinho de atraso pode fazer toda a diferença entre superar um trecho difícil e se frustrar novamente com o fracasso.

Outra questão incômoda é a movimentação do Pablo durante os saltos simples, sem o gancho. Achei os pulos do cachorrinho e o seu deslocamento aéreo difíceis de controlar, e mirar uma aterrissagem ou uma pancada em um inimigo me trouxe resultados inconsistentes. Dá para se acostumar até certo ponto, mas é meio estranho entender a física do jogo nesse aspecto.




No âmbito das inconveniências menores, presenciei alguns bugs ocasionais, que só ocorreram uma vez ou outra, como paredes invisíveis que me esmagaram e uma câmera defeituosa que deveria ter continuado acompanhando o Pablo, mas ficou parada em um canto, me deixando sem escolha além de seguir cegamente em frente até perder todos os meus pontos de vida.

Deixa o cachorro brincar, Nintendo




Grapple Dog é mais um infeliz exemplar de um game que tem parte da sua experiência comprometida no Switch. Para além das falhas de performance, ele se sai bem até o terço final da campanha, mas a partir daí vai ficando meio cansativo, o que não exclui suas qualidades como um platformer de ação recheado de bons desafios e itens coletáveis para os que gostam de ver aquele 100% no menu dos arquivos de jogo, além do modo Contra o Tempo para quem prefere ir bem rápido.

Prós

  • Desafios de plataforma divertidos de superar;
  • O competente uso da mecânica do gancho é o que dá alma ao jogo;
  • A boa quantidade de itens coletáveis e o modo Contra o Tempo dão ao jogo uma sobrevida bacana;
  • Dublagem carismática dos personagens, com destaque para o protagonista;
  • Tem o português como idioma disponível, tanto de Portugal quanto do Brasil.

Contras

  • Performance terrível no Switch, com travamentos e quedas pesadas na taxa de quadros;
  • A trilha sonora do jogo, com uma faixa por mundo, rapidamente se torna repetitiva;
  • A reciclagem de mecânicas implementadas nas fases acaba tornando o gameplay muito repetitivo;
  • A movimentação aérea do Pablo durante os saltos sem o gancho é estranha de controlar e se acostumar;
  • Bugs ocasionais que ocorreram uma vez ou outra, como esmagamento por paredes invisíveis ou câmera defeituosa que não acompanhou o personagem.
Grapple Dog - Switch/PC - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Super Rare Originals


Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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