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Análise: River City Girls Zero conta a origem das garotas porradeiras no Switch

A prequela de River City Girls traz um título esquecido do Super Nintendo para os dias de hoje.


Para os que não sabem, River City Girls, o divertido beat ‘em up lançado em 2019, faz parte da consagrada franquia Kunio-kun, também conhecida como River City no ocidente. O primeiro título da série, lançado em 1986 para os arcades e em 1987 para o Famicom, é considerado um dos precursores do gênero do beat ‘em up side scroller e rendeu uma quantidade massiva de sequências e outros spin-offs ao longo desses mais de 30 anos de história.

Enquanto a aguardada próxima aventura das garotas de River City (que já está confirmada para este ano) não chega, a WayForward decidiu acessar essa enorme biblioteca da franquia e resgatar um título obscuro que funciona como um tipo de prequela para a trama de River City Girls. 

River City Girls Zero é basicamente uma localização repaginada de Shin Nekketsu Kōha: Kunio-tachi no Banka para o Super Famicom que demorou 28 anos para chegar ao público ocidental. Será que a primeira aparição das garotas consegue manter o alto padrão dos clássicos do Super Nintendo?

Garotas de River City: a origem


O lançamento de River City Girls Zero marca o esforço em elaborar um pouco mais sobre a origem das personagens Misako e Kyoko, as namoradas dos protagonistas da franquia, Kunio e Riki. Algo que faz sentido na tentativa de expandir um pouco esse universo e manter o interesse dos fãs até a chegada de River City Girls 2, porém o resultado final deixa um pouco a desejar.

Infelizmente, a própria história, que é até bastante sombria e começa com os heróis fugindo da prisão após serem encarcerados injustamente, não coloca assim tanto foco nas garotas e em suas personalidades tão distintas. Não espere pelo alto nível de sagacidade e irreverência do jogo anterior. Várias caixas de diálogo detalham a narrativa do começo ao fim, no entanto as heroínas nunca demonstram o mesmo carisma de River City Girls — com a exceção da moderna e divertida cena de abertura e de algumas outras cutscenes no estilo motion comics


Embora seja “apenas” uma versão repaginada de um jogo antigo com menus, músicas, artes e cutscenes inspiradas no lançamento de 2019 das garotas, River City Girls Zero consegue fazer um convite interessante ao universo de um clássico perdido do Super Nintendo, com todas as vantagens e desvantagens de um jogo de 1994.

Por um lado, os gráficos construídos em genuínos 16-bit, ao contrário das várias homenagens modernas ao estilo que existem nos dias de hoje, agradam os olhos justamente por sua autenticidade rústica. Os cenários são um tanto vazios e passam bastante despercebidos, mas os personagens, em especial as garotas, exibem sprites detalhados e com bastante personalidade, colorindo de forma eficaz esse mundo que carece de atrativos.

Já em comparação com outros jogos de 1994, River City Girls Zero pode ser considerado visualmente sem graça e pouco inspirado como um todo. Clássicos atemporais provenientes de diversos gêneros como Super Metroid, Donkey Kong Country, Earthbound e Final Fantasy VI foram lançados exatamente no mesmo ano para o SNES. Lembrando desses exemplos é bem fácil perceber que falta algo para que a prequela de River City Girls consiga realmente chamar atenção e deixar sua marca.


Em relação ao gameplay, esse é um aspecto que pouco surpreende caso você considere o padrão dos beat 'em ups de 1994, principalmente os que sequer foram considerados para um lançamento desse lado do oceano. Nesse caso, nem é preciso fazer o contraste com Super Metroid para apontar a falta de profundidade da jogabilidade de um game do tipo.

Em geral, os ataques são lentos, a movimentação se arrasta um pouco e os controles não respondem muito bem. A detecção dos hits quando você ataca é estranha, assim como a dura movimentação dos inimigos. É fácil perder tempo atacando o espaço vazio por causa de alguns milímetros de distância do oponente para apenas ser atingido com força logo em seguida. Adicionalmente, a quantidade de golpes ao seu dispôr é pequena e apresenta pouca variação, com uma leve exceção para as garotas, que são mais rápidas e conseguem evitar os opressivos agarrões dos oponentes. 

Tirando algumas interessantes sequências em cima da moto, o loop do gameplay se resume a esquivar e atacar de forma quase inconsciente, com espaço limitado para algum planejamento e nenhum desafio que vai além de enfrentar a tendência do CPU em socar você com vontade de forma constante. O ponto mais diferenciado da estratégia de combate é a habilidade de trocar entre quatro personagens a todo momento e ter que protegê-los igualmente da morte — já que o resultado é game over se qualquer um deles perecer em combate.


O título reside na casa dos beat 'em ups pouco marcantes e que não envelheceram tão bem, mas existe sim mérito na preservação digital e no acesso fácil e de baixo custo a um jogo antigo e relativamente desconhecido que havia sido lançado apenas no Japão. Além disso, River City Girls Zero pelo menos conta também com algumas melhorias e facilidades adicionais que adicionam à experiência original.

Mantendo a fidelidade visual da resolução em 4:3, é possível selecionar uma série de bordas pouco inspiradas, mas que pelo menos cumprem o papel de preencher a tela. Há também uma função de save imediato por meio de um menu rápido que melhora bastante a experiência de progressão caso você queira digerir a curta aventura em pequenas sessões — que provavelmente é a melhor estratégia graças à jogabilidade repetitiva.

Um clássico pouco saudoso


É difícil recomendar River City Girls Zero para quem gostou do game de 2019, já que a prequela tem muito pouco em comum com a fórmula mais dinâmica e moderna da sua sequência. Teria sido ótimo ver Shin Nekketsu Kōha: Kunio-tachi no Banka refeito na engine de River City Girls e oferecido ao lado do game original em uma versão repaginada com tudo que se tem direito, porém a verdade é que teremos que esperar por River City Girls 2 para reviver uma experiência similar a do primeiro game. Do jeito que está, o relançamento é uma boa pedida apenas para entusiastas de jogos antigos, relançamentos e fãs assíduos da franquia.

Prós

  • Acesso fácil e de baixo custo a um clássico perdido que nunca foi lançado fora do Japão;
  • Algumas novidades e melhorias foram adicionadas à experiência, como a habilidade de salvar a qualquer momento;
  • Novas músicas e cutscenes no estilo River City Girls que todo mundo gosta;
  • Gráficos 16-bit que só um verdadeiro jogo de Super Nintendo consegue oferecer.

Contras

  • Jogabilidade simples, repetitiva e um tanto frustrante;
  • Bastante diálogo, mas pouco foco nas garotas de River City e em suas personalidades bombásticas;
  • Cenários simplórios e com pouca interação;
  • O relançamento perdeu a oportunidade de trazer o jogo clássico junto a uma versão realmente remasterizada da aventura.
River City Girls Zero - Nintendo Switch - Nota: 6.0
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Arc System Works

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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