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Análise: The Cruel King and the Great Hero (Switch): um RPG de fantasia como conto de fada

Explorando o estilo artístico de Sayaka Oda, o título é um RPG simples, mas encantador.

The Cruel King and the Great Hero
é o mais novo título da Nippon Ichi Software a chegar ao Ocidente. Continuando a sua linha de jogos menores para incentivar a criatividade de seus desenvolvedores, a nova obra é um RPG de turnos cuja história é um conto de fadas original.

Uma garotinha e um dragão

Yuu é uma jovem menina criada por um rei dragão em um território de monstros. Ela perdeu o pai e a mãe quando ainda era um bebê, mas o rei lhe conta histórias todos os dias sobre o grande herói que foi o seu pai. Inspirada por elas, a garota treina incessantemente para poder herdar esse legado de bravura e esperança.

O que ela ainda não sabe é que para obter o feito de ser considerada um “grande herói” (no masculino mesmo), será necessário derrotar um monstro poderoso. A história então trabalha a humanidade dos monstros e a possibilidade de coexistência entre eles e os humanos. Isso se aplica tanto à narrativa principal quanto às quests secundárias.
 
A sensação geral da obra é a de um conto de fadas, incluindo o tradicional elemento “moral da história”. Em termos da narrativa por si só, a obra é consistente e tem alguns momentos emocionantes, apesar de seu desenvolvimento ser um pouco óbvio. Porém, há um pouco de incongruência com o gameplay, afinal, o RPG gira em torno dos combates contra monstros do início ao fim.

Um aspecto em particular que chama a atenção é a sua atmosfera. The Cruel King and the Great Hero consegue transmitir muito bem a sensação de estar jogando um conto de fadas. As ilustrações de Sayaka Oda (The Blind Prince and the Liar Princess) são muito fofas e sua aparente simplicidade é um fator positivo para o jogo na maior parte do tempo. Para compor a atmosfera de fantasia, esse elemento visual se alia a uma trilha sonora que explora o doce som dos instrumentos de sopro e também possui algumas canções compostas, arranjadas e performadas por Akiko Shikata.
 
Infelizmente, também é notável que o jogo teve um baixo orçamento e optou por limitar bastante as animações. Se, por um lado, isso ajuda na composição do conto de fadas, por outro, há momentos estranhos em que é impossível não perceber a forte moderação da obra nesse aspecto.

Brigando com os monstros

The Cruel King and the Great Hero é um RPG baseado em turnos. Conforme explora os territórios dos monstros ao redor do castelo do rei dragão, o jogador terá que enfrentar uma variedade de inimigos no controle da pequena Yuu. Essas batalhas também refletem muito bem o pequeno escopo da aventura, dando à jovem pouco HP, poucos pontos para usar com habilidades. Além disso, as técnicas disponíveis são bem simples.
 
Para quem gosta de muita variedade estratégica para lidar com os combates, o título pode ser um tanto decepcionante. Trata-se de uma obra que opta por um design mais simples em que o ideal é se aproveitar dos recursos limitados. Por exemplo, a cada turno, tanto Yuu quanto outros aliados recuperam um ponto de habilidade.
Mesmo ao final do jogo, com vários itens à disposição para explorar fraquezas dos inimigos e curar aliados, Yuu só pode ter um amigo ao seu lado durante o combate. Com toda a simplicidade do jogo, a sensação é a de que se trata de um grande faz de conta. E, de fato, no início, há até elementos como a espada de madeira de Yuu e o seu pai dragão ajudando a menina a superar obstáculos sem que ela perceba.
 
Um diferencial que acaba ficando meio ignorado na experiência é o sistema de Spare. Com ele, é possível poupar um inimigo e liberá-lo do combate. Infelizmente, é primeiro necessário explorar as fraquezas das criaturas antes de deixá-las ir. Em alguns casos, apenas evitar atacar é suficiente, mas em outros é necessário o uso de um ataque elemental indisponível entre as habilidades básicas da personagem.
 
Como abrir mão desse sistema não traz nenhum impacto significativo, o resultado é que o jogador tenda a ignorar a existência dessa mecânica. Caso isso tivesse sido melhor explorado, a obra poderia oferecer uma experiência mais consistente e elegante com a sua moral da história.

De forma geral, porém, gostaria de destacar que o sistema de combate é simples o suficiente para servir como uma boa porta de entrada no gênero. Ao mesmo tempo, esse nível de restrição de habilidades e recursos pode apelar para alguns jogadores mais experientes atrás de algum desafio diferenciado.
 
Além do combate, há várias sidequests opcionais. Além de render dinheiro e uma outra moeda especial para desbloquear artes do jogo, elas são uma excelente forma de conhecer mais sobre os monstros que habitam o mundo, seus desejos e problemas pessoais. Por fim, gostaria apenas de destacar que a movimentação de Yuu pelos cenários é um pouco lenta e alguns textos em um certo boss extrapolam os balões de fala.

Um RPG de pequeno escopo, mas de grande coração

The Cruel King and the Great Hero
é um belo exemplo da capacidade criativa da Nippon Ichi Software. Trata-se de um RPG de pequeno escopo e de baixo orçamento, mas seu design consistente faz dele um envolvente conto de fadas. O título é especialmente recomendado para fãs de RPGs mais simples e narrativas infantis que apresentam belas discussões morais.

Prós

  • Atmosfera de conto de fadas bem trabalhada através da direção de arte e sonora;
  • Narrativa consistente e potencialmente emocionante;
  • Sistema simples de batalha por turnos pode servir como uma porta de entrada no gênero ou restrição curiosa para veteranos.

Contras

  • Sistema de spare mal implementado e sem impacto real no jogo;
  • Animações muito limitadas;
  • Movimentação lenta.
The Cruel King and the Great Hero - Switch/PS4 - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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