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Análise: Watcher Chronicles (Switch) transporta a alma do Souls para o 2D em um título competente mas genérico

O jogo é recomendável para quem quer enfrentar altas doses de dificuldade.

Atualmente não é incomum ver jogos inspirados pela franquia Souls da FromSoftware. Watcher Chronicles é um desses jogos, funcionando como um metroidvania soulslike que realmente busca passar a sensação de um Souls 2D. Apesar de ser bem sucedido nessa ambição e ter uma dificuldade interessante, a obra acaba se mostrando muito genérica e deixa um pouco a desejar no polimento.

Como um jogo de browser

Tudo começa com o jogador acordando no que parece ser uma cripta de um reino medieval. Vestido em uma armadura completa e munido de uma espada, ele logo áase vê diante de criaturas sombrias, com grande parcela delas sendo esqueletos de tipos variados. Em pouco tempo, ele receberá a missão de enfrentar inimigos gigantes e poderosos.

De uma forma geral, Watcher Chronicles é um jogo focado puramente no gameplay. São poucos momentos de texto, eles não desenvolvem a história de forma satisfatória e até mesmo descrever a narrativa é difícil. Passei pelo jogo sem realmente sentir que ele tinha algo para contar nessa parte.

Apesar disso não necessariamente ser um problema para alguns jogos, o resultado neste caso é que Watcher Chronicles é um título profundamente genérico. A sensação é a de que não há um mundo por trás da obra, uma motivação para avançar nem algo fora do combate que desperte o interesse para investir na experiência.

Visualmente o jogo utiliza um estilo 2D cartunesco que não combina tão bem com a sua proposta. Confesso que me parece algo mais próximo de um título de browser do que efetivamente um produto comercial 2D, com uma aparência um pouco rígida, especialmente nos movimentos dos golpes. Além disso, a taxa de quadros por segundo também sofre com quedas ocasionais que dão a sensação de uma breve, mas perceptível parada para carregar novos elementos da cena.

Reflexos e estratégia

Apesar de tudo que comentei de negativo, gostaria de destacar que o jogo realmente conseguiu representar bem a sua intenção de gameplay. Ele transmite a sensação de uma versão 2D do estilo de combate de Souls, com uma dificuldade alta que força o jogador a estar afiado em seus reflexos e estratégia.

Com uma arma básica e uma secundária para ataques a distância, o jogador precisa avaliar bem o seu ritmo de combos, defesas e esquivas. Há um sistema de pontos de energia (stamina) gastos para realizar essas ações. Caso o jogador consiga defender no momento exato do ataque inimigo, há uma animação de bloqueio (parry) mais lenta e o oponente fica paralizado por um tempo.

Em termos de builds, o jogador pode equipar uma variedade de armas, que incluem espadas, machados, lanças, arcos, livros de magia, entre outras opções. Há um pequeno santuário no início do jogo no qual é possível conseguir novos equipamentos, o que inclui também armaduras e anéis.

Os parâmetros do personagem também podem ser melhorados no santuário, aumentando o seu nível de poder. Conforme o jogador derrota as criaturas que encontra, recebe cristais de penumbra que podem ser utilizados para aumentar a força, a vitalidade, a destreza ou o foco. Além de afetar consideravelmente o combate, certos equipamentos podem ter requisitos baseados nesses valores.

Vale destacar também que o jogador conta com um bolso de poções. É possível obter upgrades ao longo do jogo, porém a ideia é que há um número limitado delas em uso. Para reestocá-las, não é necessário comprar mais poções, basta apenas interagir com as estátuas roxas. Esses objetos de decoração também contam com a função de teleporte para qualquer outra estátua já encontrada e de convidar um aliado para o co-op local.

O co-op é sólido, permitindo que o segundo jogador escolha entre certos arquétipos (guerreiro, ladino ou mago do fogo). Esse outro personagem segue o mesmo nível do primeiro jogador, não tem acesso a menu ou equipamentos e nem pode interagir com outros elementos do cenário além dos destrutíveis. Porém, ele pode reviver o principal em caso de necessidade.

De forma geral, trata-se realmente de uma experiência sólida de combate com boas opções de build, valorização do esforço do jogador e um co-op local eficiente. Centrado em torno da proposta de grande desafio, é perceptível que os desenvolvedores são apaixonados pelo formato Soulslike.

Outro aspecto que precisa ser exaltado no jogo é a sua trilha sonora. O foco das músicas é oferecer um tom épico para a exploração e elas são muito bem-sucedidas nesse aspecto. Compostas por Emanuele Viali, elas são um dos pontos altos do jogo, reforçando a tensão constante da aventura.

Um jogo genérico, mas divertido

Watcher Chronicles é um título com uma jogabilidade sólida, boa variedade de equipamentos e que sabe valorizar bem o raciocínio e os reflexos do jogador. Infelizmente, a obra passa uma forte sensação de uma experiência totalmente genérica cuja ambientação e história são totalmente descartáveis. Porém, caso esse fator não te incomode, terá aqui um Soulslike 2D bastante competente.

Prós

  • Combate sólido que valoriza timing, reflexos e estratégia;
  • Boa variedade de armas;
  • Trilha sonora que remete a um contexto épico;
  • Co-op local bem feito.

Contras

  • História pouco desenvolvida;
  • Ambientação genérica que não chama atenção;
  • VIsual cartunesco não combina com a proposta;
  • Ocasionais quedas perceptíveis de framerate.

Watcher Chronicles — Switch/PC/Android/iOS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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