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Análise: Prinny Presents NIS Classics Vol. 2 (Switch) traz dois RPGs de peso da NIS para o sistema híbrido

Com um trabalho um pouco melhor que o seu antecessor, a coletânea faz um resgate adequado de Makai Kingdom e ZHP.

Prinny Presents NIS Classics Vol. 2
continua a iniciativa de resgatar clássicos da desenvolvedora japonesa e relançá-los no Switch e no PC. Enquanto o primeiro volume contava com Phantom Brave e Soul Nomad, desta vez a repaginada é nos jogos Makai Kingdom e ZHP: Unlosing Ranger vs. Darkdeath Evilman.

O retorno do Overlord Zetta

Makai Kingdom é centrado na história de um Overlord chamado Zetta. Para impedir que uma profecia fatalista se torne realidade, esse líder supremo do Netherworld busca um livro sagrado na Biblioteca Proibida. Porém, em um ataque de fúria, ele queima o tomo e, sem ele, o Netherworld está fadado a ruir.

Para evitar que isso aconteça, Zetta confina a sua alma no livro, garantindo assim que ele não seja destruído. Como consequência, o Overlord acaba se tornando uma versão viva desse objeto, reduzindo consideravelmente a sua capacidade como grande senhor das trevas.

Agora, ele terá que reconstruir o seu Netherworld com a ajuda de outros Overlords. Em especial, a oráculo Pram, que parece estar se divertindo com a situação. Vale destacar que conquistar as novas áreas do mundo demandará o apoio de aliados, sendo a criação de novos lacaios fundamental para a conquista dos objetivos de Zetta.

De forma geral, Makai Kingdom é um RPG estratégico similar ao título Phantom Brave, que estava presente na parte 1 da coletânea. No lugar de Marlone, temos o livro Zetta que é totalmente incapaz de atacar, mas sua função é invocar aliados no campo de batalha. Sem eles, não seria possível enfrentar os inimigos e a quantidade de invocações é normalmente limitada.

Ainda em suas similaridades com Phantom Brave, vale destacar que, em vez de um grid quadriculado ou composto por tiles hexagonais, a obra usa uma área circular sem restrições. Ou seja, durante o seu próprio turno, o personagem pode se movimentar para qualquer ponto dentro de um círculo cujo tamanho é definido pelo seu Mov.

Além da movimentação, várias ações podem ser selecionadas. Isso inclui ataques básicos, magias e habilidades especiais, mas também a possibilidade de atirar itens e personagens ou entrar em construções especiais. Graças à disposição de objetos e inimigos nas áreas, dominar esses elementos faz muita diferença.

Um bom exemplo disso são os mapas com grandes buracos, já que essas áreas acabam demandando a utilização de Lift/Throw. Além disso, tanto inimigos quanto objetos comuns podem ser considerados “chaves” que abrem extensões do mapa. Vale destacar que cada área possui uma cota de quantos pontos o jogador precisa fazer para ser considerada concluída. Uma vez obtida a pontuação necessária ao destruir objetos e inimigos, é possível terminar a missão.

Outro aspecto fundamental da estratégia é que não são apenas humanos e monstros que podem ser invocados por Zetta, que também é capaz de chamar veículos e prédios inteiros para o campo de batalha. Com os veículos, é possível explorar rapidamente os mapas, atacar com canhões a distância e até mesmo ejetar os pilotos até pontos mais distantes do que sua posição inicial permitiria.

Já as facilities incluem prédios disponíveis na base como hospitais, academias, casas de cachorro, entre outros. Essas construções podem abrigar múltiplos personagens, sendo uma forma de invocar ainda mais aliados. Além disso, cada tipo diferente de estrutura possui efeitos especiais que incluem recuperar HP, aumentar experiência e dinheiro obtidos ou parâmetros como ataque e defesa.

Os inimigos também podem ter prédios próprios no campo de batalha. Um aspecto interessante dessa mecânica é a capacidade de pular dentro dessas construções e duelar com os inimigos ali presentes. A batalha entre as forças dentro do prédio é simplificada e baseada diretamente nas estatísticas dos personagens sem que o jogador precise realizar nenhuma escolha específica.

Assim como em Disgaea e Phantom Brave, um elemento muito importante do jogo é a capacidade de melhorar as suas forças assim como obter acesso a novas dungeons e funcionalidades. No caso de Makai Kingdom, Zetta ganha uma funcionalidade especial de conceder desejos que são escritos em suas páginas.

Basta que um personagem escreva algo para que aquilo possa se tornar verdade. Isso é inclusive a base da reconstrução do Netherworld, com o jogador escolhendo qual dos Overlords disponíveis irá criar novas áreas para o mundo. Todavia, os aliados comuns não são tão poderosos a ponto de pedir um desejo sem consequências, sendo necessário gastar mana.

Ao tentar criar facilities, os personagens receberão muito dano e será bastante provável a sua morte. Caso isso aconteça, é possível usar o sistema de reencarnação para recriá-lo e fortalecer o personagem a cada nova vida. A criação de aliados depende do uso de um item para confinar a alma e conta com várias opções, incluindo as classes desbloqueadas e a escolha de investimento de bônus em atributos (ataque, defesa, agilidade, etc).

Vale destacar que a nova versão de Makai Kingdom é baseada na edição de PSP lançada apenas no Japão. Por conta disso, ela inclui o Petta Mode, cuja história alternativa gira em torno de uma misteriosa filha de Zetta. Apesar de poder ser escolhido primeiro sem problemas, esse modo é mais indicado para quem já passou pela história principal, além de oferecer uma equipe forte pré-determinada e uma maior dificuldade.
Apesar de toda a riqueza e complexidade mecânica de Makai Kingdom, há algumas pequenas falhas que precisam ser mencionadas. Primeiramente, durante o combate, existe um bug no menu de ação. Em vez de movimentar primeiro, a tendência do jogador é optar logo pelo ataque, pois é mais fácil projetar se o inimigo está dentro da área de alcance dessa forma.

Porém, ao utilizar uma ação que não é o movimento, o personagem pode agarrar em pontos do mapa e não executar de fato o que o jogador deseja. Em alguns casos, o jogador pode fazer o mesmo processo movimentando primeiro e tendo o resultado desejado. Há também ocasiões em que a movimentação possível é mal indicada, demonstrando uma área muito maior do que a realmente alcançável.

Essas imprecisões podem custar caro em um RPG estratégico como Makai Kingdom, especialmente porque, uma vez selecionada a ação de um personagem, caso o jogador escolha outro aliado, será impossível reverter para o estado inicial. A implicação disso é que o jogador precisa planejar as ações individualmente em vez de testar combos diferentes antes da execução.

Um roguelike com comédia over-the-top

Já ZHP vai para o lado dos roguelikes, seguindo mais especificamente o formato Mystery Dungeon. Conforme o jogador avança por áreas geradas proceduralmente, irá encontrar inimigos, itens e armadilhas pelo caminho. A movimentação e o uso de quaisquer ações é baseada em turnos, permitindo ao jogador planejar sua exploração das áreas com calma.
A história oferece uma das melhores comédias já feitas pela Nippon Ichi Software, explorando clichês de obras de super-heróis de forma bastante exagerada. ZHP deveria ser a história da batalha épica entre o Unlosing Ranger e o terrível vilão Darkdeath Evilman, porém, quando o Unlosing Ranger está correndo no meio da rua para chegar ao local do confronto, ele é atropelado por um carro e morre.
 
Agora, um rapaz aleatório que estava por perto precisa assumir o papel de herói. Por ser um grande fracote, ele acaba perdendo e assim começa o seu treinamento para se tornar o verdadeiro Unlosing Ranger e salvar o mundo. Para isso, ele terá que explorar várias dungeons em um mundo paralelo chamado Bizarro Earth, uma versão alternativa da Terra na qual os indivíduos são criaturas fantásticas.
 
O treinamento envolve explorar dungeons geradas proceduralmente. Conforme o Unlosing Ranger avança, irá encontrar itens consumíveis, dinheiro e equipamentos. Além das mudanças estéticas, as dungeons de cada capítulo possuem gimmicks diferentes, com armadilhas específicas e até mesmo objetos que precisam ser utilizados para avançar. Um bom exemplo disso é o mundo em que a travessia demanda o uso de balões para alcançar outras ilhas no céu.

Para lidar com os inimigos, o jogador pode realizar ataques básicos, pegar e atirar itens e as próprias criaturas ou ativar as habilidades especiais dos seus equipamentos. O corpo do herói é dividido em cabeça, braço esquerdo, braço direito, perna e expansão. Cada uma dessas partes pode equipar um único item, que por sua vez conta com poderes passivos (como converter a morte de inimigos em energia) ou ativos (como canhões e socos carregados).
 
A ativação das habilidades especiais atreladas aos itens é feita em duas etapas. Primeiramente, é necessário fazer um Cast que irá carregar aquele ataque eapenas depois disso é possível utilizar o golpe via Activate, já em outro turno. O jogador também precisa gastar um pouco de sua EN (energia), um elemento vital da exploração.
 
Inicialmente o jogador possui 100% de energia e essa barra vai caindo a cada passo. Segurar um inimigo ou usar duas armas em paralelo aumentam o consumo da barra. Para restaurá-la, o ideal é sempre ter um pouco de comida em mãos.

Além de todos os elementos que mencionei acima, vale destacar que o herói retorna para o nível 1 toda vez que sai das dungeons. Porém, isso não significa que ele continua fraco, já que cada novo nível obtido aumenta os seus atributos base. Sem a limitação de um game over, perder em ZHP também implica no ganho de força para tentar novamente.
 
Um aspecto fundamental para essa melhoria constante do personagem é a possibilidade de instalar chips em uma espécie de clínica clandestina. Basta pegar algum equipamento obtido nas dungeons e instalá-lo para ganhar bônus em algum atributo específico (como ataque de curta distância ou defesa de longa distância). Há também alguns totens que gerenciam o fluxo de energia e devem ser desbloqueados para aumentar a força de certos benefícios instaláveis.

Assim como no caso de Makai Kingdom, há várias pequenas mecânicas em ZHP que ajudam a tornar o jogo uma experiência que pode ser jogada e repetida à exaustão. Porém, gostaria de destacar em particular os chefes do jogo. Suas áreas são bastante criativas, explorando mecânicas específicas que exigem uma boa análise da situação ao invés de permitir apenas força bruta.
 
Contudo, durante meu tempo com o jogo, acabei enfrentando uma grande quantidade de crashes. Em vários momentos aleatórios, o jogo fechou abruptamente e, devido a seu funcionamento, só é possível salvar após sair de uma dungeon. Espero que esse problema seja corrigido antes do lançamento ou o mais breve possível.

Um relançamento simples

Em se tratando de um relançamento, a coletânea Prinny Presents NIS Classics Vol. 2 continua com uma proposta bem simples. Não se trata de uma remasterização de grande orçamento nem de uma tentativa de realmente modernizar os títulos para os padrões atuais de nenhuma forma além do visual.

Tendo em mente essa proposta modesta, pode-se dizer que NIS Classics Vol. 2 é um pacote competente. Em particular, destaco que as opções incluem a possibilidade de alternar entre um filtro que borra o visual ou mantê-lo mais pixelado. Pessoalmente, prefiro a segunda opção, pois considero que o primeiro tipo de filtro é uma perda de informações e não é tão charmoso.
 
Há uma opção separada para o texto também. Dessa forma, é possível ter a interface com uma aparência modernizada e os personagens pixelados. Porém, nem todos os textos fazem uso dessas melhorias. Em Makai Kingdom, temos algumas cenas com textos datados que remetem a como o jogo era no PS2 e acabam parecendo desfocados.
 
Mesmo se tratando de uma remasterização simples, é uma pena que a edição não conte com extras que deem mais valor para o produto, como uma galeria externa de ilustrações especiais utilizadas para os jogos ou de suas trilhas sonoras. Para quem já possui ambos os jogos em seus respectivos consoles, há pouco incentivo para comprá-los novamente.

Dois clássicos ainda em boa forma

Prinny Presents NIS Classics Vol. 2 é um relançamento de dois títulos de alta relevância do histórico da Nippon Ichi Software. Apesar de fazer apenas o mínimo esperado de uma coletânea, os jogos ainda demonstram bem suas qualidades e continuam sendo boas referências dos seus respectivos gêneros. É uma recomendação certeira para fãs de RPGs em geral, especialmente quem já curtiu quaisquer outras obras da NIS.

Prós

  • ZHP é um Mystery Dungeon com bastante conteúdo e mecânicas de customização;
  • ZHP conta com personagens carismáticos e uma história bem humorada;
  • Chefes de ZHP apresentam alto nível de criatividade durante as batalhas;
  • Makai Kingdom é um RPG rico em possibilidades estratégicas e customização;
  • O level design bem-construído de Makai Kingdom exige o aprendizado das suas mecânicas;
  • Makai Kingdom está presente em sua edição mais completa, que não havia sido lançada no Ocidente;
  • Opção de jogar com visual pixel perfect ou borrado.

Contras

  • Crashes aleatórios em ZHP;
  • Um bug no combate de Makai Kingdom acaba atrapalhando a execução de ações;
  • Textos com aspecto de velho em Makai Kingdom;
  • Nenhum extra que adicione valor à coletânea.
Prinny Presents NIS Classics Vol. 2 — Switch/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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