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Análise: Bugsnax (Switch) até parece um lanche gostoso, mas não consegue matar a fome

A aventura demorou tanto para chegar ao Nintendo Switch que o prato esfriou.


Chamando certa atenção como o título de lançamento mais diferenciado do PlayStation 5 em 2020, Bugsnax permaneceu como exclusivo da Sony nos consoles até então. É inegável que a natureza irreverente e criativa de um jogo sobre capturar insetos que também são lanches gostosos teria tudo a ver com o Nintendo Switch; no entanto, foi preciso aguardar um ano e meio para que essa união ocorresse. 

O problema é que a espera talvez não tenha valido tanto a pena, já que é fácil continuar passando fome depois de um prato de Bugsnax.

Aquele prato não tão farto

Bugsnax é sem sombra de dúvidas um dos jogos mais específicos que eu já joguei. Tudo é extremamente criativo e inusitado, desde a construção do mundo até a premissa da história e a própria existência e o funcionamento das criaturinhas titulares.

Primeiramente, os habitantes dessa realidade, inclusive o próprio personagem principal, não são humanos, mas sim Grumps, um tipo de "troll" colorido e cabeçudo. Sem maneirar na dieta, uma das principais característica de todos esses Grumps é uma fome quase insaciável pelos Bugsnax, os curiosos híbridos de insetos e snacks (lanches) que habitam o local.


O mais curioso é que, ao comer um Bugsnax, uma parte do corpo aleatória do Grump literalmente se transforma na criatura de maneira indefinida, adquirindo a semelhança do inseto sem manter a sua personalidade ou seu livre arbítrio. A mudança aparenta ser apenas estética e os efeitos permanentes não parecem incomodar os Grumps. Ao que tudo indica, o sabor indescritível dos 100 tipos diferentes de bichinhos já compensa qualquer tipo de mudança corporal.

A história acompanha você, um jornalista prestes a perder o emprego, em uma última tentativa para salvar a própria carreira. O seu histórico investigativo de acontecimentos bizarros pelo mundo leva você até Snaktooth Island, local onde Lizbert Megafig, a famosa exploradora, montou uma expedição com o fim de estudar os misteriosos Bugsnax. O problema é que, chegando na ilha, você logo descobre que Lizbert está desaparecida e todos os Grumps da expedição estão espalhados pelo local.

A premissa do game consiste justamente na resolução desses problemas. Para isso, é preciso iniciar a exploração pelas diferentes áreas da ilha (com as tradicionais temáticas de floresta, deserto, gelo, etc), "resgatar" todos os habitantes da vila criada por Lizbert, catalogar Bugsnax pelo caminho, e, como objetivo principal, descobrir o paradeiro da exploradora que mantinha tudo funcionando e no lugar.


Infelizmente, a caça e a captura dos Bugsnax não só não são o objetivo central do jogo, como também falham em ser a parte mais mecanicamente interessante da experiência. Às vezes parece até mais fácil comparar o título a algo como um adventure no estilo point and click do que a um jogo de coleção de monstros. O resultado é um misto entre um game de exploração, uma série de realização de fetch quests e interações leves com outros personagens.

Trazer cada Grump de volta à vila principal sempre implica em correntes de missões que têm como único objetivo conseguir um número determinado de algum Bugsnax específico. A partir desse ponto, o loop da jogabilidade já fica determinado: achar um Grump, fazer as missões coletando Bugsnax e realizar uma entrevista com ele na vila para receber uma pista do paradeiro de Lizbert e concluir o jogo. Tirando algumas poucas variações, além dos objetivos opcionais, como realizar sidequests e tentar capturar todos os Bugsnax, o gameplay é basicamente o mesmo do começo ao fim. 


A repetição coloca ainda mais peso nos elementos que deveriam ser os pilares de sustentação de toda a experiência, mas que falham em cativar de verdade: a captura das criaturas e a história.

Caçar Bugsnax traz ainda mais repetição para o resultado final, além de evidenciar traços cansativos e pouco intuitivos do game. Tirando os monstrinhos mais simples, a maioria deles pede por múltiplas ações e o uso contínuo dos gadgets à sua disposição para serem capturados. O problema é que o processo nunca é agradável e sempre envolve mais trabalho do que lazer.

Capturar um Bugsnax voador, por exemplo, pede que você coloque o aparelho de mola no chão, troque para a cápsula de captura, volte até a mola para mirar no seu alvo e então escolha novamente a cápsula para tentar ativá-la na hora que ela se aproximar da criatura no ar.

A mesma sucessão de passos demasiado burocráticos ocorre com todos os outros gadgets e com os diferentes métodos para pegar as criaturas. Esse aspecto precisava ser positivo para um jogo do tipo funcionar de verdade, mas infelizmente puzzles que deveriam ser divertidos acabam quase sempre se tornando tarefas dispendiosas. 


De forma similar, a trama e os personagens também nunca alcançam totalmente o seu objetivo, mesmo com o alto grau de relevância atribuído a esses elementos. Ambos parecem ter o potencial para alcançar altos patamares no início da aventura, porém logo se mostram pouco interessantes de fato.

A história entretém até certo ponto e consegue manter um certo grau de mistério durante a curta duração da campanha, mas o que realmente precisaria dar um jeito de sustentar a narrativa são os personagens. Nesse sentido, Bugsnax não consegue acertar no tom dos habitantes da ilha e apresenta uma série de diálogos clichês e sem inspiração para personagens que em muitos momentos beiram o genérico.

Isso tudo não quer dizer que nunca seja divertido caçar Bugsnax ou que a trama falhe 100% em prender o jogador. No entanto, a novidade acaba rápido e, mesmo em um jogo tão curto, é fácil se frustrar e perder o interesse na fórmula.


É totalmente possível que você foque em pontos positivos, como o interessante design, as ótimas vozes e as carismáticas personalidades de todos os Bugsnax, que conseguem preencher o mundo de uma forma muito superior aos tediosos Grumps. A questão é que é mais provável que você acabe desistindo de seguir em frente no meio do caminho — principalmente porque a experiência no Nintendo Switch não é das melhores.

Poderia ser pior, mas você com certeza irá encontrar alguns problemas técnicos durante a jogatina. O pop-in, por exemplo, é bastante normal durante suas andanças pelo mundo, algo que definitivamente não ajuda na harmonia estética da baixa resolução das texturas. O maior problema, no entanto, são os constantes e longos tempos de loading entre as áreas, que têm o poder de drenar completamente sua vontade de continuar explorando. Além disso, outros glitches e bugs estranhos também são comuns, como algumas questões visuais bizarras.

Um gosto amargo


Bugsnax
é sem sombra de dúvidas um jogo único e que possui o seu charme. Algumas pessoas certamente irão se sentir tão encantadas pelas próprias criaturinhas, que repetem seus nomes sem parar no melhor estilo Pokémon, que conseguirão ignorar boa parte da repetição, da burocracia desnecessária e dos problemas técnicos. Entretanto, é mais fácil apostar que a maior parte do público irá apreciar a boa premissa apenas por um par de horas antes de partir para outra oferta mais interessante no Switch.

Prós

  • Premissa única e interessante;
  • Design fantástico dos Bugsnax, criaturas cheias de personalidade e vida.

Contras

  • Uma série de problemas técnicos no Switch;
  • Personagens rasos e pouco interessantes;
  • Gameplay repetitivo e truncado.
Bugsnax - Switch/PC/PS5/XSX - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Young Horsesg

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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