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Análise: Pocky & Rocky Reshrined (Switch) é nostálgico e desafiador, mas limitado

Após longa ausência, esta clássica franquia de scrolling shooters retorna com um título que resgata a atmosfera dos fliperamas até no pouco conteúdo.



Quem conviveu com um SNES nos anos 1990 talvez se lembre de Pocky e Rocky, uma dupla composta por uma sacerdotisa xintoísta e um exasperado tanuki que saem por aí combatendo hordas de demônios e outras criaturas do folclore japonês. Eles iniciaram sua trajetória nos arcades japoneses em 1986, mas não vemos nada deles desde um obscuro título para o Game Boy Advance em 2001.

Após 21 anos de ausência, essa curiosa equipe está de volta em Pocky & Rocky Reshrined, que basicamente funciona como uma das sequências mais diretas que eu já vi em uma mesma série de games. Com isso, quero dizer que a fórmula das entradas anteriores é fielmente replicada — o que é muito bom no caso dos acertos, mas que infelizmente também vale para os erros.

Tudo de novo? Será que não? Alguém liga?

Pocky, a sacerdotisa do templo conhecida por ter derrotado os monstros que sequestraram os Sete Deuses da Fortuna, está na santa paz cumprindo com suas funções quando recebe a inesperada visita do seu amigo Rocky. Bastante aflito, ele avisa que as criaturas da floresta enlouqueceram e voltaram a atacar. Os dois parceiros partem então em uma jornada para descobrir o que aconteceu.




Esse irrelevante enredo é o mesmo do primeiro Pocky & Rocky para o SNES, e não é à toa. Por motivos que eu não vou citar para evitar spoilers (não que alguém se importe), os dois primeiros estágios em Reshrined são idênticos aos do seu predecessor. A partir desse ponto, aí sim começa uma campanha verdadeiramente nova.

Rolar, atirar e refletir. E… mais uma vez!

A ação segue o esquema dos outros títulos da série: derrotar os inimigos em uma sequência de estágios no formato scroller shooter. Cada personagem tem dois tipos de ataques: os tiros a distância e o golpe refletor. Alguns poderes de diferentes naturezas podem ser coletados e acumulados para potencializar seus efeitos, e itens adicionais completam o arsenal, como escudos que absorvem dano e munição extra para o ataque especial.

Tudo isso foi reciclado diretamente do Pocky & Rocky de estreia nos consoles Nintendo, e se eu estou soando incomodamente repetitivo, é porque é exatamente essa a sensação que Reshrined passa. Muito pouco conteúdo novo foi acrescentado, e até mesmo entre essas novidades há decisões de game design que poderiam ter sido planejadas de maneira bem diferente.




Temos o Modo História (Story Mode), a campanha principal cujas cutscenes entre os estágios vão explicando o enredo; e o Modo Livre (Free Mode), que meramente repete o mesmo roteiro, mas sem as cutscenes.

Existem algumas diferenças entre esses dois modos. A primeira é que não é possível escolher o personagem no Modo História, pois a narrativa construída espalha o elenco por diferentes estágios de acordo com os acontecimentos do enredo. O Modo Livre até permite selecionar um herói antes de começar a jogatina, mas não é possível trocá-lo até completar todos os oito estágios.

Em relação ao progresso, o Modo História tem a opção de salvar o jogo entre fases, além de checkpoints dentro dos estágios, caso você perca todas as suas vidas. O Modo Livre segue um caminho mais arcade ao exigir que você complete toda a campanha em uma jogatina só, mas mantém os checkpoints.

Pensou que já ia jogar co-op? Achou errado, saudosista!

Aqui entra o mais grave problema das decisões de game design que eu citei, algo que me incomoda mais até que o pouco conteúdo original: o Modo História só pode ser jogado por uma pessoa e completá-lo uma vez é o único jeito de desbloquear o Modo Livre — este, sim, com capacidade para dois jogadores.

É isso mesmo que você leu: além de não ter uma seleção de personagens disponível logo de cara, Pocky & Rocky Reshrined também não tem um multiplayer liberado desde o começo. É preciso passar por toda a campanha no Modo História para ter acesso ao modo cooperativo.




Eu compreendo essa limitação em nome de uma coerência narrativa, já que em nenhum momento durante a trama do jogo há dois personagens selecionáveis em um mesmo local. Imagino que também entre na questão o fato de termos que conhecer personagens que fazem sua estreia na série e aparecem em momentos pontuais, para só então controlá-los em qualquer fase no Modo Livre. Porém, não quer dizer que eu concorde com uma restrição a uma funcionalidade tão básica, que inclusive esteve presente em todos os antecessores (exceto pelo título para GBA).

Imagine o seguinte cenário: um pai ou mãe que jogou e amou Pocky & Rocky no SNES durante a infância agora quer jogar essa versão atualizada com seu filho. Eis que vem a frustração de não poder fazê-lo imediatamente e, por qualquer motivo que seja, o papai/a mamãe não está conseguindo completar o Modo História. O resultado é que o multiplayer vai ficar bloqueado permanentemente até o chefão final ser derrotado.

Talvez seja uma reclamação fútil, mas para uma série que teve a ação em dupla como um de seus pilares de sucesso, esse pode ser um impeditivo capaz de fazer alguém desanimar até de obter o jogo. Eu mesmo fiquei bem frustrado por não ter a opção de curtir o multiplayer de imediato, mas isso não me impediu de entrar de cabeça nessa nova campanha, ainda que ela seja ridiculamente curta assim como as dos seus parentes distantes, podendo ser completada em cerca de uma hora.

Nem tudo está perdido na batalha contra os demônios




Após passar praticamente a análise toda listando meus problemas com Pocky & Rocky Reshrined, pode ter ficado a impressão de que eu odiei a experiência, mas bem longe disso. Todas essas frustrações não apagam os méritos do game, que não só traz de volta a essência da gameplay original, como também moderniza e deixa ainda mais bela a direção de arte, que faz um uso primoroso de elementos da mitologia japonesa em combinação com a pixel art característica da série.

A dificuldade, ainda que possa gerar o supracitado bloqueio do multiplayer aos jogadores que não conseguirem concluir a história principal, está bem de acordo com o que eram os shooters clássicos das décadas de 1980 e 1990, com uma quantidade considerável de inimigos pipocando na tela e muitos projéteis para desviar. Pode levar um tempo, mas com paciência, a curva de aprendizado vai se justificando à medida que vamos progredindo pelas fases.

Os novos personagens (que inclusive representam a maioria do elenco) são maravilhosamente distintos uns dos outros, dando um frescor que tem êxito em nos fazer repetir a campanha. As habilidades extras, incorporadas aos tiros e ao refletor a partir da terceira fase no Modo História e desde o começo no Modo Livre, têm diferentes efeitos para cada herói, instigando o jogador a experimentar cada boneco ao menos uma vez.




Não recomendo jogar no modo portátil devido à quantidade de elementos que surgem na tela, por algumas vezes adquirindo contornos de bullet hell, mas dependendo de quem estiver no comando, pode ser apenas uma questão de costume. No multiplayer, obviamente fica ainda mais complicado enxergar tudo que se passa na telinha do Switch, então podemos dizer que o jogo é melhor aproveitado no modo TV do console.

Jogadores novatos, procedam com cuidado

Pocky & Rocky Reshrined carrega muito da nostalgia dos títulos que o precederam, sobretudo o primeiro para o SNES. Esse saudosismo tem seus méritos, mas quando colocado em contraste com o que o game oferece de novo, acaba não sendo nem um pouco suficiente para quem nunca ouviu falar dessa dupla de combatentes de youkais fora de controle. Os diferentes personagens rendem uma rejogabilidade bacana, mas no fim das contas eu mantenho a recomendação prioritária a quem vivenciou o início da série nos consoles.

A ININ Games está disponibilizando Pocky & Rocky Reshrined em mídia física, pela Games Rocket. Você pode conferir as opções de compra (internacional) aqui.

Prós:

  • Transporta com sucesso para um jogo atual a fórmula original que consagrou a série, com o design de personagem baseado em lendas do folclore japonês e uma pixel art muito bem modernizada;
  • Apesar do bloqueio inicial imposto ao multiplayer, o modo single player ainda é divertido, desafiador e engajante;
  • Os personagens novos trazem uma excelente rejogabilidade.

Contras:

  • Repete a premissa inicial do primeiro título do SNES (que já não era lá muito relevante);
  • A gameplay básica é incomodamente semelhante à dos títulos anteriores;
  • Pouco conteúdo novo;
  • A campanha tem uma duração curtíssima;
  • O multiplayer está bloqueado pela obrigatoriedade de terminar o Modo História, que só pode ser jogado por um jogador;
  • A jogatina no modo portátil não é recomendada devido à grande quantidade de elementos que aparecem na tela.
Pocky & Rocky Reshrined - Switch/PS4 - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela ININ Games


Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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