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Análise: Wolfstride (Switch) é um RPG tático brasileiro cheio de criatividade e estilo

Uma aventura inesquecível cheia de loucuras criativas.


Wolfstride
é um RPG tático em turnos sobre luta de mechas gigantes, mas classificá-lo dessa forma não faz justiça a esse fantástico jogo, que subverte expectativas e é repleto de mecânicas variadas e loucuras criativas que o tornam um produto único, divertido e cheio de estilo.

Desenvolvido por uma equipe brasileira, a Ota Imon, uma das primeiras coisas que chama a atenção em Wolfstride foi a decisão por fazer o jogo em preto e branco. Em parte essa opção artística foi tomada porque Otávio Imon, diretor artístico, e seu irmão Paulo são daltônicos e isso aceleraria o processo de criação do game.

Ao invés de optar pelo comum, que seria oferecer opções de acessibilidade para daltonismo, a equipe decidiu por fazer um jogo em preto e branco para que todos os jogadores tivessem a mesma experiência. Isso também fez com que o produto ficasse com uma identidade visual única, similar a um mangá.

Um cão, um ex-yakuza e um abacaxi entram num bar…

Wolfstride conta a aventura de três parceiros de crime que recebem como herança de seu falecido chefe um velho mecha de combate chamado Cowboy. Como esse é o único bem que lhes restou, o trio decide montar uma equipe no esporte mais popular e perigoso do mundo, os combates de mechas gigantes.


Dominique Shade, o Gatuno, é um ex-yakuza e uma espécie de gerente, o faz-tudo da equipe. É ele quem consegue marcar as lutas, levantar o dinheiro para fazer reparos e comprar peças. Malandro, mas de bom coração, ajuda a todos que encontra. É atencioso e prestativo com todos, menos consigo mesmo.

Knife Leopard, o Baka-xi, é o piloto, um jovem alegre, esforçado, entusiasmado e um pouco cabeça de vento. É apaixonado pelo Cowboy e quer fazer do mecha o número um do campeonato. O que lhe falta em esperteza, lhe sobra em positividade e empenho. Alto, bonito e com corpo sarado, faz muito sucesso com as garotas, mas não leva muito jeito com elas.

Duque, o Mago, é o rabugento cão mecânico do Cowboy. Ele passa o dia reclamando de tudo, mas é muito trabalhador. Não é um especialista em reparo de mechas, mas trabalha bastante duro, e de graça. Deseja proteger sua mãe idosa, e precisa desesperadamente levantar dinheiro para salvá-la.

Cowbow, o mecha da nossa história, é um P-WAN GALLOW 07, um misterioso modelo não catalogado que sequer deveria existir. No início da história a equipe não sabe se trata-se de um modelo experimental, um protótipo ou algo ainda mais secreto e sinistro. Ele não parece ser muito mais que um amontoado de sucata, mas algo diz que ele é muito especial.


Toda a história acontece em um espaço de 63 dias, em que nosso grupo parte do total anonimato rumo ao topo dos ranks. Durante a aventura, encontraremos aliados, rivais e outras pessoas com quem interagimos em Cidade Chuvosa. Assim como nossos protagonistas, os NPCs são repletos de personalidade e possuem seus próprios dramas pessoais.

Com o desenrolar da trama, conhecemos melhor os personagens e criamos um vínculo sentimental com eles. A história possui várias reviravoltas e garanto que o final lhe surpreenderá.

Um rolê numa Cidade Chuvosa

O jogo divide-se em duas etapas: o gerenciamento e o combate. A fase de gerenciamento é aquela em que passamos a maior parte do jogo, levantando recursos para melhorar o Cowboy, fazemos contatos e aprimoramos as peças do mecha e as habilidades do piloto.

Comprar peças, fazer reparos e treinar o piloto exige muito dinheiro. Para conseguir levantar a grana, Shade pode fazer diversos bicos como entrega de pacotes suspeitos, escavar entulho no lixão, dar banho em gatos etc. Esses bicos, na prática, são minigames curtos que podem ser repetidos ilimitadamente.


O problema é que os minigames tornam-se repetitivos com o tempo, e no início do jogo são a única forma de acumular dinheiro para comprar as peças mais caras. Mais para o final do jogo é possível fazer grana participando de lutas ilegais no submundo, mas até lá prepare-se para entregar muitos pacotes e lavar muitos gatos.

Conversas com NPCs rendem diálogos interessantes, onde podemos conhecer um pouco mais dos habitantes da Cidade Chuvosa e seus problemas. Aparentemente todo mundo na cidade é suspeito e tem ligações com o crime e o submundo, mas fazer as sidequests acrescenta atividades fora da rotina, como exorcizar uma garota, desentupir uma privada ou preparar um omelete especial. Ser bem sucedido nessas sidequests rende prêmios úteis e algumas das cenas mais marcantes do enredo.


Apesar disso, em alguns momentos o jogo exagera na carga de diálogos, quebrando um pouco o ritmo da narrativa e esfriando um pouco a empolgação entre combates. Nota-se que os desenvolvedores empenharam-se em fazer um roteiro emocionalmente profundo e misterioso, mas existem alguns pontos que poderiam ser minimizados ou eliminados para dar um fluxo mais constante no andamento da campanha.

A Batalha das Sete Casas

O combate é a atividade principal e mais divertida do jogo, executada em uma espécie de tabuleiro unidimensional com apenas sete casas. Os lutadores revezam-se em turnos, em que o jogador pode movimentar-se, atacar, defender ou realizar reparos. Apesar da aparente simplicidade, o jogo possui uma estratégia complexa e incrivelmente empolgante.

O número de ações é determinado pelos AP (pontos de ação) e a quantidade de casas que podemos nos movimentar é determinada pelos MP (pontos de movimento). Os atributos podem ser alterados trocando-se as peças do mecha.


Os competidores iniciam nos extremos do campo de batalha. Os lutadores possuem uma quantidade limitada de movimentos por turno, e é possível empurrar o inimigo usando um ponto extra de MP. Algumas casas oferecem bônus ou penalidades para quem se posicionar sobre elas. Por fim, o lutador que encurralar o oponente na última casa recebe um bônus massivo de +15, o chamado Deadlock, similar a um lutador de boxe que prende seu oponente em um corner.

Os golpes podem ser alterados fazendo modificações no treinamento e no preparo do piloto. Existem golpes de curta, média e longa distância. Alguns possuem efeitos, como empurrar o oponente, destruir armadura ou acelerar o contador de regeneração. Golpes corpo-a-corpo não conseguem remover blindagem, mas também não consomem munição.


Os robôs podem ser atingidos em quatro partes: cabeça, peitoral, braço direito e braço esquerdo. O nocaute acontece quando destruímos o peitoral do adversário. Pode parecer que mirar sempre no peitoral seja a melhor estratégia, mas normalmente essa é a parte com maior blindagem e pontos de vida. Muitas vezes é mais interessante mirar em partes mais sensíveis e frágeis do oponente que, se destruídas, desabilitam funções importantes: a cabeça é responsável pelo sistema de mira e os braços respondem pelos ataques e defesas.

Antes de cada luta é interessante estudar o oponente e entender seus pontos fracos. Por exemplo, contra uma especialista em ataques à distância, eu priorizei a destruição do canhão que ficava no seu braço esquerdo, tornando-a um alvo fácil, já que sua arma principal estava desabilitada. Travei-a no canto e aproveitei o bônus de Deadlock para finalizar a luta com socos devastadores.



Inesquecível

Cheio de personalidade, com personagens complexos, enredo profundo e um game design extremamente original, Wolfstride é um título inesquecível, que permeia momentos de humor e drama com combates divertidos e surpreendentemente complexos a despeito de sua aparente simplicidade. Apesar de possuir algumas ressalvas em relação ao seu ritmo e grinding repetitivo, trata-se de um dos jogos mais criativos que já tive a oportunidade de experimentar.

Leia também nossa entrevista com os desenvolvedores.

Prós

  • Jogabilidade tática surpreendentemente complexa apesar da aparente simplicidade;
  • Altíssimo fator de diversão;
  • Cheio de estilo;
  • Roteiro e personagens inesquecíveis.

Contras

  • Ritmo lento;
  • Grinding repetitivo nos minigames.
Wolfstride - Switch/PC - Nota: 8.5
Versões utilizadas para análise: Switch e PC
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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