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Análise: Hazel Sky (Switch) é uma aventura sentimental sobre os conflitos de um jovem aspirante a engenheiro

Um indie brasileiro com bons puzzles e uma narrativa curta e bem construída.


Hazel Sky é uma aventura com puzzles single-player do estúdio catarinense Coffee Addict em que acompanhamos Shane Casey, um jovem aspirante a engenheiro que está disposto a seguir os passos de sua família neste ofício.

Para conquistar o título, a tradição exige que o jovem seja enviado a uma ilha distante e supere sozinho os testes de provação para que possa retornar a seu lar na cidade flutuante de Gideon. Somente então ele será considerado um engenheiro.

Trabalho de Conclusão de Curso

Os testes são muito mais perigosos e mortais do que parecem, algo que fica evidente quando Shane encontra na ilha os cadáveres de pessoas que pereceram nas tentativas anteriores. 


A jogabilidade de Hazel Sky consiste em explorar os ambientes em um mundo aberto 3D em terceira pessoa, encontrando os recursos necessários para fazer os reparos descritos nos projetos, que permitirão consertar máquinas que o levarão para a etapa seguinte. 

O game design é muito bom, com puzzles bem-planejados de dificuldade progressiva, que não são óbvios demais, mas também não são difíceis a ponto de causar frustração. Mesmo que você fique travado em alguma situação, é possível chegar à solução explorando os arredores e pensando um pouco sobre o problema, tal qual um engenheiro faria.

Sozinho porém bem acompanhado

Shane precisa fazer seus testes sozinho, mas pelo rádio ele consegue se comunicar com Erin, outra candidata a engenheira que também está fazendo sua provação. A relação dos dois jovens escala gradativamente com suas conversas e este é o pilar emocional que torna Hazel Sky tão especial.



Erin começa a questionar qual é o verdadeiro papel de um engenheiro na sociedade, e se realmente vale a pena desempenhar essa função no mundo em que eles vivem, no qual máquinas de metal e carvão oprimem a sociedade. Em Gideon, os engenheiros são uma casta especial que governa a sociedade, e parece que a população insatisfeita prepara uma revolução.

Música e arte são vetadas para engenheiros, algo que fere o íntimo de Shane. Sozinho nas ilhas, o rapaz pode pegar um violão e dedilhar canções, algo que lhe seria totalmente proibido em sua cidade. O conflito entre ser o que você deseja e a vontade de ser aquilo que esperam de você é um dos temas centrais da trama.



Embora nossa realidade seja diferente do mundo de Hazel Sky, de fato os estudantes de engenharia — e de outras carreiras também, acredito eu — questionam-se de suas escolhas e do seu papel na sociedade, com muitos desistindo pelo caminho. As questões levantadas na aventura de Shane, de certa forma, encontram eco em dúvidas que eu também tive durante a faculdade, e acredito que boa parte do público pode se identificar com esses conflitos, o que aumenta a sensação de familiaridade com os dilemas do game.

Um mundo cheio de coletáveis

Hazel Sky pode ser concluído em pouco mais de duas horas de jogatina. A curta duração da campanha é, contudo, um ponto positivo porque permite ao jogador explorar mais as ilhas e estudar os abundantes coletáveis espalhados pelo mapa. Esses objetos não são mandatórios para se completar a campanha, mas são importantes para entender o contexto da trama de fundo. 

É através das cartas, músicas, objetos e transmissões de rádio que nos aprofundamos na história e podemos entender o contexto da provação de Shane e suas dúvidas em relação a si mesmo.
 


Outro coletável muito interessante são as anotações de músicas com cifras. Ao encontrar um violão, Shane pode dedilhar as notas e desbloquear as canções, que são muito bonitas e cujas letras estão relacionadas aos acontecimentos do jogo. Uma pena, porém, que as letras só estejam disponíveis em inglês, mesmo que você tenha optado pela dublagem em português brasileiro.

O roteiro é muito mais profundo e complexo do que pode parecer à primeira vista e os dilemas que acontecem no decorrer dos testes fazem com que o próprio jogador questione seus sentimentos.
 

Hazel Sky apresenta interface, legendas e dublagem em português. A qualidade da interpretação dos atores de voz oscila um pouco, faltando um pouquinho de emoção em alguns diálogos, mas é muito bom contarmos com um jogo com dublagem integral em nosso idioma, algo que não se vê com frequência nas plataformas Nintendo.

Os ambientes são bonitos e até impressionantes, especialmente considerando que foi um trabalho da pequena equipe da Coffee Addict. Os tempos de carregamento são um tanto longos e dá para notar que alguns elementos, como os rostos dos personagens, precisam de um pouco mais de polimento,  mas de um modo geral o jogo é esteticamente agradável. A trilha sonora exclusiva, que é parte importante da experiência, também é digna de elogios.


Você passará no teste?

Com um level design bastante competente, Hazel Sky oferece um ambiente prazeroso para explorar e puzzles bem-planejados, aliados a uma narrativa bem-conduzida que fará o jogador refletir sobre o universo do jogo. Apesar da falta de polimento pontual em mecânicas e dublagem, a história envolvente, os belos cenários e a interação dos personagens fazem desta aventura curta uma experiência interessante.

Prós

  • Roteiro emocional bem-construído, muito mais profundo do que parece à primeira vista;
  • Bom level design, com puzzles e mapas muito bem pensados e que convidam à exploração;
  • Grande quantidade de coletáveis que enriquecem a história;
  • Interface, legendas e dublagem localizados para português brasileiro.

Contras

  • Algumas falhas de polimento nas mecânicas;
  • Falta emoção na dublagem em certos diálogos;
  • Tempos de carregamento longos.
Hazel Sky — PS4/XBO/Switch/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Neon Doctrine

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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