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Análise: Cursed to Golf (Switch) é um roguelike que vai te amaldiçoar… a jogar golfe

Condenado a jogar golfe por toda a eternidade, é fácil se sentir tão agoniado quanto o protagonista nessa aventura.


Apelidado de golf-like pelos desenvolvedores da Chuhai Labs, Cursed to Golf é um criativo e colorido indie que mistura o nobre esporte do golfe com o polêmico e atualmente bastante popular gênero roguelike.

A ideia é muito boa, e o potencial de um indie de golfe com uma variedade de campos e obstáculos novos colocados à sua frente a cada jogatina é enorme. No entanto, embora seja possível sentir na pele como seria estar “amaldiçoado a jogar golfe”, o game falha em engajar de verdade e manter uma experiência fresca e inovadora até o fim.

“Campos” de golfe escuros e apertados

Em um dos mais longos e específicos tutoriais que eu já vi em um jogo do tipo, o protagonista, um golfista famoso chamado apenas de ‘Ser Minúsculo’ na tradução para o nosso português brasileiro, é atingido por um raio durante uma partida oficial de golfe e parte desta para a melhor — ou, dada as circunstâncias nas quais ele é colocado imediatamente após o evento, pior. 

Uma entidade do golfe na forma de um fantasma escocês decide dar a chance para que o Ser Minúsculo volte à vida. Para isso, entretanto, ele terá que conquistar uma série de desafios de golfe bastante complexos de forma subsequente, acertando 18 intrincados buracos seguidos sem utilizar mais tacadas do que o permitido. Como um bom roguelike sugere, se por acaso você não conseguir alcançar o buraco antes de que o número Par chegue ao fim, é game over e será preciso voltar até o começo.


De uma forma interessante, o Par, que caracteriza o mínimo de tacadas necessárias para conquistar um buraco em uma partida de golfe normal, representa basicamente os seus pontos de vida em Cursed to Golf. Você inicia todos os buracos com 5 pontos e há algumas estátuas estrategicamente colocadas em sua direção que podem acrescentar 2 ou 4 pontos à sua contagem total se você conseguir acertá-las.

Essas estátuas muitas vezes acabam determinando grande parte de sua estratégia em relação ao caminho a se tomar em direção ao buraco, já que 5 tacadas são longe do suficiente para chegar até o final. Assim como em outros jogos de golfe mais convencionais em suas regras, cada tacada é valiosíssima e o ajuste equivocado de um ou dois milímetros pode significar um esforço totalmente em vão. O problema é que, no caso de Cursed to Golf, a penalidade ao errar é ainda mais alta, podendo arriscar e jogar no lixo múltiplas horas de jogo a fio em uma única tentativa de chegar até o fim.


Cada estágio, ou buraco, presente em uma nova campanha pode apresentar um número pré-determinado de variações. As possibilidades aqui não são geradas de maneiras procedural como em muitos outros títulos do gênero, então não espere por uma quantidade infinita de desafios totalmente inéditos.

Por um lado, é bom poder se acostumar com o layout do cenário e criar algumas estratégias de longo prazo em um jogo tão difícil quanto esse. Por outro, o número limitado de campos evidencia ainda mais o level design que tende a ser pouco inspirado e cansado; repetindo texturas, obstáculos e utilizando apenas paredes e plataformas para desenvolver o senso de exploração e progresso pelos “buracos-dungeon”.

Como Cursed to Golf é caracterizado também como um dungeon crawler, os buracos remetem menos aos grandes campos abertos de uma partida de golfe e se assemelham mais ao ambiente confinado, cheio de armadilhas e caminhos confusos de um típico calabouço de RPGs e jogos de aventura. O processo muitas vezes parece mais o de resolver um puzzle do que o de jogar uma partida de golfe.


O objetivo final se encontra não apenas longe do ponto inicial, mas geralmente para cima, baixo ou até apresentando mais de uma possibilidade para lados diferentes. Tentar encontrar o melhor caminho gastando o menor número de tacadas — e ainda garantindo que sua vida total não irá acabar no processo — chega a doer o cérebro em alguns momentos.

Como ferramentas para ajudá-lo a chegar ao fim, além da tradicional troca de taco presente em todo jogo de golfe, algumas cartas especiais colecionáveis com todo tipo de efeito maluco estão disponíveis. Quanto aos diferentes tacos, o jogo fez um bom trabalho em simplificar a quantidade e a utilização da ferramenta, limitando as possibilidades aos três tipos mais básicos: wedge, para “levantar” a bola com pouca força; driver, para lançar a bola o mais distante possível; e o iron, um meio termo dos outros dois.


Após escolher o tipo de taco e a força, a distância e a movimentação são determinadas por um simples apertar de botão enquanto um arco que fica se movimentando sugere a direção da tacada — algo que pode ser frustrante, mas funciona bem no contexto e na proposta do game.

Já em relação às cartas, elas representam o elemento que adiciona mais variação ao gameplay como um todo e também mais poder de decisão e estratégia durante uma partida. Permitindo um grande leque de possibilidades, como o de controlar onde a bola para, como ela voa pelo ar, ou simplesmente poder adicionar mais tacadas ao seu total e até refazer uma tacada por completo, as cartas são sua principal ferramenta para sobreviver e tentar chegar até o fim.

Maldição e sofrimento

Infelizmente, as cartas em Cursed to Golf não são tão numerosas e distintas quanto deveriam ser. De forma similar aos obstáculos ativos, que estão limitados a elemento simples como paredes de TNT, piso arenoso, ventiladores e uma cripta que engole sua bola e retira uma tacada a mais da sua vida, as cartas também falham em acrescentar variedade o bastante para manter a experiência interessante durante as longas e repetitivas campanhas.


Também não existe qualquer tipo de progresso geral que ajude você a ficar mais "forte", mesmo após várias derrotas subsequentes, como é típico nos roguelikes. A única forma de transferir qualquer progresso para uma próxima campanha é acumular um bom número de cartas e salvá-las em um livro para eventualmente você poder utilizar várias de uma vez. Ainda assim, não é raro perder por causa de alguma tacada infeliz (ou uma série delas), mesmo em momentos nos quais existem várias cartas “na manga”. 

Cursed to Golf não deixa de ser um jogo charmoso com uma boa proposta e que agrada visualmente, porém é realmente difícil relaxar durante uma jogatina. A importância das tacadas, o quase inexistente sistema de progressão, a falta de variedade de elementos/obstáculos e a alta complexidade dos cenários resulta em uma experiência cansativa e sofrida demais na maioria das vezes. 

Ajuda ainda menos o fato de a maioria dos processos do game ocorrerem de forma lenta, desde a movimentação da bola e do tempo de espera para poder usar o taco até o próprio carrinho de golfe do protagonista durante a seleção do caminho no mapa geral.


Por fim, as cruéis “batalhas de chefe”, em forma de partidas de golfe contra um rival, conseguem exacerbar ainda mais os problemas acima. Ter que esperar outro jogador, diversas vezes mais efetivo que o seu próprio personagem nas tacadas, jogar em um cenário muito mais longo e complexo do que os anteriores adiciona ainda mais à estafa física e mental que uma campanha do título consegue trazer ao jogador.

De certa forma, é impossível negar que os desenvolvedores cumpriram o objetivo de quase literalmente amaldiçoar o jogador a jogar golfe no inferno por toda a eternidade, porque algumas campanhas passam exatamente esse sentimento. A questão é que nem todo mundo quer jogar videogame para sofrer — alguns até querem, e muitas vezes esse é justamente o público fã de maioria dos roguelikes

Um roguelike para quem gosta de sofrer

Cursed to Golf
une um visual adorável a uma interessante premissa. A ideia de um jogo de golfe em calabouços variados, que é tenso e técnico e apresenta um árduo desafio a ser conquistado, funciona bem.

Os elementos de roguelike, principalmente a permadeath, adicionam uma boa camada de inovação ao clássico gênero dos jogos de golfe. No entanto, problemas como a falta de variedade nos cenários, o ritmo lento, a dificuldade exagerada e a natureza altamente repetitiva do jogo provavelmente irão afastar grande parte dos jogadores curiosos com o título.

Prós

  • Visual adorável e colorido;
  • Premissa inovadora e interessante, unindo roguelikes e jogos de golfe;
  • Boa implementação das mecânicas básicas do golfe.

Contras

  • Level design pouco inspirado;
  • Ritmo lento e repetitivo;
  • Falta de um sistema de progressão frequente, típico do gênero;
  • Dificuldade exacerbada.
Cursed to Golf - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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