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Análise: Piofiore: Fated Memories (Switch): encontrando o amor em meio às disputas de máfias rivais

Em uma perigosa cidade italiana, a jovem Liliana Adornato verá sua vida virar de cabeça para baixo por conta da disputa entre máfias.

Piofiore: Fated Memories
é uma das visual novels otome lançadas pela Aksys Games no Ocidente em 2021. Com o lançamento próximo de sua sequência, Piofiore: Episodio 1926, no Switch, decidi dar uma conferida no que o jogo original tinha a oferecer com a sua narrativa de romance que brota em meio aos conflitos entre mafiosos.

Uma cidade à mercê da máfia

A história de Piofiore se passa na cidade italiana de Burlone, um lugar dominado por três famílias mafiosas. Os Falzone são os mais tradicionais líderes e ocupam a maior parte do território da cidade, estando intimamente ligados à Igreja e outras instituições públicas. Porém, a sua estrutura rígida ligada a vínculos de sangue levou à criação da família Visconti, que é mais flexível e se importa mais com as habilidades de seus membros. Já os Lao Shu vieram da Ásia e a sua região é a mais perigosa da cidade.

No meio disso tudo, a protagonista, Liliana Adornato, é apenas uma garota criada no orfanato da igreja local e que jamais esperaria se envolver com esses criminosos. Porém, um dia, a jovem é atacada e forçada a conviver com uma dessas famílias, descobrindo uma parte da cidade desconhecida para ela. O período antes da obra se encaminhar para uma rota de personagem é bem curto, o que acaba dando pouco tempo de apresentação e parecendo um pouco abrupto. Esse prólogo opta por revelar uma marca misteriosa no seio da personagem, elemento de roteiro que é ignorado pela maior parte da trama.
Uma vez determinada a rota, temos um trabalho bem interessante de explorar as nuances das atitudes dos personagens. Por um lado, as escolhas tendem a humanizar os potenciais pares românticos, dando ao jogador uma visão enviesada de motivação para as suas ações. Isso não quer dizer que eles sejam “bons”: a sua ética continua bastante questionável, mas é mais fácil notar as contradições e intrigas nas rotas em que eles não são os interesses de Liliana.
 
Essas nuances são especialmente exploradas graças a um sistema de episódios paralelos opcionais. Neles, é possível ver a perspectiva de vários personagens, incluindo o atual interesse romântico, os outros rapazes e até personagens secundários, como os policiais que protegem Burlone. Graças a isso, temos uma história rica em detalhes e bastante envolvente.

Os ladrões do coração de Lili

Inicialmente, Liliana conta com apenas duas opções de rota: Dante e Nicola. Ambos os personagens fazem parte da família Falzone, que já tinha relações com a Igreja e parece, a princípio, estar muito preocupada em protegê-la. Dante é o líder da família, um rapaz sério que acaba escondendo seu lado meigo devido à sua posição na hierarquia. Já Nicola é um galanteador bobo e trata Dante como um irmão mais novo, mas acaba escondendo suas intenções, mentindo e agindo de forma cruel em prol da família.

Após concluir uma rota e obter um dos finais bons, é possível começar as histórias de três outros personagens: Gilbert, Yang e Orlok. Gilbert é o líder dos Visconti e costuma agir de forma bastante leve, se preocupando com Lili e sendo bem amigável com todo mundo. No lado oposto, Yang é o líder dos Lao Shu, cuja palavra é lei por causar medo em seus subordinados, já que é uma pessoa de atitudes imprevisíveis sempre em busca de algo que acabe com o seu tédio. Por outro lado, Orlok é um rapaz fofo e muito dedicado a Liliana, não se prendendo a nenhuma das famílias.
Uma vez tendo obtido todos os desfechos positivos com todos os personagens acima, uma nova trama é liberada. Ela busca dar uma explicação geral dos eventos mostrando a relação de Liliana com um outro personagem que aparece ocasionalmente nas outras rotas. Não entrarei em detalhes sobre ela para evitar spoilers, mas vale destacar que há elementos da história que só são explicados nessa parte, que funciona como uma espécie de rota verdadeira.

Apesar disso, há uma interessante escolha do jogo em contar com epílogos não apenas para as conclusões boas, mas também para as ruins. Aqui estão incluídos apenas aqueles desfechos descritos como BAD END na listagem de capítulos e não os que podem acontecer abruptamente devido a escolhas ruins do jogador. Com isso, é possível sofrer um pouco mais com as tragédias em potencial da obra.

Como um filme de máfia

Um detalhe que chama muito a atenção em Piofiore são os seus elementos audiovisuais que buscam reforçar uma sensação de filme de época. A obra conta com uma atmosfera estilosa que tenta retratar a Itália nos anos 1920 na arquitetura dos ambientes e há até algumas transições que usam uma animação que simula um rolo de filme, como se estivéssemos trocando o vídeo ao mudar para um capítulo opcional.

Assim como já é de praxe dos jogos da Otomate, Piofiore possui vários elementos de qualidade de vida, como a possibilidade de pular falas (skip), reproduzi-las automaticamente (apesar da transição um pouco lenta) e rever as falas em um registro (log). Há também um menu com os capítulos da história, sendo possível voltar a qualquer momento já visto e alterar os parâmetros do relacionamento de Liliana com os personagens para obter o final desejado (bom, normal ou ruim).
Graças a isso, é bem fácil e rápido avançar pela história do jeito que o jogador quiser, o que é muito bem-vindo, já que o valor das escolhas não é bem indicado. Não há ícones para mostrar se aquela escolha foi favorável ao romance ou melhor desfecho e o menu de status do romance usa um símbolo bastante abstrato e pouco intuitivo, baseado em cores sutis. A ideia aqui é que há uma página do menu com um lírio ao fundo e essa imagem vai sendo colorida aos poucos, o que acaba não sendo o suficiente para deixar claro ao jogador a sua progressão no romance.

Além de tudo o que já foi comentado aqui, vale a pena mencionar que a obra conta com vários pequenos erros de tradução, digitação e gramática. Não são defeitos que chegam a incomodar profundamente, como ocorre em Café Enchanté, mas ainda assim continua aquém da qualidade desejada. Fica a expectativa que o mesmo não seja o caso do Episodio 1926.

A flor que desabrocha em meio ao conflito sangrento

Piofiore: Fated Memories
é um otome game de alta qualidade que mostra os conflitos entre máfias rivais, tendo especial cuidado em mostrar como esses personagens são moralmente questionáveis. Apesar de alguns problemas textuais, especialmente em relação à tradução, ele consegue trabalhar bem com sua temática, trazendo uma atmosfera envolvente e um título imperdível para fãs do gênero.

Prós

  • História envolvente de disputa entre mafiosos;
  • Nuances das atitudes moralmente questionáveis dos personagens são bem abordadas;
  • Eventos opcionais que exploram perspectivas de outros personagens para desenvolver mais a história;
  • Possibilidade de alcançar rapidamente um desfecho desejado graças ao menu de capítulos;
  • Boa variedade de histórias adicionais, incluindo epílogos de finais ruins;
  • Atmosfera de “filme de máfia” explorada em vários elementos audiovisuais.

Contras

  • A entrada nas rotas acaba sendo um pouco abrupta devido à rota comum mais curta;
  • Indica muito mal se as escolhas foram adequadas para o final verdadeiro;
  • Erros de tradução, digitação e gramática.
Piofiore: Fated Memories — Switch — Nota: 8.0
 Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia adquirida pelo redator

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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