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Análise: Treehouse Riddle (Switch) traz puzzles criativos, mas abusa da matemática

A enorme casa da árvore te faz pensar e calcular muito antes de te deixar ir embora.
















Em um momento que os jogos eletrônicos tendem a adotar aspectos cada vez mais realistas, me alegra muito ver lançamentos de jogos em 2D, principalmente quando é uma empresa indie que está por trás da produção. Sinto que o Nintendo Switch vem sendo uma grande plataforma para esses produtores independentes e Treehouse Riddle, um adventure focado em resolver puzzles desenvolvido por Marudice e publicado pela Fruitbat Factory, é mais um divertido título de menor orçamento que chegou à biblioteca do console.

Sophie Neveu e Jacques Saunière?

Quem já viu ou leu O Código da Vinci deve se lembrar da personagem Sophie Neveu e do seu avô, Jacques Saunière, que criou a garota quando ela perdeu os pais em um acidente de carro. Durante esse período, o senhor treinou a neta para resolver diversos tipos de quebra-cabeças e isso contribuiu para que ela se tornasse muito inteligente e peça fundamental durante a ficção.

Treehouse Riddle possui uma situação semelhante. Controlamos uma mulher sem nome que passou a infância resolvendo desafios propostos pelo avô em uma enorme casa em cima de uma árvore. O enredo gira em torno de descobrir os motivos que fizeram a garota, agora já adulta, retornar ao local. Conforme a aventura avança, mais detalhes sobre a protagonista e a sua relação com o seu antepassado são revelados e, embora a história não seja complexa e nem grandiosa, se mostra de forma enigmática gradualmente e deixa um certo mistério no ar.

Prepare um bloquinho e uma caneta

A campanha inteira se passa na casa da árvore, que possui basicamente quatro áreas internas — quarto, sala de estar, observatório e elevador — e um terraço. Cada um dos aposentos é repleto de puzzles dos mais variados tipos, mas que possuem um elemento em comum: eles são realizados em algum objeto feito de madeira, como um quadro, uma estante ou um relógio.

Ao concluir um empecilho, o jogador ganha uma peça que será usada no enigma final do cômodo. Ao vencê-lo, abrimos passagem para uma nova área e o ciclo se repete.

Quanto aos quebra-cabeças, particularmente achei a maioria bem engenhosa. Existe uma boa variedade de desafios — o jogo conta com aproximadamente 60 —, apesar de alguns serem repetidos, mas com uma dificuldade maior.

Alguns exemplos são mover peças de xadrez em um tabuleiro; colocar livros enumerados que só podem ser movidos em par ou trio em ordem correta na prateleira; juntar formas geométricas coloridas dentro de um espaço sem que duas da mesma cor encostem uma na outra e resolver cálculos matemáticos. 

Por vezes fui obrigado a usar elementos externos ao console para resolver as adversidades, como um caderno, caneta ou calculadora; no entanto, isso não me incomodou. Talvez um defeito da jogabilidade seja que muitos dos puzzles envolvem matemática, e jogadores que não tenham os números como seu ponto forte dificilmente gostarão de Treehouse Riddle.

Se está difícil, peça ajuda!

Treehouse Riddle deixa o jogador inicialmente sem instruções sobre como resolver os obstáculos, mas, no entanto, ele possui um sistema de dicas que pode ser usado ou não. No canto superior esquerdo, existe um pequeno quadrado com desenho de uma lâmpada e, ao clicar nele, é aberta uma janela com três a cinco dicas que podem ser desbloqueadas, uma por vez, apertando o botão Y. As primeiras costumam ser explicações sobre as regras do desafio e a última resolve uma parte dele, deixando que terminemos o que restou.

Se mesmo com as dicas continuar difícil, ainda existe outra funcionalidade que permite que a questão seja pulada clicando em um painel chamado SKIP. Consegui terminar o jogo em aproximadamente três horas; no entanto, houve uma determinada equação matemática que não fui capaz de resolver e usei a função de pular. Infelizmente, essa experiência me decepcionou, pois acreditava que seria revelada a solução para o problema, mas a mecânica de pular os puzzles simplesmente fecha a tela e marca o desafio como concluído.

Divertido, mas pouco marcante 

A movimentação da personagem acontece de forma comum por meio do analógico; já durante a resolução dos puzzles, o analógico move uma espécie de cursor, como se fosse um mouse em um PC, e as partes ou peças podem ser selecionadas por meio dos botões do controle ou da tela de toque. No menu, é possível alterar o volume e o idioma, voltar à tela de início e ver os créditos

Se comparado a outros jogos 2D que estão sendo lançados nos últimos anos, acredito que Treehouse Riddle deixa um pouco a desejar com relação aos gráficos. Ele não é feio, mas creio que poderia ser melhor, principalmente com o design da personagem, que é menos detalhada que qualquer NPC genérico de RPGs da era 16-bits.

Lamentavelmente, o mesmo acontece com a trilha sonora. Existe um número muito pequeno de faixas e uma delas toca durante o jogo inteiro praticamente. As músicas até são bonitas, mas estão longe de serem marcantes e que ficam na cabeça, como as de To The Moon.

Após completar a campanha principal, é desbloqueado um extra no qual podemos vivenciar a infância da garota e conhecer um pouco mais de como eram os encontros dela com o avô. A jogabilidade é exatamente igual ao modo base, no entanto, os puzzles são mais difíceis e a trama é mais puxada para o humor, principalmente quando o velho aparece. Apesar de essa entrada ser importante para o enredo, o meu ânimo para jogar já não foi o mesmo, tendo em vista que estava basicamente repetindo tudo o que eu tinha acabado de concluir.

Outro ponto negativo que merece destaque é a ausência de tradução em português e só é possível escolher os idiomas entre inglês, japonês, coreano e chinês. Alguns momentos podem ser muito complicados para quem tem dificuldades com a língua inglesa, pois diversas dicas são dadas em extensos textos .

Se não odeia matemática, vale a pena jogar!

Treehouse Riddle é um título bem competente no que se propõe e possui muitos quebra-cabeças inteligentes e satisfatórios de se resolver. Os gráficos e músicas pouco inspirados não permitem que o jogo alcance patamares mais altos, mas não são suficientes para estragar ou diminuir o seu valor. Finalmente, o fato de muitos dos enigmas envolverem matemática pode acabar afastando alguns jogadores; no entanto, para os que não odeiam cálculos, o título da Fruitbat Factory oferece boas horas de raciocínio e diversão.

Prós

  • Boa variedade de puzzles inteligentes e desafiadores;
  • História simples, mas interessante;
  • Sistema de dicas funcional e opcional;
  • Totalmente compatível com a tela sensível ao toque do Switch.

Contras

  • Os gráficos não são muito bonitos;
  • Poucas músicas compõem a trilha, sendo que nenhuma é marcante;
  • O modo extra pode ser cansativo;
  • Ausência de tradução para português.
Treehouse Riddle — PC/Switch — Nota 7.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fruitbat Factory


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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