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Análise: Foretales (Switch) apresenta uma empolgante narrativa por meio de cartas de baralho

Em um contexto apocalíptico, Volepain deve completar missões e quebra-cabeças para mudar o destino do universo.

Com uma trama complexa que dispõe de múltiplos caminhos de progressão, Foretales é um jogo de cartas bastante singular. No geral, isso ocorre por conta de sua mescla de gêneros, que combina magistralmente estruturas card deck com RPG e estratégia. Para completar o pacote, sua excelente dublagem e apresentação visual fazem o título se tornar ainda mais atraente, principalmente para os fãs de aventuras fantasiosas. 

Alerta profético de tragédias na República de Harde

Apresentando-se como um story-driven card game, Foretales tem um enredo centrado na figura de Volepain, um corvo humanoide cuja sobrevivência depende de pequenos roubos e da recompensa de outras missões impróprias. Ao seu lado, há a fiel companhia do tigre Leo, que lhe ajuda em tarefas como a apresentada no início do enredo, na qual a dupla de mercenários deve furtar uma lira dourada de uma nobre família da República de Harde.


Apesar do roubo ser bem-sucedido (pelo menos na perspectiva dos ladrões), a história toma um rumo inesperado conforme o instrumento musical está encantado e concede, ao protagonista Volepain, a capacidade de prever o futuro. De maneira infeliz, as profecias visualizadas por ele indicam diferentes caminhos possíveis, mas todos com um destino em comum: a cruel destruição do universo, que está à beira do apocalipse diante de conflitos, cataclismas e outras desgraças. 

Baseados nessas visões, Volepain e Leo começam a agir na esperança de impedir o pior, realizando missões que envolvem libertar prisioneiros, combater milícias, proteger reinóis e consertar erros gerais. Nesse contexto, um dos principais atrativos do título está na apresentação de caminhos não lineares que afetam a narrativa de acordo com as nossas escolhas. Com efeito, será assim que ele irá, literalmente, colocar as suas cartas na mesa, consagrando-se enquanto uma aventura repleta de potencial. 

Escolha o seu destino através de poderosos baralhos

Diante desse contexto de ramificações narrativas, Foretales fragmenta a sua campanha em diferentes estágios que podem ser acessados por meio de um hub com diferentes cartões. Nestas fases, temos tabuleiros com diversas cartas e baralhos que devem ser explorados até o objetivo estabelecido. As ações de gameplay, do mesmo modo, são executadas com o uso de cartas recebidas a cada da turno, as quais representam ocorrências e movimentos dos personagens.


Por exemplo, se em um dos estágios houver um card que indica uma porta de prisão fechada, temos de ativar a carta de habilidade de Volepain para destrancá-la. Então, essa ação poderá liberar um novo caminho a ser desbravado, o qual exigirá novos turnos e cartas até chegarmos ao destino desejado. Do mesmo modo, se um inimigo aparecer no tabuleiro, temos a opção de atacá-lo ou de suborná-lo, por meio de movimentos também indicados por cards de nosso baralho.

Sem qualquer exceção, todos os momentos da inventiva jogabilidade de Foretales envolvem o uso de cartas, que também se dividem em decks individuais de cada personagem. Isso concede traços de RPG ao jogo, ainda mais se considerarmos que a progressão é afetada de acordo com a essência de nossas ações. Por exemplo, se optamos por evitar as batalhas nos estágios, tomamos um rumo mais bonzinho; enquanto isso, se assassinamos muitos inimigos ou realizamos furtos em personagens vulneráveis, nossa trilha se torna mais sombria e punitiva, influenciando nos possíveis finais da aventura.


Diante de tudo isso, nota-se que a proposta de gameplay aqui apresentada é bastante criativa e muito bem executada, garantindo pontos positivos principalmente pela engenhosidade dos desafios de cartas. Afinal, eles escondem estratégias diversificadas com diferentes resoluções para cada quebra-cabeça, o que permite a apresentação de um enredo divertido que consegue se aprofundar de forma natural.

O luxo das cartas, até mesmo em caminhos confusos

De maneira inegável, outra qualidade de Foretales está em sua apresentação, a começar por seu rico estilo visual. Com simpáticos traços que parecem desenhados a mão, os personagens, cartas e cenários da aventura carregam uma identidade visual bela e única, mesmo exibindo um contexto épico e fantasioso que não é, exatamente, muito original. 

Apesar de simples, pois se limitam aos movimentos das cartas, as animações são igualmente carismáticas por conta de outro ponto positivo: a narração da aventura, feita por Travis Willingham, dublador que já participou de franquias como Sonic, Super Smash Bros., Spider-Man, Star Wars e Fortnite. Com efeito, todas as nossas ações são contadas de maneira entusiasmada, quase como se estivéssemos dentro de um conto de fadas, o que dá uma maior profundidade para os poucos elementos de representação visual.

No Switch, outro aditivo bacana é o uso da tela de toque no modo portátil, um elemento que substitui o mouse de sua versão para o PC. Isso faz com que Foretales seja um título que se encaixa muito bem ao formato handheld do console da Nintendo, no qual pode ser jogado como um legítimo jogo de cartas.


Em contrapartida, a aventura de Volepain carrega alguns pequenos problemas que podem atrapalhar a gameplay, sendo o principal deles a recorrente falta de indicações para a nossa progressão. Por exemplo, muitos puzzles trazem poucas dicas sobre as suas respectivas resoluções, o que frequentemente nos coloca em posições desconfortáveis, com cartas de cenários que se repetem até encontrarmos nossa trilha. Isso adiciona um ritmo atravancado que pode se tornar ainda mais cansativo diante de missões que se alongam mais do que o adequado.

Igualmente, sinto-me no dever de informar que, apesar do jogo trazer toda a glória do gênero de aventura, ele exige bastante calma e paciência, assim como toda e qualquer partida de baralho. Ou seja, para executar as estratégias apropriadas e não ficar andando em círculos, torna-se crucial prestar atenção aos diálogos e às informações das cartas, que estão em inglês, o que pode ser outro complicador. Entretanto, se esses fatores não parecerem um problema, não há motivos que impeçam a recomendação deste título, que combina cartas, estratégia, RPG e aventura com muita personalidade.

Uma narrativa épica construída por baralhos

Não me considero, exatamente, um grande fã de jogos de cartas, mas Foretales trouxe perspectivas tão convincentes que me fizeram criar interesse pelo gênero. Através de conceitos de gameplay engenhosos, que se aproveitam de uma narrativa complexa com liberdade de progressão, o título se mostra deveras envolvente, consagrando a profética jornada do mercenário Volepain enquanto um excelente card game da biblioteca do Switch. 

Prós

  • O jogo oferece uma experiência de trama atraente, com caminhos variados;
  • É um card game com traços RPG que traz diversidade e profundidade estratégica;
  • A estética se destaca, principalmente com uma ótima atuação de voz;
  • O uso da tela de toque no modo portátil facilita a jogatina;
  • Tão carismático quanto um conto de fadas.

Contras

  • Os puzzles podem se tornar cansativos diante da falta de instruções;
  • É fácil de se perder nas fases, a ponto ficarmos andando em círculos improdutivos;
  • Como um bom jogo de baralho, exige atenção e paciência, o que pode afastar certos estilos de jogadores.
Foretales — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Plug In Digital

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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