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Análise: Paradigm Paradox (Switch) instiga curiosidade, porém falha ao executar as ideias

A trama desperdiça todo o potencial que tinha para abordar conceitos interessantes.


É verdade que não sou tão entusiasta de visual novels, mas vira e mexe me interesso por algumas, pelos mais variados motivos. Paradigm Paradox chamou a minha atenção por trazer o conceito de garotas mágicas, explorado pela mídia japonesa desde mil novecentos e Guaraná com rolha, em um futuro distópico no qual os habitantes vivem em colônias artificiais. Porém, quando eu pensei que fosse me divertir com mais um título da Otomate — afinal, Collar x Malice e Variable Barricade foram excelentes pedidas —, a dura realidade foi uma baita decepção.

Floresça! Surge a quinta integrante

Em uma realidade na qual a Terra não é mais habitável, a solução que a humanidade encontrou para preservar a espécie foi criar colônias artificiais que simulam a vida no Planeta Azul. Nesse contexto, somos apresentados à vida de Yuuki Takanashi, estudante colegial que é a heroína da história, que mora em Theta, uma dessas colônias.

Yuuki tem uma melhor amiga, Lize Shinonome, e leva uma vida normal de adolescente. Acordar de manhã, ir à escola, passear à tarde e voltar ao dormitório antes de anoitecer é uma rotina com a qual a protagonista já está acostumada — inclusive com os boatos de que monstros chamados Vectors circulam nas ruas de Theta à noite.


Certo dia, quando Yuuki precisa voltar ao shopping, onde estava horas mais cedo com Lize, para procurar pelo pingente que seus pais lhe deram, a menina se vê diante desses monstros e descobre que os Vectors não são apenas rumores que circulam para evitar que as pessoas fiquem até tarde nas ruas. Quando a heroína está prestes a virar comida de monstro, ela é salva por um misterioso grupo de garotas com poderes mágicos, mas acaba desmaiando.

Ao acordar, a moça se vê em um laboratório secreto. Conversa vai, conversa vem, ela descobre que as garotas mágicas são as super-heroínas que protegem Theta dos Vectors, mas a surpresa da adolescente se volta para seu professor, o Comandante desse grupo chamado Blooms.

Ainda mais para o espanto de Yuuki, ela também é uma garota mágica e agora precisa aprender a guardar segredo sobre os Vectors, as Blooms e sua vida dupla como estudante e heroína da justiça! E não para por aí: ela não pode se apaixonar!?

Tanto potencial, mas tão desperdiçado…

Um dos pontos altos de Paradigm Paradox, na minha opinião, é a possibilidade de Yuuki se relacionar com ambos os tipos de interesses amorosos de ambos os lados da moeda, tanto heróis quanto vilões. No entanto, esse também é seu ponto mais baixo, porque a Otomate se preocupou em ampliar o leque de opções de romance e, desse modo, a história ficou perdida no planejamento.

É muito interessante ter, em uma visual novel, a possibilidade de viver um romance com os vilões como forma de abrir espaço para discussões mais profundas, como discutir o que é certo ou errado (na percepção do jogador), porém elas se tornam tão superficiais quanto o desenvolvimento dos romances em si.


Tudo é corrido e há diversos furos no roteiro, com algumas questões largadas no melhor estilo “é assim e pronto”. Eu adoraria falar que achei interessante o envolvimento de Yuuki com Yukinami, por exemplo, mas até mesmo o desenvolvimento das personalidades dos interesses amorosos da menina é raso. No fim, ficamos com os típicos estereótipos explorados incansavelmente nas mídias e, infelizmente, a dublagem e a trilha sonora também sofrem influência negativa da história insossa e mal conduzida. 

Embora tenha seus diversos pontos negativos, Paradigm Paradox traz alguns acertos bem-vindos, especialmente em termos de qualidade de vida. A primeira é o total suporte à tela de toque do Switch; inclusive, até o acesso a comandos e menus pode ser feito com gestos na touchscreen. Para mim, que estava com a mão esquerda imobilizada devido à tendinite, poder jogar sem depender de segurar um controle ou o Switch foi extremamente positivo. O único botão que eu precisava pressionar de tempos em tempos era X para abrir o menu da VN.

Outro acerto desta visual novel é a presença de um fluxograma (flowchart) no qual podemos voltar a pontos-chave da trama e refazer escolhas. Essa ferramenta também mostra em que parte das rotas estamos, quais os pontos em que teremos que tomar decisões, se é possível obter um final ruim, entre outros benefícios, nos ajudando a economizar tempo ao não precisar rejogar a mesma rota de novo e de novo só para acessarmos a história de outro interesse amoroso — mas isso é tudo o que o jogo oferece de bom.

Faltou o que importa: a história

Paradigm Paradox é uma das visual novels mais curtas da Otomate que já joguei até o momento. Sinceramente falando, o tempo que demorei para fechar algumas rotas foi as mesmas oito horas que usei para ler visual novels independentes (também no Switch) — e que tinham tramas melhor desenvolvidas, diga-se de passagem. Tristemente, a impressão que fica é de que priorizaram quantidade em vez de qualidade, mas, se servir de consolo, a arte é bonita.

Prós

  • Totalmente compatível com a tela de toque do Switch;
  • Presença de fluxograma que agiliza a jogatina;
  • Apresentação visual expressiva e colorida;
  • Premissa interessante, com possibilidade de a heroína se relacionar com vilões.

Contras

  • Os muitos interesses amorosos ofuscam a história;
  • Tramas insossas e pouco desenvolvidas;
  • Vários furos no roteiro e situações pouco ou mal explicadas;
  • Personagens marcados por estereótipos típicos da mídia japonesa.
Paradigm Paradox — PS Vita/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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