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Análise: Persona 5 Royal (Switch) é a pedida ideal para fãs de JRPG

Os Phantom Thieves roubam a cena agora em território nintendista.

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que eu nunca tive contato com Shin Megami Tensei ou Persona, apesar de já conhecer algumas mecânicas graças a Tokyo Mirage Sessions #FE (Wii U/Switch) e conversas com amigos. Sendo assim, minhas impressões de Persona 5 Royal provavelmente são as mesmas de alguém que está conhecendo a franquia pela primeira vez; tendo isso em mente, se você só quiser saber como o jogo funciona no Switch, peço que role a página para o final desta análise.

Tóquio, 20XX

O Japão sofre com uma série de incidentes conhecidos como "desligamentos mentais", que têm acarretado diversas mortes e se tornaram causa de extrema preocupação para o governo. Nesse cenário, assumimos o papel de um garoto no auge dos seus 16 anos, que foi condenado injustamente por agredir uma mulher que ele estava tentando proteger.

Expulso da escola e de casa, Joker (o nome está aberto à escolha do jogador) é enviado a Yongen-Jaya, em Tóquio, para morar sob os cuidados de Sojiro Sakura, dono do Café Leblanc e um conhecido dos pais do protagonista. Agora em condicional, o rapaz precisa se adaptar à rotina da Shujin Academy, sua nova escola, e ficar longe de problemas para não ter sua liberdade revogada.

Contudo, Joker parece ser um ímã para situações nem um pouco exemplares: ele logo faz amizade com Ryuji Sakamoto, considerado o aluno mais problemático da escola, e se envolve em um grave escândalo de assédio e abuso de poder relacionado ao professor de Educação Física, Suguru Kamoshida, que ameaça expulsá-los de Shujin.


Não bastasse isso, o protagonista tem estranhos sonhos nos quais ele se encontra em uma prisão denominada Velvet Room e o regente do local, Igor, informa que Joker possui um poder extraordinário que vai ajudá-lo em sua reabilitação.

Para não deixar esta análise mais longa do que ela já será (e evitar potenciais spoilers), os diversos elementos da trama de P5R serão abordados em uma matéria futura. O mais importante neste ponto é entender que Joker pode acessar o Metaverse ao inserir no misterioso aplicativo MetaNavi as palavras-chave que compõem o Palácio das vítimas dos Phantom Thieves: nome, local e como essas pessoas veem tal lugar; no supracitado caso de Kamoshida, temos "Suguru Kamoshida", "Shujin Academy" e "castelo", que é como o professor enxerga a escola.

Não conheci o Metaverse por querer!

Via de regra, Persona 5 Royal é um dungeon crawler, então obviamente há locais que devem ser explorados, os Palácios. A missão dos Phantom Thieves é roubar o Tesouro da vítima, ocasionando uma mudança radical em sua personalidade e fazendo com que ela assuma seus crimes.

Durante a exploração, devemos resolver quebra-cabeças enquanto procuramos pelo Tesouro. Algumas salas secretas nos Palácios guardam as Will Seeds, itens especiais que, quando combinados, nos garantem um poderoso acessório; contudo, só podemos salvar o jogo dentro de uma dungeon ao adentrarmos uma Safe Room, da qual também podemos nos teletransportar para outras dessas salas ou até mesmo para a entrada do Palácio.

Conforme avançamos na história, temos acesso a outros recursos de exploração, como a habilidade Third Eye (que será explicada mais adiante) e o gancho, que nos permite alcançar locais elevados. Assim como os novos recursos, o tamanho e os desafios dos Palácios também aumentam, às vezes nos obrigando a retornar ao mundo real momentaneamente para obter mais itens e ferramentas para a exploração.


Além dos Palácios, há uma dungeon chamada Mementos, que se expande conforme a progressão da trama. Este lugar, que se assemelha a uma estação de metrô, serve como palco tanto para sessões de grinding quanto para a realização de diversas missões paralelas do jogo.

Um ótimo incentivo para explorar a Mementos é coletar flores e adesivos nos diversos andares da dungeon. Há um NPC chamado Jose, que aparece de tempos em tempos no subsolo e troca as flores por itens úteis para o trabalho como Phantom Thief, enquanto as estampas podem ser usadas para alterar a composição do lugar, adicionando mais EXP ao derrotar inimigos, dinheiro e outras facilidades.

Feitas as explicações, fica o aviso: Palácios têm um tempo limite para serem completados e, se o Tesouro não for roubado dentro do prazo, o jogador recebe um game over instantaneamente. A quantidade de dias varia de uma dungeon para outra e, uma vez concluídos, os Palácios somem para sempre.

Um adolescente (quase) normal

Mesmo agindo como um Phantom Thief, Joker ainda é um adolescente que precisa frequentar a escola, interagir com seus amigos, conhecidos e até mesmo com NPCs e outros Phantom Thieves que vão surgindo ao longo da trama. Este aspecto social de Persona é o que diferencia a franquia spin-off daquela que a originou.

Durante seu tempo livre, o protagonista pode explorar os mais diversos locais de sua escola e de Tóquio, realizar atividades sozinho ou com amigos, conferir side quests e muito mais. Por exemplo, convidar a galera para jogar dardos em Kichijouji, além de ser um minijogo divertido e bem-vindo para quebrar um pouco o padrão engessado de JRPG, contribui para melhorar o desempenho não apenas de Joker, como também de seus aliados enquanto exploram Palácios e Mementos.


Muitas informações sobre as interações sociais e a realização de diversas atividades são explicadas via tutoriais conforme vão surgindo, mas o principal benefício desse simulador social são os Social Links (SL). Certos personagens e NPCs contribuem com o crescimento de Joker em diversos campos, como a anteriormente citada habilidade Third Eye, que permite que o protagonista confira o nível de força de inimigos e também rotas muitas vezes imperceptíveis durante a exploração em castelos, entre outros benefícios.

Não vou entrar muito em detalhes pelo bem do tamanho desta análise, mas quero ressaltar que os SL também são atrelados à progressão na história.

Combatendo Shadows e fazendo amizade com Personas

Palácios e Mementos são repletos de Shadows, entidades que habitam esses locais. Esses inimigos agem como os guardas do soberano local, em especial nas dungeons principais da história.

Durante os combates, cada personagem do time tem as opções de atacar normalmente (golpe corpo a corpo); usar itens; defender-se; usar suas armas (ataque a distância); e invocar sua Persona para desferir golpes elementais, conceder buffs e debuffs, entre outros. A ordem de ação dos integrantes do grupo é determinada pela agilidade (Ag) de sua Persona.


É importante levar em consideração que Persona 5 Royal também conta com um sistema de afinidades. Além dos golpes físicos corpo a corpo e a distância, Personas podem ser fracos ou resistentes a um ou mais elementos (às vezes, a nenhum também!), sendo eles Fire, Ice, Elec, Wind, Psy, Nuke, Bless, Curse e Almighty; contudo, diferentemente de Pokémon e Fire Emblem, em P5R não há uma regra para determinar as fraquezas e resistências dos inimigos.

Acertar um oponente com sua fraqueza, mesmo que por meio de itens, deixa-o atordoado e faz com que ele perca sua ação naquele turno. No início do jogo, temos apenas a opção 1 More, que garante uma ação extra para quem acertou o golpe; no entanto, essa mecânica também vale para os inimigos, então é sempre bom prestar atenção na composição do time.


A mecânica mais proveitosa em termos de combate é, sem dúvida, o Baton Pass, que permite ao aliado que atordoou um inimigo passar a vez a outro Phantom Thief, aumentando a potência de suas ações. Criar uma sequência de Baton Pass também tem suas vantagens, como é o caso de Yusuke, cujas habilidades físicas são bastante dependentes dessa corrente.

Por padrão, todos os outros Phantom Thieves possuem uma fraqueza pré-estabelecida, como Makoto receber dano extra de Psy, enquanto Joker tem o dom de criar Personas no Velvet Room ou até mesmo acolhê-las durante uma batalha, podendo se adaptar melhor ao fluxo de combate. Quando todos os inimigos são atordoados, é dada ao jogador a opção de Hold On, durante a qual o protagonista pode negociar com Shadows.


Joker pode obter itens e dinheiro desses inimigos, mas também conversar com eles. Um bate-papo bem-sucedido se transforma na "purificação" da Shadow, que assume a forma de Persona e passa a habitar o cognitivo do protagonista; contudo, nem todas as Shadows estão dispostas a um diálogo, então o jogador pode resumir a ação em combate com Break Formation ou realizar um poderoso ataque combinado, o All-Out Attack.

As explicações acima são apenas uma porção de como funciona o sistema de batalha em P5R, mas, assim como os diversos elementos do jogo, novas opções são destravadas com a progressão da história. Vale a pena conferir os tutoriais sempre que aparecem, pois muitas dicas são valiosas e podem mudar o rumo dos combates.

Algumas pequenas falhas aqui e ali, mas uma ótima pedida sem dúvidas

Conforme discorrido ao longo da análise, tudo em Persona 5 está atrelado à progressão da história principal, uma característica típica da franquia. Com todos os conteúdos trazidos por Royal, que é uma expansão do P5 original, a campanha chega a 100 ou mais horas, isso desconsiderando a opção de New Game+.

Somado esse fator a uma extensa carga de leitura, mesmo durante as dungeons, o jogo pode, infelizmente, afastar potenciais interessados. Por mais que P5R conte com uma dublagem quase integral, com uma boa escolha de elenco tanto em japonês quanto em inglês, a densidade de certos elementos apresentados na trama chega a cansar, mesmo com uma apresentação narrativa que ajuda a quebrar os inúmeros blocos de texto ao longo da aventura de Joker.

Outro ponto a ser levado em consideração é a curva de dificuldade. Mesmo jogando no Hard, os poucos game overs que levei até agora foram derivados do infame RNG, presente em RPGs desde sempre.


Além disso, não é demasiadamente difícil navegar pelos Palácios, que, embora criativos, apresentam caminhos lineares e puzzles que poderiam ter sido melhor explorados ou aplicados. Todas as vezes em que me senti perdida, mesmo seguindo os mapas, foram decorrentes de não prestar atenção em alguns elementos do cenário, mas nada que sair e entrar na dungeon de novo para rever os passos não resolva.

De todo modo, para aqueles que apreciam uma história bem construída, mesmo com alguns eventuais furos de roteiro aqui e ali, Persona 5 Royal é um prato cheio em termos de dinamismo e horas e mais horas de jogatina, com personagens carismáticos e uma ótima trilha sonora para embalar as peripécias dos Phantom Thieves.

Ver um jogo rodar de maneira satisfatória no Switch, a qualquer hora do dia e sem prejudicar os momentos de ação, é um grande triunfo, especialmente quando estamos falando de um dos melhores JRPGs de todos os tempos.


Prós

  • História bem escrita e apresentada de modo dinâmico, mesmo com alguns furos de roteiro aqui e ali;
  • Os diversos minijogos e interações sociais ajudam a quebrar o modelo engessado de JRPG;
  • Dungeons criativas;
  • Personagens carismáticos, mesmo os NPCs;
  • Mecânicas apresentadas de maneira didática, sempre com o amparo de tutoriais;
  • Centenas de horas de conteúdo, com direito a New Game+;
  • Dublagem semi-integral em japonês e inglês, com um ótimo elenco nos dois idiomas;
  • Ótima trilha sonora;
  • Performance satisfatória no Switch.

Contras

  • A densidade de leitura e a introdução lenta de mecânicas e conteúdos podem afastar ou desmotivar jogadores;
  • Início arrastado, com aproximadamente 10 horas para o jogo começar de fato;
  • Dungeons lineares demais e puzzles simples;
  • Curva de dificuldade praticamente inexistente, mesmo no modo Hard ou superior.
Persona 5 Royal — PS4/PS5/PC/XBO/XBX/Switch — Nota 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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