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Análise: Saturnalia (Switch) é um infeliz exemplo de potencial desperdiçado no console híbrido

As boas ideias se perdem em meio a uma jogabilidade travada e comandos confusos.


A proposta de Saturnalia é, em essência, excelente. Misturando elementos de roguelite e horror survival, o jogo do estúdio italiano Santa Ragione quase não falha em trazer uma ótima experiência de terror, não fosse sua péssima performance no Switch.

Uma Sardenha fictícia e assombrada arruinada por uma péssima performance

A história de Saturnalia se passa no ano de 1989, em Gravoi, uma cidadela fictícia de Sardenha, na Itália. A trama começa com um pequeno prólogo que nos apresenta a Anita, uma jovem geóloga que passou um ano estudando as minas locais e que teve um romance proibido com Damiano, de quem está grávida.

Contudo, ela não poderia chegar ao local em pior momento: é Dia de Santa Luzia e todos estão ocupados com a missa, mas, a partir daqui, tudo ficou confuso para mim a respeito da história. Parece que, especialmente no Dia de Santa Luzia, uma criatura misteriosa e mascarada aparece em Gravoi, atraída pelas luzes e sons do festejo, para dar continuidade a um macabro ritual que todos pensavam ser apenas um folclore local.

Infelizmente, não tive paciência para desvendá-la por completo, não porque ela não é interessante ou bem escrita, mas porque a performance no Switch me tirou toda e qualquer empolgação que eu tinha para com Saturnalia. Ironicamente, foi a ótima premissa do jogo o que mais me chamou a atenção nele.

Li várias análises sobre o jogo, todas elogiando a ambientação e a atmosfera folclórica criada pelo estúdio italiano, mas o console nintendista conseguiu arruinar uma experiência que tinha de tudo para dar certo. Porém, antes de falar das falhas, vou abordar os pontos positivos de Saturnalia e por que este survival horror entrou no meu radar de interesses; afinal, o game tem seus méritos e estes precisam ser ressaltados.

Nem tentar jogar em italiano salvou a experiência


A primeira característica da aposta ambiciosa do Santa Ragione está na inusitada decisão de adicionar elementos de roguelite a essa atmosfera mística enquanto tentamos desvendar o que os quatro personagens da história têm em comum e qual a sua ligação com Gravoi, que não os deixa sair da cidadela. Ou seja, a cada game over, a paisagem e os objetivos mudam, o que nos garante um incrível fator de rejogabilidade.

O mais interessante nessa característica é que, além das configurações pré-estabelecidas que ditam a dificuldade da campanha, o jogador tem total liberdade para criar uma customização própria. Neste quesito, Saturnalia surpreende, já que permite que a jogabilidade seja adaptada às necessidades do jogador e não o contrário, que é mais comum de acontecer no gênero roguelite/roguelike.

Outro ponto que me chamou a atenção no jogo foi seu estilo artístico que, por mais estranho que possa parecer em um primeiro momento, sobretudo a complicada navegação por Gravoi, combina com a atmosfera de horror survival de Saturnalia. Combinada a uma excelente trilha sonora, o game italiano entrega com maestria uma ambientação imersiva muito mais que bem-vinda.

Porém, isso é tudo o que posso dizer de positivo sobre o jogo. A experiência no Switch foi bastante tortuosa para mim, a começar pela jogabilidade engessada. Aparentemente, o console híbrido não tem potência suficiente para rodar o jogo de maneira satisfatória, seja no modo portátil, seja no modo TV.


Não foram raras as vezes em que tive que lidar com os infames "engasgos" e um processamento lento, afetando a movimentação dos personagens até mesmo quando a opção de caminhar automaticamente até o local escolhido estava ativada. Os controles confusos, que nada têm a ver com a versão de Switch, também não colaboram para proporcionar uma boa jogabilidade.

Eu explico: durante nossa exploração pela labiríntica e claustrofóbica Gravoi, temos que realizar diversas missões e interagir com objetos, placas, portas etc., interações estas que são obrigatórias para avançar no jogo, seja para obter pistas ou itens como fósforos para iluminar o caminho. Porém, todos os pontos-chave para a narrativa (as missões estão incluídas aqui) ficam dispostos em uma espécie de organograma extremamente confuso de entender — e de acessar, vale ressaltar. 

É muito triste não ter podido aproveitar Saturnalia com a expectativa que criei para o jogo — e se tive paciência para jogá-lo por duas horas foi muito. A pouca capacidade de processamento do Switch torna a experiência frustrante e injogável, arruinando todo o potencial deste incrível horror survival italiano.

Prós

  • História interessante e instigante;
  • Atmosfera imersiva, graças à ótima apresentação audiovisual do jogo e ao seu level design;
  • Interessante mescla de horror survival e roguelite, com diversos elementos customizáveis.

Contras

  • Controles confusos;
  • O Switch não tem potência para rodar o jogo de maneira satisfatória, arruinando a experiência como um todo.
Saturnalia — PS4/PS5/PC/XBO/XBX/Switch — Nota: 3.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital concedida pela Santa Ragione

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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