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Análise: The Knight Witch (Switch) mistura magia, charme e muita intensidade em seu caldeirão enfeitiçado

Com estilo de sobra, a jornada da bruxa Rayne oferece desafios frenéticos que combinam diferentes elementos de jogatina.

Para ser honesto, fiquei encantado com The Knight Witch desde os meus primeiros contatos com os trailers da aventura, o que ocorreu principalmente por conta de sua bela estética cartunesca e de sua promissora ideia de mesclar os gêneros metroidvania e shooter com traços de bullet hell. Agora, com o jogo em mãos, felizmente pude ver que essas qualidades prometidas estão efetivamente presentes na jogatina, permitindo que o título se torne um candidato para a lista dos melhores indies de ação de 2022, mesmo com algumas inconveniências.

Cinco bruxas e um mundo (novamente) em perigo

Em um breve prólogo, The Knight Witch nos conta o que aconteceu no universo do jogo há 14 anos, período no qual o povo Daigadai estava no poder e promovia diversos progressos tecnológicos. O problema, no entanto, era que seus governantes abusavam da extração de recursos naturais, fazendo coisas indescritíveis aos ecossistemas do planeta. Para enfrentar isso, um grupo rebelde intitulado Filhos de Gaia surgiu no horizonte, passando a combater os Daigadai e seu moderno exército de golens em defesa da natureza.

De forma surpreendente, justamente quando estavam perto da derrota, os Filhos de Gaia foram agraciados com o despertar de quatro Knight Witches (Bruxas Guerreiras, em português): Faruru, Sykra, Irine e Robyn, que passaram a enfrentar os golens e ajudar a população como um todo. Apresentando-se enquanto forças da natureza com diversos poderes mágicos, incluindo a capacidade de voar, essas entidades se tornaram heroínas e colocaram um fim nos conflitos.

Depois de anos de paz, a trama retorna ao presente para nos apresentar a protagonista Rayne, que apesar de ser da espécie das bruxas e ter poderes mágicos, nunca completou o seu treinamento para se tornar uma Knight Witch. Porém, em certo dia, suas magias são recrutadas quando ela presencia, na cidade de Dungeonidas, uma súbita invasão de antigos golens Daigadai, que aparentemente estão a serviço de Graff, vilão da trama que começa a perseguir as bruxinhas da história. Cabe, então, aos jogadores investigar o que está acontecendo em ordem de impedir o começo de uma nova guerra.

Em seu enredo, o título destila carisma ao exibir uma história surpreendentemente profunda, sobretudo quando se trata do detalhamento de seus grupos étnicos e da complicada relação entre Rayne e as outras quatro Knight Witches. Desse modo, temos, aqui, uma das grandes virtudes do jogo, que é ostentar uma trama com mistérios que nos mantêm instigados a todo instante, algo crucial para o jogo desenvolver suas raízes de jogabilidade.

O resultado de uma grande mistura de gêneros

Os desafios de The Knight Witch se manifestam por meio de explorações bidimensionais nas quais devemos investigar localidades misteriosas e realizar tarefas designadas por um personagem chamado O Venerável, que é uma espécie de líder de seu universo. Assim, o jogo pode muito bem ser considerado um metroidvania clássico, pois, quando estamos nessas espécies de dungeons, temos de empreender momentos de buscas e investigação em ambientes laterais com salas interconectadas.

Entretanto, é preciso ressaltar que essa interface da aventura não é muito profunda em termos de liberdade. Isso ocorre, pois o seu universo não é todo conectado em um mesmo mapa, como costumam ser as obras de seu gênero. Pelo contrário, as dungeons podem ser acessadas por meio de um menu situado em Dungeonidas, que libera as ambiências de forma linear ao longo da campanha. Dessa forma, entendo que isso faz com que o lado metroidvania da aventura seja menos atraente por ser pouco desenvolvido, com uma progressão sequencial que pode desagradar a jogadores de certos estilos.

Por outro lado, há uma interface que claramente brilha no meio da mistura de gêneros de The Knight Witch, que são os embates nos estilos shoot 'em up e bullet hell. Com um elevado número de inimigos e tiros disparados para todos os cantos da tela, criam-se momentos frenéticos na companhia de Rayne, cuja habilidade de voar traz múltiplas perspectivas para o contexto. Junto a isso, felizmente os controles da obra são intuitivos e responsivos, propiciando uma ótima experiência no Switch.

Essas qualidades, por sua vez, são complementadas por um engenhoso sistema de habilidades formado por cartas que são coletadas durante a jornada. Dessa forma, podemos montar o nosso próprio deck para usar diferentes magias nos botões X, Y e A, o que traz profundidade e variedade ao jogo, que conta com desafios que nos instigam a montar estratégias variadas por meio desse sistema. Por exemplo, em certos momentos, é interessante se equipar com as magias de dano físico, como os machados e as espadas, enquanto em outros, o uso de escudos é crucial para a sobrevivência.

Colocando em prática um agradável sistema de progressão RPG, a jogabilidade de The Knight Witch é uma das grandes estrelas da aventura, contando com muita personalidade por meio da mistura de diferentes gêneros. Eis, então, que essas proezas de gameplay são muito bem acompanhadas por outra característica distintiva: a sua rica e robusta exibição.

Uma bela apresentação com poucos problemas, graças a Gaia!

Para além das virtudes já mencionadas, Rayne e sua aventura ostentam muito charme por conta de sua exuberante e colorida apresentação. Desfilando com uma trilha sonora animada, que, por meio de instrumentos de sopro, lembra séries como The Legend of Zelda, e com lindos visuais que parecem desenhados à mão, é difícil não ficar encantado com este título, que inclusive dispõe de uma excelente localização para o português brasileiro.

A performance, do mesmo modo, é satisfatória no console da Nintendo. Em alguns momentos, até ocorrem breves quedas na taxa de quadros por segundo, principalmente quando há muitos elementos na tela. No entanto, por estarmos falando de um jogo no frenético formato bullet hell, entendo que essa é uma fraqueza bastante compreensível, não se tornando uma falha grave, pois não afeta a jogatina em nada.

No geral, sinto-me seguro em dizer que essa é uma jornada com poucos pontos negativos. Um que poderia ser mencionado está na impossibilidade de reorganizar e ajustar os controles da aventura. Por exemplo, senti falta da opção de reduzir a sensibilidade do analógico direito, que serve para mirar nossos tiros no estilo twin stick shooter. Do mesmo modo, o uso do botão R para atirar causa certa estranheza, uma vez que os jogos desse gênero costumam usar o gatilho ZR para tal ação. Assim, penso que essas inconveniências poderiam ser evitadas com uma simples opção de personalização dos comandos, o que infelizmente está ausente nos menus da aventura.

Durante a minha campanha, também presenciei um pequeno bug em um dos pontos de salvamento do Lago Congelado. Acontece que, quando eu estava em um desafio de emboscada complicado, no qual eu morri diversas vezes, Rayne eventualmente ficava imóvel ao retornar para esse checkpoint, passando a exigir um soft reset em ordem de retomar a jogatina. Esse problema, no entanto, ocorreu três vezes e somente nesse ponto específico, não se apresentando como algo grave. 

Portanto, é por meio de uma experiência agradável do início ao fim que o título de ação é capaz de cativar com a trajetória da bruxa Rayne, que busca força, maturidade e fama. Com a nossa ajuda, essa simpática bruxinha de Dungeonidas poderá se tornar a mais poderosa Knight Witch de toda a história de seu universo.


Voando alto como uma Bruxa Guerreira

Por trás de sua bela arte, The Knight Witch abriga um jogo frenético e profundo, tanto pela personalidade de sua história quanto por sua capacidade de combinar diferentes gêneros em uma jogabilidade robusta. Desse modo, manifestando-se enquanto uma verdadeira Bruxa Guerreira, a valente Rayne lança um poderoso feitiço e cria uma jornada que se mostra capaz de encantar a todos no Switch.

Prós

  • Um atraente e encantador universo repleto de histórias amáveis;
  • Desafios frenéticos por meio de uma jogabilidade precisa e engenhosa;
  • O jogo combina elementos de diferentes gêneros com personalidade;
  • Entre trilhas alegres e lindos visuais, temos uma estética fascinante;
  • Muita diversão em um dos melhores indies de ação de 2022.

Contras

  • O lado metroidvania poderia ser desenvolvido com maior profundidade;
  • Ausência de opções de ajustes e reconfiguração dos controles;
  • Ainda que bastante raro, há um bug que exige soft reset em uma das dungeons.
The Knight Witch — Switch/PS4/PS5/XBO/XBX/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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