JogamosPokémon Blast

Análise: Pokémon Scarlet/Violet (Switch) é um jogo muito divertido eclipsado por seus problemas técnicos

O título da nona geração é o mais divertido da série, porém também é o mais problemático.


Se você é fã de Pokémon, provavelmente já ouviu de seus amigos o argumento jocoso de que todos os jogos da franquia são a mesma coisa. Embora ela tenha evoluído bastante desde sua humilde origem no Game Boy, é verdade que sua estrutura como um RPG linear se repetiu ao longo de oito gerações, com poucos títulos realmente ousando quebrar a velha fórmula já estabelecida.

Pokémon Scarlet/Violet finalmente trouxe uma proposta para mudar os alicerces da franquia, oferecendo um RPG de mundo aberto com amplas possibilidades de exploração e liberdade para o jogador decidir qual será o rumo de sua aventura, com três rotas de campanha independentes e muitos novos Pokémon para encontrar, finalmente fazendo jus à jornada de descoberta que sempre foi a alma dessa série.


O representante da nona geração de Pokémon tinha tudo para ser o melhor da família e um dos melhores títulos disponíveis na biblioteca do Switch, mas infelizmente seu brilho foi ofuscado pela falta de polimento e uma série de problemas técnicos inaceitáveis para a maior franquia de entretenimento do mundo.

Scarlet ou Violet?

Ao contrário do que vimos no spin-off Pokémon Legends: Arceus, nesse novo título a The Pokémon Company volta ao modelo em que duas versões complementares do jogo são vendidas separadamente, uma tradição que vem desde o início da série.

Cada versão difere em detalhes como os tipos de Pokémon que podem ser encontrados, a montaria que usaremos, a academia que encontramos na principal cidade do jogo, a professora ou professor que orientarão nossas explorações na Área Zero e até o estilo de roupas que usamos.


Infelizmente, a customização do personagem é um dos pontos fracos do jogo. Embora seja possível mudar vários aspectos no rosto do protagonista, não é possível alterar sua idade, altura ou peso. As únicas opções de roupa disponíveis são os uniformes da Academia, separados em quatro modelos correspondentes às estações do ano. Não existem, no momento, opções para usar roupas diferentes do uniforme escolar, a não ser por pequenas variações em acessórios como luvas, meias e chapéus.

A região de Paldea

Pokémon Scarlet/Violet se passa em Paldea, continente inspirado na Península Ibérica, com ênfase na cultura espanhola. Essa ambientação pode ser percebida em detalhes na arquitetura que vemos nas cidades, nos ingredientes usados na alimentação e nos nomes de pessoas e lugares.


O continente é bem vasto, composto por biomas variados, com lagos, planícies, áreas geladas, desertos e cordilheiras. Esse é também o jogo de Pokémon com a maior verticalidade, com possibilidade de escalar montanhas e explorar itens escondidos em torres, que servem como pontos de viagem rápida e mirantes. E para explorar esses novos ambientes, nada como uma boa montaria.

Preciso confessar que torci o nariz quando vi pela primeira vez os “Pokémon motocicleta” nos trailers, especialmente Koraidon, por ser uma moto quadrúpede que corre com as patas. Passada a estranheza inicial, as novas montarias são as mais práticas que já vi na série.


Elas saltam, correm, nadam, planam, escalam paredes verticais e nos permitem explorar os mapas com muita desenvoltura. No final das contas, acostumei-me com seu jeitão esquisito e me peguei pensando como seria bom ter algo assim em The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Switch).

As cidades de Paldea são bastante interessantes, baseadas na cultura espanhola, cada uma com arquitetura e características únicas. Temos, por exemplo, Porto Marinada, uma cidade portuária renomada pelo seu comércio e leilões de itens; ou Alfornada, famosa pela cerâmica. Ainda assim, a maioria das casas e estabelecimentos são apenas estéticos, não podendo ser visitados nem possuindo função prática, dando pouca motivação para a exploração urbana.


Por outro lado, eu achei a exploração do mundo aberto bastante rica e divertida. Para qualquer lado que você olhar haverá itens para coletar, Pokémon para capturar, locais para investigar e outros pontos de interesse. Sempre há alguma coisa interessante para descobrir e o jogo é repleto de segredos, espécies desconhecidas e surpresas, tudo amarrado por subtramas realmente interessantes.

Quiosques Pokémon

Durante a exploração, você pode enviar seu Pokémon líder para percorrer a área a seu redor, coletando itens ou batalhando contra oponentes próximos. Esse comando é feito de forma muito simples, apertando o botão R. Ele pode até mesmo lutar sozinho, sem a necessidade de ordens do treinador. Isso lhe deixará livre para explorar o ambiente. As Auto Battles são decididas com base na força e no tipo dos combatentes e são uma boa forma de farmar experiência e materiais.


Os Centros Pokémon deixaram o formato clássico de uma casinha, passando a ser uma estação de serviços aberta, similar a um quiosque. Eu achei esse formato muito mais prático, pois podemos acessar as facilidades do centro diretamente do mundo aberto, sem a necessidade de passar por uma porta e uma tela de transição.

Essas estações oferecem as facilidades tradicionais de cura para o seu time, compra e venda de itens e ferramentas para ingressar em grupos online e acessar a TM Machine. Em Scarlet/Violet, voltaram as TMs de uso único, que podem ser encontradas no ambiente, recebidas como prêmio ao derrotar alguns treinadores ou criadas nessas máquinas a partir de ingredientes coletados ao derrotar Pokémon selvagens, o que gera mais incentivo para a caçada de monstrinhos pelo mapa. Vale comentar que o catálogo de TMs e a Pokédex estão belíssimos.



Liberdade, ainda que tardia

Começamos nossa aventura em Pokémon Scarlet/Violet como um aluno na Academia Naranja ou Uva (dependendo de qual versão foi escolhida), um grande instituto de ensino localizado em Mesagoza, a principal cidade do continente de Paldea.

Embora ofereça aulas tradicionais, logo após a cerimônia de admissão somos informados de que a escola possui um programa de estudos bastante ousado, que consiste em fazer com que os alunos explorem o mundo em busca de novas experiências.


Os estudantes estão livres para se aventurar por onde bem entenderem, exceto na chamada Área Zero, a única área vetada aos estudantes, que fica na região central do continente, uma enorme cratera que guarda os maiores segredos do jogo.

Finalmente Pokémon é a aventura que sempre deveria ter sido, um mundo aberto com amplas possibilidades de exploração e liberdade para o jogador escolher ir para onde quiser, quando quiser e enfrentar os desafios na ordem que desejar. O mais novo título da franquia também inova ao oferecer três campanhas diferentes para o jogador trilhar. São elas:
  • Victory Road representa a rota mais tradicional, em que desafiamos os oito ginásios e seus líderes a fim de conquistar suas insígnias. A novidade aqui é que temos a liberdade para desafiar os ginásios na ordem que preferirmos, para então enfrentarmos a Pokémon League e obtermos o título de Campeão;
  • Path of Legends, para aqueles que gostam de investigação e pesquisa. Aqui buscaremos as raras Herba Mysticas, ingredientes com poderes curativos incríveis. Porém, não pense que será algo fácil, pois as ervas são guardadas pelos enormes Titan Pokémon, inimigos realmente desafiadores;
  • Starfall Street é o caminho daqueles que lutam pela justiça! Aqui enfrentaremos o grupo Team Star, formado por delinquentes renegados da Academia. Cada equipe Star possui uma base e um líder, espalhados pela região, e você enfrentará desafios cada vez maiores até duelar contra a liderança da facção;

Eu me surpreendi com a qualidade da exploração do mundo aberto e a enorme quantidade de conteúdo e atividades à disposição do jogador. Uma vez que a etapa de apresentação se encerra, o jogador realmente está livre para explorar o continente, visitando cidades, ginásios e pontos de interesse na ordem que desejar.

O interessante é que os desafios de cada rota apresentam jogabilidades completamente distintas. Os ginásios da Victory Road exigem que se passe em um teste, normalmente um puzzle, antes de enfrentar o líder. Já o Path of Legends requer que os Pokémon Titan sejam enfrentados em duas etapas. Para derrotar as bases da Starfall Street é necessário antes vencer a equipe de defesa em um desafio estilo Let's Go e depois enfrentar o capitão da fortificação.

Livre, pero no mucho

Há, porém, algumas limitações a toda essa liberdade, como, sua montaria no início da aventura só poder fazer saltos pequenos. Mais tarde, ao derrotar os Titan Pokémon do Path of Legends, serão liberadas habilidades de saltar mais alto, atravessar cursos d’água, planar e escalar paredes verticais, permitindo acessar lugares mais difíceis.


O jogador também estará limitado pelo nível dos Pokémon, que deixarão de obedecê-lo se o treinador não possuir insígnias de ginásios suficientes. Sendo assim, a rota da Victory Road torna-se um tanto quanto inevitável, o que limita um pouco a liberdade de escolher a ordem dos desafios. Penso que nesse contexto de mundo aberto talvez a mecânica de obediência dos monstrinhos pudesse ser repensada.

Um bom exemplo de característica tradicional que foi revisada para adequar-se à exploração de mundo aberto foi o sistema de batalhas entre os treinadores em campo. O antigo formato em que éramos obrigados a batalhar com NPCs apenas por entrar em seu campo de visão foi finalmente abolido. Agora as batalhas são disparadas quando o protagonista voluntariamente inicia uma conversa com o oponente, algo que faz muito mais sentido e mais uma vez deixa a decisão nas mãos do jogador.


Não pense porém que, por conta disso, as batalhas com treinadores em campo serão totalmente negligenciadas. Entra aí outra mecânica de incentivo, que consiste em recebermos prêmios ao derrotarmos uma certa quantidade de NPCs em uma determinada região. Eu considerei essa saída elegante e inteligente, pois o jogador é recompensado se participar das batalhas, mas tem a opção de não fazê-lo se assim desejar.

Uma mecânica brilhante

O fenômeno Terastral é a mecânica exclusiva de Pokémon Scarlet/Violet, em que o monstrinho assume uma forma cristalizada com um visual bastante espalhafatoso. A novidade aqui é que a forma Tera altera o tipo do Pokémon para uma das dezoito formas disponíveis, ampliando as possibilidades táticas de uma forma inédita na série.


Caçar Pokémon com o Tera Type desejado é mais um incentivo à exploração do mapa, especialmente em grupos. Agora é possível andar por Paldea em modo multiplayer com até quatro jogadores simultâneos, em modo local ou online. Scarlet/Violet cria eventos temporários para a captura de Pokémon Tera muito mais poderosos que os normalmente encontrados no ambiente.

Essa atividade em grupo, chamada Tera Raid, é uma das novidades mais interessantes que Scarlet/Violet oferece, um evento de batalha especial com limite de tempo que acontecerá em períodos pré-determinados. Essas batalhas são realizadas em equipes de quatro treinadores. Se não houver jogadores humanos suficientes, o sistema completa a equipe com bots.


Uma melhoria muito bem-vinda em relação a raids em títulos anteriores é que cada jogador faz os ataques no seu tempo, sem esperar comandos dos outros membros do time, tornando as batalhas muito mais dinâmicas. Por outro lado, durante a minha jogatina, foram constantes as quedas de conexão e atrasos na resolução de golpes, o que torna a experiência um pouco frustrante.

Uma aventura de descoberta como não se via há tempos

Vale mencionar também como pontos positivos a qualidade do roteiro, muito acima da média da franquia, com NPCs interessantes e variados e um mistério no pós-jogo bastante surpreendente. Há muitos Pokémon novos para conhecer, incluindo novos lendários e as formas Paradox, dois subgrupos anacrônicos que representam formas passadas e futuras de espécies que conhecemos hoje. Encontrar essas criaturas é mais um dos mistérios a se desvendar.


Como você pode ver, Pokémon Scarlet/Violet oferece uma quantidade massiva de conteúdo para explorar, que, somada à liberdade conferida ao jogador, fez com que essa aventura fosse a mais divertida e cheia de descobertas que já vivi desde o início da série.

O game tinha tudo para ser a melhor experiência da franquia e um dos melhores títulos da biblioteca do Switch, mas essas virtudes foram eclipsadas por seus graves defeitos técnicos.

Defeitos inaceitáveis

Infelizmente, Pokémon Scarlet/Violet apresenta uma quantidade absurda de defeitos técnicos, claramente revelando que ele foi lançado antes do que deveria, sem receber o polimento necessário para garantir uma qualidade minimamente aceitável para uma franquia de tamanha importância. 


As quedas na taxa de quadros são comuns e se agravam em todos os momentos em que há muitos elementos exibidos na tela. Quando estamos em um ambiente urbano, é possível ver as pessoas andando com frames saltando e objetos móveis, como as pás dos moinhos, movendo-se como ponteiros de relógio a três quadros por segundo.

A falta de otimização também é flagrante na má qualidade das texturas, nas bordas serrilhadas, problemas com sombras e iluminação, quando objetos surgem do nada ou desaparecem enquanto caminhamos. É muito comum que nossa montaria fique invisível e permaneça dessa forma, fazendo o nosso personagem parecer flutuar sentado no vazio. Outro problema que ocorreu comigo foi a montaria atravessar a geometria do cenário e começar a cair sem parar ao encostar na lateral de uma montanha.


Frequentemente, presenciei longos tempos de espera na transição entre cenas. Da mesma forma, as imagens demoram para carregar na Pokédex. Os problemas de câmera foram constantes, especialmente no início de combates, quando às vezes ela entra dentro do cenário ou do Pokémon, ou fica embaixo do solo. Também acontece um irritante bug ao sairmos de uma loja e a câmera virar para o lado errado, fazendo com que imediatamente entremos no mesmo local.

Durante a exploração multiplayer e Tera Raid, é bastante comum a ocorrência de quedas na conexão com os servidores. Mesmo no modo single player, em quarenta horas ocorreram dois travamentos irreparáveis que me forçaram a reiniciar o jogo.


No dia em que escrevo esta análise, a Nintendo lançou um patch de correção, de número 1.1.0, que infelizmente não retificou os problemas que mencionei acima. Esta atualização endereçou correções na música de batalha com a Elite Four e outros problemas menores, além de introduzir o início da Temporada 1 para Batalhas Ranqueadas. A empresa prometeu melhorar o desempenho do jogo no futuro e pediu desculpas pelos diversos problemas apresentados no lançamento.

O melhor, e ao mesmo tempo pior, jogo da série Pokémon

Apesar de ser o título com a maior quantidade de conteúdo e o que mais me divertiu em toda a série, infelizmente Pokémon Scarlet/Violet será sempre lembrado por seu lançamento repleto de bugs e com um desleixo técnico inaceitável para um jogo de uma franquia tão importante.

Sem dúvidas ele é um avanço na série e a sensação de descoberta e fascínio por um mundo novo é algo que não sinto há anos. Não tenho dúvidas que os alicerces lançados aqui serão o padrão em futuros títulos. Porém, por mais divertido que seja, durante a gameplay você é constantemente lembrado que este jogo carece de cuidado e foi lançado antes do que deveria.


Espero com sinceridade que a maior parte dos seus defeitos seja corrigida em atualizações futuras e que fique para a Game Freak a lição de que não basta um jogo ter ideias excelentes e ser muito divertido: ele precisa ter um mínimo de controle de qualidade e respeito às pessoas que o adquiriram. Esse, sem dúvida, não é o produto que os fãs de Pokémon merecem receber, e fica como uma mancha na história da série.

Prós

  • Mundo aberto amplamente explorável, aquilo que a série sempre deveria ter;
  • Quantidade massiva de conteúdo, com muitos itens para coletar, explorar e procurar, aulas, coleta de materiais para TMs, caça a Pokémon Tera;
  • Três linhas de campanha independentes para seguir, com três subprotagonistas;
  • O jogador está no controle sobre o que fazer, que desafio fazer, que rota seguir;
  • Centros Pokémon mais abertos e práticos;
  • Montaria mais prática e funcional;
  • Multiplayer mais divertido e com novas possibilidades de exploração, combate e raids;
  • Raid melhor elaborada, sem necessidade de aguardar a ação de outros jogadores;
  • História mais elaborada e madura e NPCs mais interessantes e complexos;
  • Estética da Pokédex e TMs muito mais refinada;
  • Mecânica Terastral brilhante, amplia as capacidades táticas a um patamar inédito;
  • Autobattle e sistema Let’s Go muito interessantes;
  • Visualização de itens, Pokémon e desafios muito mais elaborada e intuitiva.

Contras

  • Falta de polimento inaceitável para um jogo dessa franquia;
  • Quedas abruptas de taxa de quadros, em alguns casos indo até 3 frames por segundo;
  • Assets e polígonos aparecendo diante do jogador, enquanto caminhamos pelo mapa;
  • Texturas de qualidade terrível, com bordas serrilhadas e defeitos de sombra e iluminação;
  • Longos tempos de espera entre transições de cenas e atraso na apresentação de itens como ilustrações na Pokédex;
  • Travamentos e crashes constantes;
  • Itens que ficam invisíveis, como personagens, paredes e montarias ao caminhar pelo cenário;
  • Problemas de câmera, especialmente durante combates;
  • Quedas constantes de conexão durante a exploração online em modo multiplayer;
  • Pokémon e personagens atravessam a geometria dos cenários, em alguns casos caindo no infinito;
  • Pokémon permanecem travados em posição de dano ou queda;
  • Não há customização para as roupas do protagonista, sendo obrigatório o uso da roupa escolar da academia.
Pokémon Scarlet/Violet — Switch — Nota: 6.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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