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Análise: Digimon World: Next Order (Switch) é rico em conteúdo, mas extremamente nichado

Apesar de ser divertida, a nova edição não tem muito para oferecer a quem já a experimentou no passado.

Em 2016, Digimon World: Next Order chegou ao PS Vita no Japão. No ano seguinte, foi a vez do PlayStation 4 receber a sua versão, não mais limitada às terras orientais. Somente agora, sete anos depois do lançamento inicial, o título chegou ao Nintendo Switch.

Apesar de trazer legendas em português e a função de correr, aspectos não presentes nas versões anteriores, a nova edição não apresenta melhorias o suficiente para repatriar os jogadores antigos. Além disso, mesmo que para mim seja um jogo extremamente divertido, não se trata de uma obra de fácil recomendação para pessoas que não estão acostumadas ao gênero.

Os digiescolhidos 

Após escolher entre um dos dois possíveis treinadores, um garoto chamado Takuto ou uma garota chamada Shiki, somos transportados para o digimundo. Lá, junto de WarGreymon e MetalGarurumon, enfrentamos e vencemos um Machinedramon. 

Por conta da árdua luta, os dois parceiros acabam morrendo, mas renascem como ovos, dos quais podemos escolher dois entre dez disponíveis. Depois de muita conversa, descobrimos que o mundo digital está sendo constantemente atacado por poderosos Machinedramon.

O herói já foi um aficionado por digimon, tendo participado e se destacado em campeonatos nacionais. Por esse motivo, ele foi escolhido e trazido para ser o salvador do mundo digital. Neste contexto, ficamos sabendo que mais alguns humanos, igualmente famosos em competições, também foram conduzidos ao local.

Repovoando Floatia

De forma semelhante ao primeiro Digimon World de PlayStation, o objetivo principal em Next Order é repovoar uma cidade chamada Floatia com diversos digimon que estão espalhados pelo mundo. Enquanto alguns retornam depois de concluirmos uma missão, outros voltam após serem derrotados em batalha.

Com o objetivo principal definido, possuímos certa liberdade para encontrar e recrutar os monstrinhos na ordem que desejarmos. Essa liberdade acaba não sendo total porque algumas criaturas só aparecem após termos alcançado determinados pontos da campanha principal. 

A maioria desses residentes desempenha um papel em Floatia. Deste modo, com a chegada de cada novo morador, a cidade vai ficando maior, com novos comércios e instalações muito úteis. Durante a exploração, encontramos materiais que servem para melhorar as estruturas da cidade. Também podemos pescar e coletar alimentos como cogumelos e frutas.

Para citar alguns exemplos de construções, temos restaurantes; campos de plantação de carnes; um hospital; uma loja de itens; um ginásio de treinamento; e um serviço de transporte rápido. Como deu para notar, recrutar os monstros não é importante somente para progredir na campanha, mas também para fornecer mais recursos e possibilidades ao jogador.

Destaco que esse título consegue tocar de forma nostálgica nos veteranos de Digimon World. Como se não bastasse as mecânicas semelhantes, Next Order traz diversas músicas presentes na obra de PS, além de alguns elementos de enredo.

Diversas mecânicas interligadas

Digimon World: Next Order é um jogo de simulação com elementos comuns de um Tamagotchi. Devemos cuidar dos nossos dois bichinhos, alimentando, levando ao banheiro, colocando para dormir, elogiando ou repreendendo, aplicando curativos e treinando. Esse sistema acaba dando uma camada de complexidade e enriquecendo a obra, pois afeta diretamente as batalhas e digievoluções.

Isso acontece porque os dois aliados possuem um tempo finito de vida. Um monstro feliz, forte e bem cuidado acaba tendo esse prazo aumentado; no entanto, em algum momento ele inevitavelmente morrerá. Quando isso ocorre, temos novamente a oportunidade de escolher um ovo, reiniciando o ciclo.

À primeira vista, esse ciclo de vida e morte pode parecer desanimador e punitivo; no entanto, trata-se de uma mecânica positiva que nos permite conseguir novas criaturas e evoluções mais poderosas. Toda vez que um digimon renasce, parte dos seus atributos é mantida. Ademais, as habilidades adquiridas anteriormente também permanecem, fazendo com que a cada novo ciclo o bichinho fique mais forte e forneça novas táticas ao treinador. 

Para fortalecer os atributos do digimon, temos duas formas principais: treinamento e batalhas. Na primeira, somos capazes de escolher diretamente em qual atributo vamos focar, mas o tempo e a energia gastos são maiores.

Nas lutas, não controlamos diretamente quais individualidades vamos aumentar, e a quantidade está ligada diretamente ao nível do adversário. Enquanto inimigos mais fracos não fornecem praticamente nada, os mais fortes rendem uma boa quantidade.

Enfrentar um oponente de nível ultimate utilizando um champion, certamente trará bons resultados; no entanto, é bem difícil alcançar tal vitória, e ainda que você consiga, provavelmente o digimon sairá machucado, diminuindo a sua expectativa de vida.

Pelo que nos é mostrado, ambas as opções têm prós e contras, mas acredito que com o treinamento seja mais rápido e simples. Vale destacar que o treino se apresenta com uma espécie de roleta, na qual temos alguns bônus, como os oriundos de amizade e refeições.

Ainda sobre as batalhas, é possível que elas incomodem os jogadores que não estão acostumados com a série. Em Next Order, ficamos do lado de fora, apenas torcendo por nossos aliados. A cada vez que pressionamos o botão de torcer, ganhamos pontos de ordem que são utilizados para fazer o parceiro usar um comando de ataque específico.

Apesar de não estarmos 100% no controle, a inteligência artificial funciona muito bem. Outro fator que influencia nos combates é a afeição que temos com os aliados. Quanto maior for o laço, maior será a quantidade de pontos de ordem com que iniciaremos a batalha. Assim, temos a possibilidade de começar o confronto já usando as melhores habilidades. É importante mencionar que os dois monstrinhos também dispõem de afeição entre si, impactando nas opções de ataques em dupla e nas fusões.

Seja treinando ou lutando, de tempos em tempos, ocorrerá uma interação na qual alguns requisitos de digievolução são revelados. Essas informações vão sendo adquiridas de forma gradual, até chegar o momento em que conseguimos visualizar todas as exigências. Com o conhecimento completo sobre a forma desejada, conseguimos focar diretamente no treino dos atributos requisitados.

As digievoluções também requerem outros aspectos específicos, como o peso, o número de vitórias e a disciplina. Mais uma vez, os cuidados com o digimon fazem a diferença, pois há alimentos que fazem ganhar quilos, enquanto outros fazem perder. Além disso, há transformações que requerem uma disciplina baixa. Dessa forma, sempre repreender o bichinho pode acabar atrapalhando na aquisição de algumas evoluções.

Uma outra mecânica que merece destaque diz respeito às habilidades do treinador. Conforme vamos progredindo na campanha, ganhamos pontos de domador, que são usados para adquirir maestrias. Essas aptidões também se relacionam diretamente com as outras mecânicas do jogo. Para citar dois exemplos úteis, podemos melhorar a eficiência da coleta de materiais de construção e aumentar os atributos herdados pelo digimon renascido.

Como deu para perceber, Next Order conta com muito conteúdo e coisas para fazer. O grinding presente no game não é aleatório e harmoniza perfeitamente com a proposta, sendo necessário para fornecer novas criaturas ao jogador. Nesse sentido, as legendas em português trazidas pela nova versão ajudam bastante na compreensão de todas as funcionalidades.

Problemas antigos permanecem nessa edição

Em 2017, quando foi lançado para PS4, Digimon World: Next Order já não podia ser considerado bonito, ficando claro que se tratava de um port vindo de um console mais limitado. Mesmo não vendo grandes problemas nos digimon, acho os humanos bem estranhos, ainda mais hoje em dia. 

Lembra daqueles jogos de PS2 que continham personagens relativamente bem-feitos, mas com uma boca que se mexia de forma muito estranha durante os diálogos, dando a impressão de que não fazia parte daquele corpo? É exatamente essa sensação que as pessoas de Next Order passam.

Ademais, se tratando de um produto que presta homenagem o tempo inteiro ao Digimon World de PS, Next Order não traz os mesmos cenários criativos de sua fonte de inspiração. Embora haja diversos biomas e regiões diferentes, eles não apresentam aquelas arquiteturas malucas que tínhamos no título antigo. Aqui, as áreas de florestas, montanhas e vulcões não são muito diferentes das presentes em outras criações recentes da Bandai, como os da série Sword Art Online.

Somado aos aspectos visuais, o mini-mapa parece não ter função, pois não mostra nenhuma informação relevante. Para saber onde está o ponto de transição entre a área atual e a próxima, é preciso abrir o mapa completo.

Outro ponto que me incomodou bastante diz respeito aos itens consumíveis, mais especificamente os alimentos. Next Order apresenta dezenas de comestíveis, todos com efeitos diferentes. Infelizmente, não há informações disponíveis, cabendo ao jogador ficar testando e anotando para concretizar os seus desejos. Somente em algumas raras exceções, relacionadas a fornecer um bônus de treinamento, temos uma descrição decente.

Sobre a nova função de correr, descrita como melhoria, acredito que acabou sendo bem aquém do que poderia. Digo isso porque a velocidade não muda tanto do modo normal de andar. Além disso, não há uma configuração que permita correr automaticamente, o que nos obriga a ficar o tempo todo com o botão B pressionado.

Para finalizar, Next Order trouxe um novo problema: os textos dos diálogos começam a diminuir de tamanho. Sempre que isso ocorria, eu era obrigado a reiniciar o jogo. Infelizmente, a situação sempre se repete, o que acaba incomodando bastante.

Uma versão com poder de atingir poucas pessoas

Com diversos pontos a serem considerados, é fato que Digimon World: Next Order não é para todos. Para os novatos que gostam da primeira obra da série, esta entrada certamente deve agradar, pois a maioria das mecânicas são mais funcionais e recompensadoras, principalmente se tratando das digievoluções.

Infelizmente, para os que já tiveram a oportunidade de jogar Next Order anteriormente, não existe uma razão real para pagar um preço tão alto nesta nova edição, pois além das legendas em português, não há nenhuma melhoria realmente significativa.

Prós:

  • Grande variedade de monstrinhos, sendo possível visualizar os requisitos das digievoluções;
  • O ciclo de vida e morte faz com que tenhamos a oportunidade de sempre usar novas criaturas, além de criar seres poderosos;
  • As digievoluções e batalhas estão diretamente relacionadas aos cuidados que o treinador tem com o digimon, fazendo com que a mecânica de Tamagotchi seja essencial e complexa;
  • As habilidades do domador enriquecem a jogabilidade, impactando diretamente em todas as outras mecânicas do jogo;
  • Os digimon recrutados para a cidade desempenham vários papéis úteis ao jogador;
  • Totalmente legendado em português.

Contras:

  • Mini mapa inútil, não demonstrando nenhuma informação relevante;
  • Os alimentos não possuem descrição dos efeitos que efetivamente fornecem;
  • Os textos ficam diminuindo de tamanho, obrigando a reinicialização do jogo;
  • Os cenários não são muito criativos, sendo bem menos inspirados do que os presentes no primeiro jogo da série;
  • A opção de correr não é muito efetiva, tendo praticamente a mesma velocidade de andar, além de não ser possível configurar para correr automaticamente;
  • A nova edição não possui melhorias significativas, sendo incapaz de fornecer uma nova experiência aos jogadores antigos;
  • Título bastante nichado, sendo difícil de recomendar para pessoas que não estão acostumadas com a série;
  • Gráficos pouco polidos, principalmente dos personagens humanos.
Digimon World: Next Order — PC/PS4/Switch — Nota 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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