Jogamos

Análise: Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse (Switch) traz ao Ocidente um dos melhores exemplares dos survival horrors

O quarto jogo da franquia Fatal Frame é uma experiência muito marcante de terror japonês.

Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse
é uma edição remasterizada do jogo de Wii que infelizmente não foi lançado no Ocidente na época. Originalmente desenvolvido em uma parceria entre a Tecmo, a Grasshopper Interactive e a Nintendo, o quarto jogo da franquia Fatal Frame foi co-escrito por Suda51, Makoto Shibata e Masahiro Yuki, sendo os dois primeiros também responsáveis pela direção da obra.

Como alguém que ainda não tinha jogado nenhum Fatal Frame antes (exceto o spin-off Spirit Camera de 3DS), minha experiência com o título foi bastante positiva. Mask of the Lunar Eclipse sabe explorar os melhores aspectos do que faz um survival horror uma experiência imersiva e sinistra e figura entre os melhores jogos do seu gênero.

Mistérios de um passado esquecido

A história de Mask of the Lunar Eclipse se passa na ilha Rogetsu, um lugar de tradições místicas relacionadas a um ritual chamado Rogetsu Kagura. Dez anos atrás, um grupo de cinco garotas desaparecidas foi encontrado nessa ilha. Embora tenham vivido normalmente desde então, elas perderam as memórias dessa época e passaram a sentir um forte vazio existencial.

Agora no presente, duas das garotas sequestradas morreram e as outras (Madoka Tsukimori, Misaki Aso e Ruka Minazuki) decidiram voltar à ilha em busca de respostas. De forma episódica, o jogo então alterna entre as perspectivas de cada uma delas e do detetive Choshiro Kirishima, que foi responsável por encontrá-las no passado.

Conforme exploramos mais a fundo as localidades, encontramos documentos do passado que relatam não apenas detalhes sobre os rituais e o desaparecimento das garotas, mas também relatórios médicos relacionados a uma doença misteriosa chamada Twilight Syndrome.

Sem entrar em muitos detalhes, vale a pena destacar que os mistérios são bem intrigantes. Entender como as coisas se conectam é um ponto alto da experiência e o jogo não tenta mastigar todos os detalhes para o jogador, deixando que algumas coisas sejam mais ambíguas intencionalmente.

Além disso, Mask of the Lunar Eclipse sabe mergulhar fundo no aspecto psicológico do terror, o qual considero uma das melhores formas de aproveitar o gênero. Mais do que o susto pelo susto, os traumas do passado e os aspectos de obsessão dos fantasmas são forças motrizes muito bem pensadas para a experiência, como acontece nos clássicos Silent Hill.

Um mundo de sombras

Mask of the Lunar Eclipse é, em primeiro lugar, uma obra de terror japonês, um subgênero conhecido pelo grande foco no aspecto psicológico da experiência. Para isso, é fundamental manter o jogador em tensão constante, deixando-o imerso na sensação de que algo sinistro pode vir a qualquer momento. Embora haja alguns elementos formulaicos na aparição de fantasmas, o jogo consegue ser muito eficiente nesse fator, apresentando uma ambientação sombria fantástica.

Para que isso funcione, o aspecto mais fundamental é o design de som, sendo aconselhável o uso de fones de ouvido para melhor apreciar esse elemento. O principal elemento aqui são os ruídos, que são uma constante da experiência. Mesmo se o jogador ficar parado, não há um momento de silêncio: barulhos inexplicáveis advindos de não se sabe onde roubam a cena e as mudanças de tom fazem com que eles nunca sejam realmente ignoráveis.

Quando um fantasma de fato aparece, um efeito de estática de rádio bem forte e vozes macabras tomam conta do som, reforçando a sensação de medo e insegurança. Da mesma forma, quando o jogador consegue apaziguar os ânimos desses seres espectrais, a eliminação dos ruídos é feita de uma forma que a sensação de catarse e alívio por voltar a um estado de relativa tranquilidade é imensa.

Já no campo visual, o jogo opta por uma aparência bem escura, com pequenos elementos de iluminação (da lua) e um filtro granulado que dá à experiência a sensação de um filme recuperado do passado. Em alguns momentos, também são utilizados outros filtros (como o preto e branco) e efeitos, todos eles reforçando a sensação de estranheza e desconforto com a experiência.

O flash da câmera e a fragilidade do jogador

Embora o jogador tenha sob seu controle personagens frágeis, elas não são indefesas, pois contam com a ajuda da Camera Obscura. Essa ferramenta é capaz de fotografar os fantasmas e a exposição deles à luz serve como forma de causar dano e eliminá-los temporariamente. Já Choshiro possui em mãos uma lanterna que usa a luz da lua para ter um efeito similar ao das câmeras.

Além do carregamento do filme demorar bastante no início, um fator que pode ser reduzido com upgrades à base de pedras espirituais, o jogador fica à mercê da aparição dessas criaturas. Elas podem impedir o uso de portas para escapar, vir de trás das paredes, desaparecer e aparecer em outra posição, atacar em bandos e algumas ainda têm efeitos específicos que afetam a percepção do jogador, como um médico capaz de deixar a tela muito branca para enxergar corretamente.

Lidar com esses fantasmas raramente é uma experiência trivial na primeira vez, lembrando o jogador da sua fragilidade e exigindo bastante sua atenção. No início, os controles podem demandar um tempo para se acostumar com suas especificidades e até fazer alguns ajustes dependendo da preferência individual. A única ressalva, que é realmente um problema do jogo, é a detecção de objetos e criaturas que, em raras ocasiões, não é muito precisa, podendo resultar em falhas no combate que parecem injustas (e também alguns acertos incorretos).

A mecânica das fotos também dá ao jogador pontos que podem ser usados para comprar mais consumíveis, roupas adicionais e outros itens. Quanto melhor a qualidade das imagens, mais pontos podem ser obtidos, mas isso também acaba tendo uma sensação de risco e recompensa: esperar o fantasma se aproximar e até mesmo atacar pode render mais pontos, mas se ele sair do enquadramento da foto, o jogador estará totalmente vulnerável.

Outra mecânica que considero bem interessante é a forma como o jogo trata a aquisição de itens na exploração como um momento de risco. Em vez de simplesmente coletar os itens imediatamente, na maior parte do tempo o jogador tem que apertar e segurar o botão para que a personagem estique a mão até o objeto com o qual deseja interagir. Algo que pode, a princípio, parecer um incômodo desnecessário para algumas pessoas é também uma chance brilhante de adicionar tensão, sendo possível que mãos fantasmas apareçam para segurar o jogador, roubando aquele item, que talvez fosse um recurso bem útil naquele momento.

Ao longo do jogo, é possível encontrar upgrades para a câmera, como lentes alternativas com efeitos variados, pedras espirituais e itens consumíveis para restaurar a sua barra de vida. Além disso, também há vários documentos que explicam melhor detalhes da história dos personagens e da ilha, alguns dos quais aparecem após encontrar fantasmas que não atacam o jogador.

Por fim, gostaria de destacar que, embora o jogo tenha ficado bonito no Switch, a textura de alguns objetos do cenário ficou muito borrada, destoando da qualidade do resto. Também notei alguns pequenos problemas de performance no console, como quedas de frames ocasionais e algumas portas que demoram muito para abrir. Curiosamente, foi mais fácil notar esses problemas jogando na dock do que no modo portátil.

Um survival horror de alto nível

Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse é um survival horror de alto nível e uma recomendação fácil do gênero. Com uma ambientação muito polida de terror japonês e uma trama muito instigante, o quarto jogo da franquia Fatal Frame é uma experiência que gruda na cabeça e pode até tirar o sono de quem mergulha fundo no jogo.

Prós

  • Ambientação sombria no melhor estilo terror japonês mantém o jogador constantemente nervoso;
  • História intrigante recheada de mistérios e que explora aspectos psicológicos dos seus personagens;
  • Enfrentar fantasmas com a Camera Obscura é uma mecânica curiosa, cujas especificidades mantêm a sensação de fragilidade do jogador;
  • Design de som explora vários ruídos e vozes que reforçam a sensação de medo e também o alívio após o confronto com os fantasmas;
  • Belo uso de filtros que dão ao jogo uma aparência granulada e escura, deixando o jogador mais desconfortável com a exploração.

Contras

  • Em alguns momentos, a detecção de objetos e criaturas do jogo não é tão precisa quanto deveria;
  • Problemas pequenos de performance no Switch;
  • Algumas texturas dos ambientes ficaram muito borradas.

Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google