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Análise: Mato Anomalies (Switch) se inspira em clássicos modernos para (tentar) forjar sua identidade

As ideias são boas, porém subaproveitadas e ofuscadas pelos problemas de performance.

Mato Anomalies deixa bem claro que bebeu da fonte de clássicos modernos, em especial a série spin-off Persona, para criar um charmoso jogo em uma Xangai fictícia e neofuturística — no jogo, chamada de Mato. Porém, enquanto as ideias apresentadas são boas e interessantes, elas acabam subaproveitadas; para piorar, os problemas de performance acabam atrapalhando a experiência.

As anomalias de Mato

Mato é uma cidade colorida com suas luzes de neon, movimentada e, acima de tudo, cheia de mistérios que devem ser solucionados. É nesse ambiente de pegada “neon-noir” que conhecemos Doe, um detetive particular que, a pedido de Nightshade, uma de suas clientes, deve investigar uma carga suspeita que está prestes a aportar no cais de Mato.

No entanto, nosso detetive acaba parando em um local estranho, aparentemente desconexo da realidade, cheio de criaturas sobrenaturais chamadas de Bane Tides. Procurando uma rota de fuga, Doe encontra Gram, um misterioso xamã de poucas palavras cujo principal objetivo é eliminar esses seres nocivos. 

Uma vez de volta a Mato, depois de uma aula sobre Bane Tides e Lairs, como são chamadas as dungeons no jogo, Doe e Gram decidem formar uma dupla para desvendar esses mistérios da cidade e, de quebra, descobrir como eles estão ligados ao submundo dos negócios (e possivelmente dos crimes). A partir desse momento, a jogabilidade se divide em duas etapas: o detetive fica responsável por descobrir pistas em Mato, enquanto o xamã brande sua espada para lidar com as ameaças dos Lairs.

Doe e Gram, uma dupla dinâmica

Além de correr para cima e para baixo em Mato, Doe precisa também confrontar suspeitos em busca de informações sobre os alvos das investigações. Para isso, ele conta com uma útil ferramenta chamada de Mind/Hack, que o permite persuadir as pessoas em um estiloso jogo de cartas.

Com ideias inspiradas em jogos do gênero deckbuilding, Doe tem à disposição diferentes baralhos com cartas dos mais variados efeitos. A ideia por trás de Mind/Hack é simples: esvaziar a “energia mental” de quem está sendo confrontado para dar prosseguimento na trama, ao mesmo tempo que enfrenta também os demônios mentais que estão lá para atrapalhar a estratégia de Doe.

Contudo, apesar de ter o pretexto de colocar à prova um suposto raciocínio lógico do jogador, Mind/Hack acaba se tornando mais um exercício de saber quando usar as cartas do que quais cartas usar de fato em determinados momentos. Curiosamente, achei mais divertido sair perambulando por Mato em busca dos NPCs, completando quests e side quests, do que obter informações por meio do Mind/Hack.

Já nas Lairs, no controle de Gram, temos a típica exploração de dungeons, com eventuais encontros aqui e ali. Embora esses lugares contem com um visual caprichado, os desafios e puzzles não são muitos e as batalhas contra os inimigos são sempre pré-determinadas; ou seja, sempre terá um combate barrando o caminho — e os oponentes, infelizmente, não apresentam tanta variedade.


Mesmo com essa repetição que chega a beirar a monotonia, preciso admitir que gostei do sistema de batalha de Mato Anomalies. Cada personagem em campo, aliado ou inimigo, segue uma ordem de ação baseada em sua velocidade, tal qual preza um bom sistema de turnos.

Outro elemento peculiar, mas que achei interessante, é que os membros do grupo compartilham uma barra de HP única, dando, na minha opinião, uma repaginada nesse sistema explorado à exaustão em RPGs. Também gostei de várias skills terem cooldown, prevenindo que o jogador escolha a mais poderosa sempre.

Por fim, há ainda duas características que eu considero um mérito em Mato Anomalies: um sistema de fraquezas e resistências de aliados e inimigos e também uma árvore de habilidades. Esta, inclusive, varia de personagem para personagem e traz skills que aumentam não apenas seu potencial em combate, mas também trazem bônus passivo, como aumento no HP máximo individual, que, por sua vez, reflete no total do grupo.

Desse modo, mesmo que o sistema de combate não traga muito mais do que o básico em termos de funcionalidade, existem esses pequenos detalhes que, ao menos, tentam trazer um pouco mais de diversidade no "mais do mesmo". Talvez essa simplicidade possa não agradar muito aos jogadores mais exigentes, é verdade, mas, para uma diversão mais despretensiosa, Mato Anomalies consegue cumprir com esse propósito.

Uma charmosa e vibrante apresentação audiovisual ofuscada por problemas técnicos

Sinceramente falando, o que mais me chamou a atenção em Mato Anomalies não foram as mecânicas oferecidas ou a jogabilidade que lembra Persona, mas sim sua apresentação audiovisual ímpar. Explorar tanto Mato quanto as Lairs é incrivelmente prazeroso do ponto de vista estético, e a trilha sonora consegue deixar as coisas ainda melhores com suas inspirações no jazz. De quebra, podemos fazer carinho nos cãezinhos e gatinhos espalhados pela cidade — como não gostar de acarinhar os bichinhos no meio do caminho?

A história do jogo também não chega a ser rasa ou superficial, cumprindo com o seu papel de instigar a curiosidade do jogador e colocá-lo na expectativa do que está por vir. É verdade que sempre há alguns clichês aqui e ali e nem todos os personagens têm uma personalidade muito aprofundada, mas, de modo geral, é uma trama satisfatória. Para complementar, Mato Anomalies possui certas passagens que são exibidas como se fossem parte de uma história em quadrinhos, incluindo uma boa dublagem em inglês durante essas porções.


Infelizmente, Mato Anomalies sofre com sérios problemas de performance. Os eventuais "engasgos" e quedas de fps, por mais que não atrapalhem na jogatina como um todo, são irritantes o suficiente com o tempo.

Para completar, existe um excessivo uso de itálico para dar ênfase em trechos importantes do texto. Esse exagero chega a ser muito mais incômodo do que os eventuais deslizes aqui e ali na tradução para o inglês, já que uma mudança estilística no texto acaba chamando muito mais a atenção do que a ausência ou a grafia errada de uma palavra.

Recomendável apenas depois de correções

O problema maior de Mato Anomalies não está em sua tentativa de ser um "clone" simplificado de Persona, mas sim em seus problemas de performance — que, embora não prejudiciais à jogatina em si, conseguem testar a paciência de tempos em tempos — e ao uso excessivo de itálico nos textos. Mesmo sem muito a oferecer muito para o gênero, é um charmoso e estiloso RPG com uma trama capaz de instigar a curiosidade do jogador do início ao fim.

Prós

  • Apresentação audiovisual ímpar, tanto em Mato quanto nas Lairs;
  • História instigante, com certas passagens que parecem uma história em quadrinhos;
  • Árvores de habilidades e sistema de afinidades complementam os combates simples;
  • Dublagem em inglês satisfatória;
  • Várias quests e side quests disponíveis;
  • O Mind/Hack de Doe é interessante;
  • Podemos acarinhar cãezinhos e gatinhos.

Contras

  • Dungeons pouco elaboradas e extremamente lineares;
  • Pouca variedade de inimigos;
  • O jogo pode não agradar aos fãs mais exigentes de RPG;
  • Tanto o Mind/Hack quanto o combate nas Lairs poderiam ser melhor explorados;
  • Uso excessivo de itálico para enfatizar termos e expressões durante os diálogos;
  • Os problemas de performance irritam depois de um tempo.
Mato Anomalies — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Prime Matter

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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