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Análise: God of Rock (Switch) combina luta e ritmo em uma proposta altamente técnica e complicada

Este jogo de luta rítmica da Modus Studio Brazil oferece uma experiência distinta, mas não transmite bem os detalhes essenciais para os jogadores.

Desenvolvido pela Modus Studios Brazil, God of Rock é um jogo com uma proposta muito exótica: combinar luta e ritmo. A mistura de gêneros altamente técnicos e focados em reflexos rápidos e atenção oferece de fato uma experiência única, mas que pode ser complexa demais para a maior parte dos jogadores, mesmo os que já têm algum histórico nos gêneros.

Um torneio de luta e música

God of Rock conta a história de 12 músicos que acabam se envolvendo em um torneio de luta comandado pelo Deus do Rock. Logo de cara, é possível perceber nos personagens algumas inspirações, como King, que é baseado em Elvis Presley, embora nem todos sejam tão óbvios assim, especialmente para quem não conhece tão bem a indústria fonográfica.

Os modos de jogo incluem o tradicional “arcade”, assim como multiplayer local e online. No modo arcade, são apresentadas as ambições de cada um dos roqueiros, que se envolveram no torneio por motivos diferentes e possuem histórias pessoais curiosas. Embora isso não seja tão desenvolvido na trama, a introdução deles dá conta de apresentá-los muito bem.

Os seus traços de personalidade também são explorados nos diálogos antes e após as batalhas, sendo cada combinação de lutadores única na interação prévia. Infelizmente, não há legendas para esses momentos, apenas os menus e os vídeos de introdução de cada um no arcade. Como a dublagem é exclusivamente em inglês, isso enfraquece consideravelmente o aproveitamento desses diálogos, que são muito bem humorados e charmosos.

Misturando dois tipos diferentes de “batida”

O que torna God of Rock tão especial vem da sua proposta de misturar dois gêneros tão distantes, os jogos de luta e os de ritmo. A movimentação dos personagens entra no aspecto rítmico, retirando o controle direto e o substituindo por apertar os botões no timing das notas. A precisão é um fator importante aqui, sendo ela que define o dano causado e tomado pelos combatentes.

Mas só ter músicos se batendo sem o controle do jogador não seria o suficiente para fazer de God of Rock mais do que um “jogo rítmico com skin de luta”. Então, ele implementa especiais e ultras, assim como detalhes bem específicos do funcionamento de cada personagem para diferenciá-los e dar ao jogador mais possibilidades estratégicas como é típico de um jogo de luta.

Por um lado, os personagens são realmente bem diversificados em funcionamento e as suas especificidades tem impacto significativo nas mecânicas de combate. Por outro, esses detalhes são bem confusos para um novo jogador, já que o tutorial só cobre os aspectos comuns a todos e a lista de movimentos possíveis não explica as especificidades como tokens ativados por músicos específicos.

Pior ainda: essa escolha de game design implica em uma experiência extremamente complexa, mesmo para quem já tem familiaridade com os gêneros. É quase impossível para qualquer ser humano dar conta de todos os elementos importantes, especialmente com a barra de vida no topo da tela resultando em um ponto cego para o jogador, que precisa focar sua atenção na parte inferior, onde as notas estão chegando.
Embora seja possível se acostumar com a ideia de ativar ataques especiais no meio de uma sequência de notas, ter que notar a cor do ataque do oponente para realizar um reversal implica em um desvio de atenção muito complicado. O resultado é que God of Rock é uma experiência profundamente técnica e complexa, que demanda um esforço ainda mais significativo do que o habitual de ambos os gêneros (que já tendem a ser bastante técnicos e demandar precisão de movimentos).

Um mundo carismático

Como se trata de um jogo de ritmo, é claro que a música é um elemento crucial. A trilha sonora conta com 48 músicas explorando conceitos diferentes de rock, com composições de Tyson Wernli, Marina Ryan, DeBisco, Fotts e Whitetail. Há uma boa variedade entre elas e todas são excelentes para aumentar a adrenalina da batalha.

Apesar das músicas por padrão estarem associadas a uma espécie de playlist de cada estágio, com níveis de dificuldade específicos, o jogador também pode usar um editor para criar seu próprio beatmap. Apesar da ideia ser boa, o sistema é bem limitado na prática, já que é necessário entrar no modo simulação para escutar a música e não é possível compartilhar nossas criações com outros jogadores. Com esses dois detalhes, a criação se torna pouco prática e perde boa parte do sentido.

Já no aspecto visual, God of Rock tem um design de personagens e ambientes bem carismático. Há um belo uso de cores e um trabalho caprichado para deixar tudo com uma cara especial. Infelizmente no Switch a iluminação de alguns ambientes ficou bem escura, algo que inclusive me pareceu drasticamente diferente da versão de PC, que também joguei.

Um palco para poucos

God of Rock combina dois gêneros altamente técnicos em uma experiência complexa e bem difícil de dominar. Embora o jogo seja carismático e consiga oferecer uma boa variedade no conceito dos seus personagens, ele acaba falhando em fazer com que isso seja transmitido com sucesso para o jogador, que precisará se esforçar muito para entender vários elementos da gameplay. Mesmo assim, é um título que vale a pena para os jogadores que estiverem dispostos a enfrentar a enorme frustração até poder aproveitar essa excêntrica e única oportunidade.

Prós

  • Uma experiência única de jogo de luta rítmico;
  • Boa variedade de personagens jogáveis com impactos significativos nas mecânicas de jogo;
  • Trilha sonora composta por músicas de rock de alto nível com bons conceitos;
  • O visual de personagens e ambientes é bastante carismático.

Contras

  • É muito difícil para um ser humano prestar atenção em todos os elementos simultâneos do jogo;
  • Modo editor significativamente limitado;
  • Ausência de legendas nos diálogos pré e pós-batalha;
  • A explicação dos movimentos possíveis no menu não dá conta das especificidades de cada personagem;
  • A iluminação no Switch ficou bem escura.

God of Rock — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Modus Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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