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Análise: Pirates Outlaws (Switch): quando a qualidade vem pela quantidade

Lead: Uma gigantesca coleção de mais de 700 cartas capitaneia o conteúdo deste excelente roguelike de construção de baralhos.

Lançado originalmente para PC em 2019 e agora, em 2023, para consoles, Pirates Outlaws é uma mistura de roguelike com deckbuilding que conseguiu acertar no uso de uma máxima clássica, mas arriscada: quanto mais, melhor.


A parte prática da gameplay pode até ser massivamente limitada e linear, mas tudo o que cerca a ação estratégica do título da Fabled Game faz com que o pacote completo seja absurdamente viciante e diversificado.

Cartas e o alto mar: taí uma combinação curiosa

Como o próprio tutorial evidencia, não é nem um pouco difícil entender como giram as engrenagens de Pirates Outlaws: essencialmente, assumimos o controle de um intrépido capitão em múltiplas expedições para derrotar foras-da-lei e coletar recompensas. Seguindo a característica definidora de um roguelike, essas jornadas são relativamente rápidas e apenas uma parte do progresso é permanente, o que serve de incentivo para mais runs.




As aventuras seguem um trajeto vertical por um mapa recheado de lugares para atracar, em um total de três mapas por tentativa, com um chefão ao final de cada uma. Nossa embarcação é movida a Pontos de Ação (Action Points), que precisamos gastar para seguir em direção ao próximo destino. Caso o “combustível” acabe, o custo de deslocamento será em HP até que você consiga recuperar alguma quantidade de AP.

É claro que a alma da gameplay são os combates, que enfrentamos munidos de um baralho em constante evolução graças a uma impressionante coleção de 702 cartas, divididas em quatro categorias: corpo-a-corpo (Melee), ataque a distância (Ranged); habilidade (Skill); e maldição (Curse). Há ainda as relíquias, objetos equipáveis que não fazem parte do baralho e possuem efeitos variados, que podem ajudar ou atrapalhar dependendo das condições do seu personagem.




Parece bem direto ao ponto, mas vamos com calma, porque existem alguns fatores que influenciam no planejamento estratégico, como a mecânica de munição, que serve para pagar o custo de uso das cartas de ataque remoto e de habilidade; e a rotatividade das cartas na mão (de um máximo de 5) e do próprio baralho, que é embaralhado quando não há mais nada na pilha de compra.

As duas primeiras categorias de carta entram em sintonia com uma característica das batalhas, que alinha até três inimigos em uma fila, na qual apenas o mais próximo do seu personagem pode ser alvo de golpes corpo-a-corpo, enquanto todos eles podem ser afetados por cartas Ranged; já as habilidades são benéficas a você, e as maldições sempre resultam em problema, seja te prejudicando diretamente ou beneficiando os adversários.

Os tipos de território que compõem as trilhas dos mapas também desempenham um papel crucial na hora de decidirmos por onde navegar. Além das batalhas, podemos nos deparar com espaços de Evento, que nos incumbem de fazer algumas escolhas ou simplesmente jogam um efeito obrigatório; as Tabernas, onde podemos restaurar Pontos de Ação e HP, vender relíquias e remover cartas do baralho; e os Mercados, que disponibilizam a compra de novas cartas, relíquias e aprimoramentos para as cartas que você já tem.



Quem é esse bucaneiro?

Pirates Outlaws conta com 16 personagens (mais sobre eles adiante), cada um com mecânicas, pontos de vida, quantidade de munição e um baralho inicial diferente. Eles contribuem quase tanto para o fator replay quanto a gigantesca coleção de cartas, porque é divertidíssimo experimentar cada pirata e até mesmo escolher alguns para utilizar com mais frequência, dependendo do seu gosto pessoal.

A maioria desses aventureiros é desbloqueada por meio do acúmulo de Reputação, que você ganha ao progredir nas runs, mas alguns poucos só ficam disponíveis após o cumprimento de objetivos específicos. Quando a Reputação chega a 9999 (nem se preocupe, você nem vai ver o tempo passar), um Modo Difícil é desbloqueado, com inimigos mais fortes e ambientes mais severos.




Se liberar e desfrutar das particularidades de todos os 16 personagens não for o suficiente, você tem a opção de ir atrás de obter os trajes (skins) de cada um, que possuem apenas valor estético, mas não deixam de ser um pequeno incentivo pra jogar um pouquinho mais.

Um conteúdo que sinceramente não me entusiasmou são os outros dois modos de jogo além da Navegação, a Arena e a Briga na Taberna. Enquanto na Arena você escolhe uma única recompensa a cada vitória e enfrenta um chefão a cada 10 rodadas, a Briga na Taberna consiste em selecionar pacotes pré-montados de cartas para incrementar o baralho à medida que avançamos.

Uma hora o enjoo marítimo bate

Exatamente como eu falei no começo da análise, todo esse conteúdo consegue mascarar bem o fato de que Pirates Outlaws não tem absolutamente nada a oferecer além de batalhar, navegar e montar baralhos.




Não é como se isso não fosse o suficiente para manter o interesse por muitas e muitas horas, mas ainda assim houve momentos em que eu cansei de seguir o mesmo roteirinho básico. Bom, é nessas horas que a gente troca de jogo ou vai fazer outra coisa da vida, né? O joguinho vai continuar lá quando você quiser voltar a ele (o que, por experiência própria, provavelmente vai acontecer algumas vezes).

O estilo artístico em papercraft merece elogios, principalmente no design dos cenários e das cartas; já a trilha sonora é completamente dispensável, fique à vontade para escolher alguma coisa mais empolgante, quem sabe até um Piratas do Caribe.

Por fim, deixo aqui uma crítica que dá um cansaço só de pensar em escrever sobre: a ausência do português entre os idiomas do jogo — que, por sinal, só tem alemão e chinês entre as opções disponíveis além do inglês. Achei aleatório, ainda mais considerando que a publisher do jogo é espanhola.

Yo ho, e uma garrafa de coração das cartas




Não deixe a criatividade quase inexistente do modo de jogo principal te enganar: Pirates Outlaws vai te prender por um bom tempo em meio a possibilidades virtualmente infinitas de combinações de cartas e habilidades de personagens. Se roguelikes e deckbuilders estiverem entre seus gêneros favoritos, já vai se preparando para engatar uma run atrás da outra.

Prós:

  • Uma impressionante coleção de mais de 700 cartas, garantindo um fator replay monumental;
  • Os 16 personagens disponíveis, com características bem distintas uns dos outros, casam perfeitamente com as possibilidades virtualmente infinitas de montagem de baralho;
  • Para quem gosta de colecionar, cada personagem tem múltiplos trajes para desbloquear;
  • Bela arte em papercraft, principalmente nos cenários e nas ilustrações das cartas.

Contras:

  • A gameplay prática não tem absolutamente nada para se fazer além das batalhas;
  • Os modos de jogo além da Navegação não são tão empolgantes;
  • Trilha sonora completamente dispensável;
  • Ausência de português entre os idiomas disponíveis.
Pirates Outlaws - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela BlitWorks Games

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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